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Demanda por GNV aumenta até 350% após alta na gasolina

Economia ao abastecer com gás natural chega a 53,7% ante o combustível fóssil

Soraia Abreu Pedrozo
Flavia Kurotori
25/09/2018 | 07:06
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Celso Luiz/DGABC


Com a disparada no preço da gasolina observada nos últimos meses, os motoristas estão recorrendo cada vez mais ao GNV (Gás Natural Veicular), cujo custo pode ser até 53,7% menor se comparado ao derivado do petróleo. Para se ter ideia, em estabelecimentos da região a procura para conversão do veículo aumentou até 350%.

É o caso da Convert Gás, de São Bernardo, que no início do ano realizava dez instalações por mês e, agora, chega a 45. “A demanda quadruplicou, principalmente por conta do aumento do desemprego, que fez com que muita gente se tornasse motorista de aplicativo, E acredito que deve crescer mais a partir do mês que vem, pois a safra da cana-de-açúcar chega ao fim, e o preço do etanol sobe. As pessoas não aguentam mais deixar boa parte do salário nos postos de combustível”, afirma o proprietário Renan Ribeiro, que está no negócio há três anos e nunca viu tanto movimento. “Para que eu dê conta, porém, preciso contratar. Tinha dois mecânicos até o ano passado, neste ano ampliei para cinco e preciso admitir mais um para conseguir chegar a média de 60 instalações por mês.”

Na SOS Convertedora, em Santo André, o aumento chegou a 300% nas instalações no período. “(A instalação) Sempre vale a pena, a diferença é o tempo em que a pessoa terá o retorno do valor investido”, explica o proprietário Cristiano Martins dos Santos. E isso depende do gasto que tinha antes, com gasolina e etanol, e do que tem agora, com GNV.

O motorista de aplicativo André Pache, 53, de Santo André, investiu R$ 3.350 na instalação do kit gás há cerca de um mês, e já viu diferença. “Eu gastava cerca de R$ 60 por dia para abastecer com etanol, o que dava uns R$ 1.500 por mês. Agora, desembolso R$ 28 por dia, o que vai dar uns R$ 750 no mês. Acredito que em cinco meses terei recuperado o investimento. A partir de então vou sentir a economia no bolso”, conta ele, que exerce a profissão há seis meses, depois de perder o emprego como motorista de uma ONG.

GREVE AJUDOU - Na Oficina de GNV, em São Caetano, o sócio Matheus Henrique Joaquim destaca que, após a falta de combustíveis durante a greve dos caminhoneiros, em maio, a demanda também aumentou.

Quem depende do carro para trabalhar, principalmente, passou a temer nova paralisação e decidiu ter mais uma opção, mais segura – o gás vem por tubulação –, o que impulsionou a demanda.

Em sinergia, Wagner de Souza, presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados Petróleo do Grande ABC), aponta que a procura pelo GNV vem aumentando nos postos da região, sem estimar números. “Principalmente depois que a Petrobras mudou a política de preços, cresceu muito a venda do gás e do etanol.”

Vale destacar que o valor do m³ do gás natural, hoje em R$ 2,44 no Grande ABC, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo), levantados pelo Diário, sofre reajustes trimestrais conforme a cotação do dólar (que ontem voltou a subir e encerrou cotado a R$ 4,08), uma vez que o País é abastecido pela Bolívia. O da gasolina, para se ter ideia, gira em torno de R$ 4,39.

Renato Romio, chefe da divisão de motores e veículos do centro de pesquisa do Instituto Mauá de Tecnologia, lembra que há dez anos o GNV era comum, entretanto, seu preço aumentou muito, deixando de ser vantagem ante a gasolina. “Hoje, dificilmente isso irá acontecer, porque a oferta do GNV tende a aumentar com o pré-sal, fazendo com que os preços do gás permaneçam menores”, avalia.

