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Mudança cambial faz FHC depender de apoio no Congresso
Do Diário do Grande ABC
16/01/1999 | 15:15
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Depois da mudança cambial, o presidente Fernando Henrique Cardoso passou a depender ainda mais do apoio político de seus aliados no Congresso para restabelecer a credibilidade do Brasil no exterior.

A aprovaçao do ajuste fiscal pelo Congresso, a CPMF no Senado e a contribuiçao dos servidores públicos inativos na Câmara, com votaçao prevista para esta semana, é considerada fundamental para restabelecer a confiança no país. Mas ainda nao será desta vez que o presidente terá o apoio da oposiçao. A oposiçao cobra mudanças na política econômica e quer transformar a reuniao de governadores, segunda-feira, em Belo Horizonte, no início de um amplo debate sobre a política econômica na sociedade.

Um integrante do governo disse neste sábado que com o câmbio flutuando livremente o Brasil se tornará mais vulnerável ainda aos humores do mercado de capitais e, por isso, os líderes aliados nao podem vacilar durante as próximas votaçoes. "Nós temos que aprovar o ajuste fiscal. A necessidade de equilibrar as contas públicas continua", afirmou o líder do governo na Câmara, deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP). O clima de incerteza criado pela desvalorizaçao do real em relaçao ao dólar, segundo os aliados, deve funcionar como um fator de coesao da base parlamentar dos partidos que apóiam o governo - PSDB, PFL, PPB, PTB e PMDB.

Urgência - "O Brasil está correndo risco e isto contribui para ampliar a nossa capacidade de mobilizaçao", disse o líder do PMDB, deputado Geddel Vieira Lima (BA). Os partidos aliados pretendem aproveitar o momento, especialmente com a alta nas Bolsas de Valores, para fechar o apoio ao ajuste durante reunioes com suas bancadas na Câmara, marcadas para terça-feira. 'O governo precisa votar o ajuste fiscal o quanto antes``, defende o ex-líder do PSDB, deputado José Anibal (SP). Mas nem todos compartilham da mesma euforia.

O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, considera recomendável uma atitude de cautela até que se possa avaliar, de fato, o sentimento do Congresso diante das mudanças do câmbio. "Nao dá para termos força mediúnica sobre acontecimentos políticos e econômicos" ."A liberaçao do câmbio surpreendeu favoravelmente na sexta-feira, mas vamos aguardar para sentir o pulso político do Congresso", afirmou Bornhausen. Os temores se justificam pois um dos subprodutos da mudança cambial, segundo membros do governo, deve ser o aumento, ainda nao dimensionado, da inflaçao e do desemprego.

Os partidos de oposiçao vao aproveitar o momento de fragilidade do governo para denunciar a política econômica. "O país é outro, foi um erro o Fernando Henrique ter escondido a crise durante a campanha eleitoral. Nós nao temos mais governo, eles perderam o controle da situaçao", disse o presidente do PT, José Dirceu. Para os partidos de oposiçao o Plano Real está esgotado e as mudanças em curso vao resultar na perda do valor dos salários, a falência de empresas e desemprego. "A crise é uma oportunidade para o país mudar", disse Dirceu.

A reuniao dos governadores desta segunda-feira será transformada pelos líderes partidários da oposiçao no marco inicial de uma mobilizaçao nacional por mudanças. "Nós vamos abrir um debate nacional por mudanças que ponham um fim na abertura econômica irracional, nas privatizaçoes e nos juros altos", afirmou o presidente do PT. Os petistas nao concordam com a tese de se formar uma "coesao nacional" para tirar o país da crise, como defendeu Ciro Gomes, do PPS, e prometem fazer oposiçao ao ajuste fiscal. "Nao podemos concordar com este ajuste fiscal perverso, o que o país precisa é de uma alternativa à política econômica", afirmou o deputado José Genoíno (PT-SP). Malan - Os aliados nao precisam dos votos da oposiçao para aprovar o ajuste e têm maioria necessária para isso. Mesmo assim, os líderes dos partidos do governo nao estao tranqüilos. Uma das preocupaçoes permanentes entre os governistas é com a situaçao do ministro da Fazenda, Pedro Malan. Todos concordam que o ministro saiu fragilizado da reviravolta na política cambial, muitos querem seu afastamento do governo, mas nesse momento é unânime o medo das conseqüências de sua saída. Um interlocutor freqüente do presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu que o ministro ficou numa situaçao difícil, pois a política que ele coordenou se esgotou. Mesmo assim, este auxiliar do presidente diz que esta nao é a hora de se tirar ninguém do governo, porque qualquer mudança de ministro agora introduziria mais nervosismo no mercado. Esta também é a avaliaçao de muitos políticos aliados. 'A política econômica nao é estática, nao é uma ciência exata, e deve ser adaptada às circunstâncias``, disse o líder do PSDB no Senado, Sérgio Machado (CE), que nao vê razoes para que Malan deixe o governo.




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