Setecidades Titulo
Enterro dos quatro irmãos pára bairro
Illenia Negrin e Tatiane Moreno
Especial para o Diário
15/01/2005 | 14:30
Compartilhar notícia


Duas mil pessoas acompanharam na manhã de sexta-feira o cortejo dos quatro irmãos que morreram soterrados na madrugada de quarta-feira na favela do Jardim Silvina, em São Bernardo. O enterro foi no cemitério Paulicéia. O clima não poderia ser pior. Tristeza e indignação marcaram o sepultamento das crianças, que tinham entre 6 e 11 anos. As outras quatro vítimas do deslizamento de terra tiveram velório relâmpago durante a madrugada no cemitério da Vila Euclides, em São Bernardo, antes de partir para o município de Souza, na Paraíba, onde seriam sepultadas neste sábado.

Ajoelhada no chão do cemitério e chamando pelo nome dos filhos, a mãe das quatro crianças enterradas em São Bernardo, Maurícia Souza Santos, 27 anos, precisou ser o tempo todo amparada por familiares e amigos. O pai, Gilson de Oliveira, 35, parecia não ter se dado conta da tragédia. "Só me restou a roupa do corpo. Agora, é tentar tocar a vida pra frente."

Os corpos de Roseane, 11 anos, Rai, 10, Jair, 8, e Joseane, 6, foram velados na garagem da casa de um parente da família. Às 10h45, o Jardim Silvina parou para ver o cortejo. "A gente que é mãe sente a mesma dor", dasabafa a doméstica Edna Silva Santos, 45 anos, que só conhecia as crianças de vista.

Os caixões foram levados ao cemitério em Kombis do Serviço Funerário Municipal. Quatro ônibus urbanos foram disponibilizados para transportar os familiares e amigos até o cemitério. Os pais das crianças mortas seguiram em uma ambulância.

Em meio à tristeza, as pessoas se mostravam indignadas com a tragédia. "A ajuda da Prefeitura tinha de vir antes. É uma dor que vai ficar para sempre em nossa mente e nos nossos corações, ainda mais por serem uma família só (Maurícia e Gilson são primos de segundo grau)", desabafa o pedreiro Ednilson José Ferreira de Souza.

Os corpos de Maria Cláudia Estrela de Oliveira, 23 anos, e de seus três filhos, Damiana, 6 anos, Wildenberg, 2, e Wigna, 10 meses, chegaram ao cemitério da Vila Euclides embalsamados e dentro de caixões lacrados por volta das 22h de quinta-feira. Cerca de cem pessoas, entre parentes e amigos, aguardavam no local.

O velório foi marcado pelo tumulto. Com a chegada dos caixões, pessoas próximas à família decidiram ajudar a funerária a transportar os corpos até a sala onde seriam velados. Por engano, um caixão vazio foi levado no lugar de outro em que deveria estar a filha mais nova de Maria Cláudia.

Os parentes ficaram indignados e culparam a funerária pelo ocorrido. "É uma falta de respeito colocar um caixão vazio para ser velado. Se fosse filho de vereador isso não acontecia", protestou o avô das crianças, Francisco Braga. O filho dele, José Braga, foi o único sobrevivente do deslizamento que vitimou a família. Internado por conta das múltiplas fraturas que sofreu, ele não acompanhou o velório dos filhos e da mulher. Até a noite de sexta-feira, Braga permanecia internado na UTI do Hospital São Bernardo.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;