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Três vezes Lothar Charoux
Por Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
03/10/2005 | 08:20
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O artista plástico concretista Lothar Charoux (1912-1987) ganha esta semana um livro à altura de sua primorosa produção artística. Junto ao lançamento, quinta-feira na paulistana Dan Galeria, começa no local uma mostra de 60 obras inéditas. Além disso, outros 75 trabalhos dele podem ser vistos até domingo no MAM-SP (Museu de Arte M\oderna de São Paulo). Maria Alice Milliet, pesquisadora do movimento concretista brasileiro, é o nome por trás das três atividades. Ela é autora da publicação e assina a curadoria das exposições.

O livro Lothar Charoux – A Poética da Linha (Dan Galeria, 166 págs., formato 28cm x 23cm, R$ 100) é ítem indispensável na biblioteca de qualquer apreciador de artes visuais, já que é o único título sobre a obra deste austríaco que veio para o Brasil ainda jovem e por aqui ficou até a morte – de parada cardíaca, aos 74 anos.

O convívio com o tio escultor Siegfried Charoux em Viena (Áustria), onde Charoux nasceu, o início da carreira (marcada pela figuração), a relação do artista com os demais defensores do concretismo no Brasil e a maturidade artística figuram entre as informações do texto bem escrito por Maria Alice. E, é lógico, a publicação traz diversas reproduções de obras do artista – a maioria das fotos dos trabalhos é de autoria do andreense Sergio Guerini. A tiragem do livro é de 3 mil exemplares em português e 500 em inglês.

A linha mencionada no título do livro é o ponto alto da obra de Charoux. "Em plena maturidade artística, (Charoux) partiu para a redução máxima do desenho, considerando-o em sua essência: o traço. Um artista tem seu momento da verdade quando realiza a síntese de seu pensamento plástico. Esse momento chegou para Charoux em 1971", escreve Maria Alice. O austríaco certa vez disse: "Num trabalho, um traço pode bastar. E é necessário mais que isso?".

A mostra na Dan Galeria (Tel.: 3083-4600), intitulada Lothar Charoux: Obras Inéditas – Pinturas e Desenhos, conta com obras à venda entre R$ 15 mil e R$ 50 mil. A exibição tem entrada franca. No MAM (Tel.: 5549-9688) também são mostrados trabalhos sobre tela e sobre papel, além de objetos – ingressos a R$ 5,50; grátis no domingo. Na Dan, são composições dos anos 40 aos 70 e no MAM, dos 40 aos 80.

Lothar Charoux, que chegou ao Brasil (São Paulo) em 1928, foi um dos fundadores do movimento concretista brasileiro, em 1952, quando foi lançado o manifesto do grupo Ruptura e uma mostra no próprio MAM.

Os sete artistas do Ruptura (todos já mortos), entre eles Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e o andreense Luiz Sacilotto, criaram essa corrente estética marcada pela exploração do geometrismo, deixando o vigente figurativismo de lado. A proposta deu o que falar. Para muitos, aquilo não era arte.

 Demorou para que o concretismo tivesse no país o reconhecimento que lhe cabe. Mas hoje já são muitos os críticos a dizer que o movimento foi mais importante para o desenvolvimento da arte moderna no Brasil do que a Semana de Arte Moderna de 1922. Um dos fatores apontados é que nos anos 50 já havia um sistema em torno da arte, um circuito bem mais desenvolvido do que nos anos 20. Já existia, por exemplo, a Bienal de São Paulo (criada em 1951), importante evento de caráter internacional do qual Lothar participou diversas vezes.

Grande ABC – Lothar Charoux teve um certo relacionamento com o Grande ABC. Primeiro porque foi amigo e parceiro concretista de Luiz Sacilotto, outro grande nome das artes plásticas do século 20 no Brasil, nascido em Santo André.

"O Luiz (Sacilotto) e o Charoux foram amicíssimos. Charoux e sua mulher, Ondina, freqüentavam a nossa casa (no centro de Santo André), e nós a deles, em São Paulo, na Lapa", afirma Helena Adamastor Sacilotto, a viúva de Sacilotto, hoje com "70 anos e lá vai fumaça". "Os dois eram daquela mesma turma do concretismo, estavam sempre em casa. O Charoux era gente muito boa, simples. Comunicativo, mas não de falar muito", diz.

Charoux também participou de edições dos salões de arte de Santo André, São Bernardo e São Caetano. No de Santo André, foi premiado em duas ocasiões: em 1969, na segunda edição, com a obra Vibração, guache sobre papel; e em 1974, sétima edição, com Círculos e Quadrados, acrílica sobre papel. As duas composições integram o acervo municipal.

Em São Bernardo, Charoux e Sacilotto tiveram uma mostra no Centro Cultural do Bairro Assunção, em novembro de 1986, uma comemoração pelos seis anos da pinacoteca da cidade. Pouco depois, em fevereiro de 1987, Charoux morreu. Esta deve ter sido sua última exposição em vida – infelizmente essa informação faltou no livro.

"Tive contato com o Charoux por conta dessa exposição. Era um homem bonachão, atencioso, educado, de bom papo. Sobre a qualidade da obra dele, não é nem preciso falar. É de uma qualidade rara", diz João Delijaicov, 68 anos, conhecido como João dos Quadros, cabeça da Pinacoteca de São Bernardo desde a inauguração do museu. A pinacoteca tem uma obra de Charoux, uma serigrafia de 1982 também intitulada Vibração, trabalho doado pelo artista.




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