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MP investiga caso de funcionário do BC morto em 91
Do Diário do Grande ABC
08/07/2000 | 14:07
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O Ministério Público Federal abriu inquérito para investigar o assassinato de um alto funcionário do Banco Central, Adilson Teles de Oliveira, que estaria envolvido num esquema de corrupçao, venda de informaçoes privilegiadas e favorecimento, movimentando dinheiro de propinas através de contas bancárias abertas com Cadastros de Pessoa Física (CPFs) falsificados.

``Meu marido foi assassinado por colegas do Banco Central, hoje eu nao tenho a menor dúvida', afirma, taxativamente, a viúva do funcionário, a professora Vera Lúcia de Barros Pereira e Oliveira. ``Eu sei que ele nao era santo, mas nao podiam ter feito o que fizeram. Preciso saber por que ele morreu, se foi um desentendimento com as pessoas que participavam do esquema ou outra coisa.'

Chefe do Sistema Especial de Liquidaçao e Custódia (Selic), serviço subordinado ao Departamento de Operaçoes do Mercado Aberto (Demab) do BC, Adilson - funcionário com 23 anos de carreira no banco - tinha quatro CPFs em seu nome. Três deles, todos emitidos na Bahia, sao falsos. O Ministério Público Federal já confirmou a multiplicidade de CPFs com a Receita Federal, que descartou a coincidência de nomes e atestou a falsificaçao.

Adilson chefiou a Divisao de Administraçao do Selic (a chamada Disel) de meados de 1990 até sua morte, aos 44 anos, em janeiro de 1991, num assalto até hoje nao esclarecido. O sistema, operado em conjunto com a Associaçao Nacional das Instituiçoes do Mercado Aberto (Andima), acompanha e registra as operaçoes com títulos públicos federais efetuadas entre os bancos no overnight. Sua importância é estratégica: uma movimentaçao mais intensa de venda de títulos por parte de um determinado banco é um indicador de dificuldades de caixa e o primeiro passo antes de se apelar ao redesconto - espécie de hospital no qual o BC empresta dinheiro os bancos que têm problemas para fechar sua contabilidade no fim do dia. A utilizaçao freqüente do redesconto evidencia que um banco está prestes a quebrar. Ou seja, a saúde financeira de cada instituiçao é controlada pelo BC no dia-a-dia, de modo a evitar uma reaçao em cadeia, no caso de quebra de um banco. Instituiçoes como o Nacional e o Econômico lançaram mao do redesconto repetidas vezes antes de irem à bancarrota.

Com o prévio conhecimento das taxas praticadas pelos concorrentes no Selic, as instituiçoes financeiras favorecidas pela informaçao teriam uma extraordinária oportunidade de lucro, através da compra e da venda de títulos públicos em transaçoes com bancos em dificuldades.

``Uma das secretárias do Adilson me contou, certa vez, que uma exigência do meu marido era que, todo dia de manha, fossem enviadas ao Bradesco e ao Itaú cópias da movimentaçao noturna do sistema', diz a viúva.

Além disso, como chefe da Disel, Adilson tinha acesso a todo o tipo de informaçao controlada pelo Demab, como posiçao das reservas de cada banco, entre outros dados.

``Na época do Plano Collor, ele chegou em casa com uma listagem de contas bloqueadas. Perguntei o que era aquilo e ele respondeu que tinha muito dinheiro que nao podia aparecer, de jogo do bicho, caixa dois', lembra Vera, que acredita que o marido tenha intermediado a liberaçao de aplicaçoes financeiras bloqueadas no início de 1990, no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

Vera aponta ainda outra funcionária do BC, Maria Christina Soares de Lima, como uma possível laranja do esquema. Maria Christina está movendo na Justiça uma açao de reconhecimento de paternidade - teria uma filha de Adilson - e, na petiçao, apresentou documentaçoes com dois CPFs. Maria Christina negou a duplicidade, mas a Receita Federal confirmou ao Ministério Público que ambos os documentos estao no cadastro ativo.

Embora tenha considerado estranha a duplicidade de cadastros, a viúva só passou a suspeitar de que o assalto teria sido forjado quando recebeu um bilhete manuscrito com a relaçao de quatro CPFs, em meados de 1996. Além do cadastro verdadeiro de Adilson, que encabeçava a lista, havia dois registrados na zona rural do município de Alcobaça, no litoral sul da Bahia, e um emitido em Valença, cidade localizada a 272 quilômetros da capital Salvador. Nos dois de Alcobaça, nao consta sequer o nome da mae do titular, e as datas de nascimento sao idênticas: 25 de junho de 1951.

``Vinte e cinco de junho é o dia do meu aniversário', informa o arquiteto Alexandre Teles de Oliveira, 37 anos, irmao de Adilson e ex-funcionário da Andima, que trabalhava na operaçao dos computadores do Selic, no Banco Central, no turno da noite, na época do crime.

Quanto ao terceiro CPF, a viúva do executivo do BC aponta o nome da mae indicado no cadastro, Adalgisa Pereira Teles, como uma alusao ao seu próprio sobrenome (Pereira) e à Rua Adalgisa Aleixo, em Bento Ribeiro, subúrbio do Rio, onde Adilson passou a infância.

A procuradora da República encarregada das investigaçoes, Mônica Campos de Ré, notificou a Superintendência Regional da Receita na Bahia para que apure a falsificaçao dos cadastros. Ela revelou que há um esquema de emissao de CPFs irregulares naquele estado. ``Outras pessoas investigadas por lavagem de dinheiro em inquéritos do Ministério Público Federal têm CPFs falsos emitidos lá', disse.




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