Para saber se vale a pena converter o carro para receber o gás natural, é preciso considerar que, em média, veículo que faz 10 km/L (quilômetros por litro) na gasolina fará, no GNV, pelo menos 12 km/L. Assim, um motorista que roda 50 quilômetros por dia de segunda a sexta-feira, irá gastar R$ 439 por mês com gasolina, ante R$ 203,20 com GNV – economia de 53,7%.


Apesar de benefícios, há gastos extras

Antes de converter seu veículo para rodar com GNV, o especialista da Mauá, Renato Romio, salienta que é necessário considerar o valor para instalação do kit no veículo, dado que os preços variam de R$ 3.350 a R$ 6.500. “É preciso fazer as contas para saber em quanto tempo a pessoa irá obter o retorno dessa quantia. Se for demorar quatro anos, não vale a pena”, pondera. “Tudo isso depende do tanto que a pessoa roda. Para um taxista ou motorista de aplicativo vale a pena”, exemplifica.

Outro ponto a ser considerado é a documentação, que gira em torno de R$ 700, e a vistoria anual. Além disso, tem a manutenção, já que após 10 mil quilômetros é necessário trocar o filtro (em média, R$ 400, mas em alguns casos, é incluso na garantia) e, após 40 mil quilômetros, é preciso realizar a limpeza do sistema (cerca de R$ 120).

Romio assinala que, no caso de veículos novos, é preciso verificar se há perda de garantia ao converter para receber o gás natural. Ainda, é necessário avaliar a logística de abastecimento. “Não são todos os postos que possuem o GNV, então é preciso analisar se no caminho da pessoa há possibilidade de abastecer.”

De acordo com o motorista de aplicativo andreense André Pache, este é um dos pontos negativos. “No Grande ABC ainda há gama de opções, mesmo sabendo que não são todos os postos de disponibilizam GNV. Em São Paulo é mais complicado”, pondera. “E isso é muito importante, pois o cilindro é bem menor do que o tanque do carro, então se antes eu abastecia a cada dois dias com o etanol, hoje uma vez por dia estou no posto.”

DESEMPENHO - Além disso, alguns modelos mais antigos podem desgastar a válvula de ignição do motor. “Com os kits mais recentes, não há este problema, pois há injeção de 20% de combustível na válvula, evitando o desgaste”, pontua. “Neste caso, os veículos flex são mais resistentes”, completa.

Pache estima que, em subidas, o desempenho de seu Renault Logan a gás seja uns 5% menor. “Mas, fora isso, é tudo igual. E a diferença no bolso faz esses detalhes valerem a pena. Estou muito satisfeito com a minha escolha.”


Gasolina encarece R$ 0,80 em um ano

Encher o tanque com gasolina nos postos do Grande ABC ficou 22,28% mais caro em um ano, isso porque o preço do litro do combustível encareceu R$ 0,80 no período, passando de R$ 3,59 para R$ 4,39, conforme levantamento semanal realizado pela ANP.

Segundo Wagner de Souza, presidente do Regran, o aumento se deu por conta da mudança da política de preços da Petrobras, iniciada em julho do ano passado. Além disso, o reajuste do PIS/Cofins, de R$ 0,38 para R$ 0,79, em 2017, e o ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), cuja alíquota de 25%, embora não tenha aumentado, oscila de acordo com o preço médio do derivado do petróleo.

Nos últimos 12 meses, o etanol encareceu 6,88% – passando de R$ 2,47 para R$ 2,64 (R$ 0,17). Já o preço do diesel ficou 12,82% maior, subindo de R$ 3,12 para R$ 3,52 (R$ 0,40).

Se comparado com o mês passado, quando a gasolina custava R$ 4,24, houve incremento de 3,53%. Conforme Souza, o acréscimo foi por conta dos reajustes praticados pela estatal, que, mesmo tendo dado até 15 dias para reajustar o preço, tem corrigido os valores em espaço menor de tempo.

Simultaneamente, o valor do etanol encareceu 6,88% frente a agosto, de R$ 2,47 para R$ 2,64. “É a lei da oferta e da procura. Como a gasolina está mais cara, o consumidor recorre ao etanol, o que o encarece”, afirma Souza.
 




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