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Fiado ainda resiste à moeda de plástico
Por Alexandre Melo
Do Diário do Grande ABC
11/10/2010 | 07:01
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Basta faltar algum alimento ou produto de limpeza em casa que a auxiliar de escritório Vanda Faria, 50 anos, atravessa a rua vai ao Mercado Ferreira. Ela compra o que precisa e marca o valor para pagar no mês seguinte.

Essa relação começou há seis anos, nas idas matinais para buscar o pão, logo depois a família que gerencia o mercadinho abriu uma conta para Vanda. Todo mês ela gasta cerca de R$ 300, ou às vezes mais quando está "apertada".

Mesmo com o dinheiro de plástico (os cartões), pequenos varejistas ainda mantêm vivo o hábito de marcar na caderneta. Pesquisa da empresa Data Popular divulgada em fevereiro mostra que na classe D, 45% das pessoas compraram fiado nos últimos seis meses. Na C o número foi de 27% e nos estratos abastados da A/B chegou a 6%.

Segundo o diretor de economia da Apas (Associação Paulista de Supermercados), Martinho Paiva Moreira, 20% do pequeno varejo, que tem até três dois caixas, usa essa modalidade de crédito. "Isso sempre existirá, pois o consumidor de baixa renda é amigo do dono da mercearia, que não tem instrumento eficaz para dar crédito."

A gerente do mercado que Vanda é cliente, Eliane Machado Ferreira, 34, diz que as vendas marcadas no caderno são 15% do faturamento. No passado, esse percentual foi quase um terço das vendas. Metade dos clientes paga a conta quinzenalmente e a por mês.

Para evitar o calote, a estratégia é ter um contrato simbólico com os clientes que têm conta. Não pagar em dia implica em multa de 3% do valor total da dívida. "Se atrasar três vezes para que o cliente não terá mais crédito conosco", salienta Eliane, que não abre novos cadastros para venda fiada.

Outro detalhe é que produtos do açougue e cigarro não podem ser marcados na caderneta. A gestora aponta que medidas como essas fazem com que a inadimplência fique abaixo de 2%.

FIDELIDADE
Vanda costuma ir ao mercadinho três vezes por dia, dependendo do que faltar na dispensa de casa. "Além de ser perto, os donos são atenciosos." Há 20 anos, parte dos moradores do Jardim do Estádio, em Santo André, penduram as compras no mercado, que antes era um bar.

O executivo da Apas afirma que nem mesmo o avanço das redes líderes com formatos de vizinhança conseguem desbancar as mercearias de bairro. "Se o dono oferecer preço justo e serviço adequado não terá grande rede que roubará seu cliente."

Comerciantes da região planejam ter cartão próprio
Depois de vender fiado durante dez anos, o comerciante Aparecido Cardoso aboliu a caderneta e o cheque pré-datado do negócio. O Supermercado Cardoso, na Vila Magini, em Mauá prepara o lançamento do cartão próprio para oferecer como instrumento de crédito aos clientes. "Renovamos equipamentos e avaliamos parceria com Bradesco ou HSBC."

Esse também é o plano para 2011 da empreendedora andreense Inês Dizero Selicani, Ela gerencia há 15 anos a Avícola Santa Lúcia, que comercializa legumes, verduras e alimentos semi-prontos. "As compras marcadas na caderneta são 10% do faturamento e a inadimplência é muito baixa." Inês mudará o comércio para um local maior e contratará ao menos seis funcionários, totalizando oito. Lá os clientes terão açougue e padaria.




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