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Preocupação dos bispos e do povo
Por Dom Pedro Cipollini
01/04/2019 | 07:00
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 Estamos vivendo momento nacional inquietante. Após as eleições, que despertaram esperanças, vivemos um suspense pelo destino que nos espera. Mas se há coisa mais forte que o destino, é a coragem, que, inabalável, suporta o destino, procurando mudar seu curso.

Semana passada teve lugar a reunião da direção da CNBB, a Conferência dos Bispos do Brasil, organismo da Igreja Católica. Como a evangelização, principal preocupação da Igreja, não pode ser exercida sem levar em conta as pessoas, a preocupação com o momento nacional que atravessamos se fez presente. Assim surgiu a ideia de enviar ao nosso povo uma mensagem. Como fui um dos redatores desta mensagem, peço licença para compartilhar com vocês, meus caros leitores, o que ali refletimos:

“Nós, bispos do Conselho Permanente da CNBB, reunidos em Brasília, Distrito Federal, nos dias 26 a 28 de março de 2019, assistidos pela graça de Deus, acompanhados pela oração da Igreja e fortalecidos pelo apoio das comunidades eclesiais, esforçamo-nos por cumprir nossa missão profética de pastores no anúncio da boa-nova de Jesus Cristo e na denúncia de acontecimentos e situações que se opõem ao Reino de Deus.

A missão da Igreja, que nasce do Evangelho e se alimenta da Eucaristia, orienta-se também pela doutrina social da Igreja. Esta missão é perene e visa ao bem dos filhos e filhas de Deus, especialmente dos mais pobres e vulneráveis, como nos exorta o próprio Cristo: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes pequeninos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). Por isso, nosso olhar se volta para a realidade do País, preocupados com propostas e encaminhamentos políticos que ameacem a vida e a dignidade dos pobres.

Dentre nossas atuais preocupações, destaca-se a reforma da Previdência – PEC 06/2019 – apresentada pelo governo para debate e aprovação no Congresso Nacional. Reafirmamos que “o sistema da Previdência Social possui uma intrínseca matriz ética. Ele é criado para a proteção social de pessoas que, por vários motivos, ficam expostas à vulnerabilidade social (idade, enfermidades, acidentes, maternidade…), particularmente as mais pobres. Nenhuma solução para equilibrar um possível deficit pode prescindir de valores éticosociais e solidários” (Nota – março/2017).
Reconhecemos que o sistema da Previdência precisa ser avaliado e, se necessário, adequado à seguridade social.

Alertamos, no entanto, que as mudanças contidas na PEC 06/2019 sacrificam os mais pobres, penalizam as mulheres e os trabalhadores rurais, punem as pessoas com deficiência e geram desânimo quanto à seguridade social, sobretudo nos desempregados e nas gerações mais jovens. O discurso de que a reforma corta privilégios precisa deixar claro quais são esses privilégios, quem os possui e qual é a quota de sacrifício dos privilegiados, bem como a forma de combater a sonegação e de cobrar os devedores da Previdência Social. A conta da transição do atual regime para o de capitalização, proposto pela reforma, não pode ser paga pelos pobres. Consideramos grave o fato de a PEC 06/2019 transferir da Constituição para leis complementares regras previdenciárias como idades de concessão, carências, formas de cálculo de valores e reajustes, promovendo desconstruções da Constituição Cidadã (1988).

Fazemos um apelo ao Congresso Nacional que favoreça o debate público sobre essa proposta de reforma da Previdência que incide na vida de todos os brasileiros. Conclamamos as comunidades eclesiais e as organizações da sociedade civil a participarem ativamente desse debate para que, no diálogo, defendam os direitos constitucionais que garantem a cidadania para todos.

Ao se manifestar sobre estas e outras questões que dizem respeito à realidade político-social do Brasil, a Igreja o faz na defesa dos pobres e excluídos. Trata-se de um apelo da espiritualidade cristã, da ética social e do compromisso de toda a sociedade com a construção do bem comum e com a defesa do Estado democrático de direito.

O tempo quaresmal, vivido na prática da oração, do jejum e da caridade, nos leva para a Páscoa, que garante a vitória, em Jesus, sobre os sofrimentos e aflições. Anima-nos a esperança que vem de Cristo e de sua cruz, como ensina o papa Francisco: “O triunfo cristão é sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal” (Evangelii Gaudium, 85).

Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, interceda por todos os brasileiros e brasileiras!




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