Política Titulo Editorial
Túmulo do samba
Por Do Diário do Grande ABC
22/02/2020 | 10:19
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Faz quatro anos que as escolas de samba silenciaram seus tamborins no Grande ABC. Totalmente dependente de recursos públicos, o Carnaval regional foi, em 2020, novamente eclipsado pelo discurso oficial de moralização de gastos. Com uma ou outra variação, a pergunta se repete. Deve-se gastar dinheiro com diversão se saúde, educação e segurança ainda não são universais? Como se a maior manifestação cultural popular não fosse, em municípios com algum planejamento, fonte de geração de renda. O que falta é capacidade de transformar a Folia em negócio.

Este Diário, que se encaminha para os 62 anos de atuação ininterrupta e apaixonada pelo Grande ABC, defende já há muito tempo a unificação do Carnaval. A proposta é, com o patrocínio da iniciativa privada, reunir as principais agremiações das sete cidades em um único lugar, profissionalizando os desfiles, a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro ou na Capital, destino do dinheiro dos moradores da região privados de gastá-lo por aqui nos quatro dias de Folia.

Acostumadas com o financiamento das prefeituras, cujos titulares sempre recorreram à prática para manter os barracões sob suas influências políticas, as escolas de samba da região deixaram de fazer a lição de casa. Não se habilitaram para sobreviver sem o dinheiro fácil dos cofres públicos, a ponto de se inviabilizarem quando, de uma hora para outra, a torneira secou.

Recuperar o tempo perdido é possível, mas se tornou muito difícil. Hoje a cultura, especialmente a popular, tem sofrido ataques diretos da classe política, inclusive de Brasília – de onde, esperava-se, deveria vir o incentivo a manifestações genuinamente nacionais. O argumento populista, temperado com pitadas de falsa moral, encontra respaldo imediato na sociedade. Utilizar o discurso de austeridade com o dinheiro público para justificar a não promoção do Carnaval deveria constranger os gestores. Nesta época disruptiva, todavia, há quem se jacte dele. E assim, paulatinamente, o Grande ABC vai tomando emprestado da Capital o epíteto de túmulo do samba. 




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