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DJ de Diadema ‘consagra’ a periferia
Por Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
10/01/2005 | 15:47
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Scratch, pick-up, mixer, hip hop e funk figuram entre os termos que mais povoam e ecoam na mente de Adriano Adalberto da Silva, 21 anos, nascido, criado e morador do bairro Eldorado, periferia de Diadema. Hoje ele é mais conhecido como DJ Tano, sujeito que sabe como fazer a pista “bombar”, bicampeão do Hip Hop DJ – considerado o mais importante campeonato de discotecagem da América Latina.

Tano se envolveu com a música ainda moleque. “Descobri minha caminhada fuçando em um aparelho de som 3 em 1. Em 1997, descolei uma pickup (toca-discos) usada e antiga e comecei a tocar em festinhas na quebrada (gíria que significa bairro, comunidade)”, diz. Atualmente, ele tem dois pares de pick-ups, e das modernas. Ganhou um par em 2003 e outro em 2004, prêmios pelas duas vezes em que venceu o Hip Hop DJ. Duas ficam em casa e servem para ele treinar; as outras duas, usa em eventos.

Mas antes de vencer o campeonato, ele já havia se posicionado bem na disputa: em 2001, ficou em 2º lugar e ganhou um mixer (aparelho que controla por exemplo volume, graves e agudos das pickups); um ano depois, foi o 3º colocado e levou para casa outro mixer.

O 3 em 1 do começo da trajetória do DJ foi comprado em 1978 pelo pai dele, Adalberto, 59 anos. “O aparelho quebrou, não teve como consertar, então foi para o lixo. Mas arrumamos um outro idêntico, que vai funcionar”, diz Tano. Já a pick-up velha foi preservada, e funciona. Como são peças que remetem ao início da carreira do DJ, não são dispensadas.

O pai de Tano explica que o início de tudo se deu mesmo com Edilson, 25 anos, o filho do meio. “Ele que começou com o negócio de DJ, depois desistiu. Na verdade, o Adriano (Tano) que foi tomando conta.”

Na casa simples da família em Diadema moram ainda o outro irmão do DJ, Edmilson, 27, e a mãe, Bela, 59. Edilson é office-boy; Edmilson, auxiliar administrativo, e a mãe,

dona de casa. Enquanto Tano manda ver no som em um quarto em separado nos fundos do terreno da casa, o pai toca o boteco instalado na frente da residência.

Novos lugares – Tano hoje tem “emprego fixo” como integrante do grupo Z‘África Brasil. Por conta do envolvimento com a música, não teve outro tipo de trabalho.  Acreditou e investiu no talento que tem e está se dando bem – sempre contou com o apoio da família.

Na casa noturna Dynamo, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, o DJ se apresentou de outubro a dezembro do ano passado periodicamente ao lado do DJ Meio Kilo, também do Z‘África Brasil. Conforme Tano, a atividade foi interrompida pelo fato de o local estar em reforma.

Antes de começar a discotecar, o único Estado que ele conhecia era São Paulo. “A música me levou a novos lugares, como Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais”, diz.

Nas pick-ups, Tano ataca de hip hop e de música eletrônica. No próximo dia 15, no entanto, ele deve mostrar uns sons diferentes em Sorocaba (SP), na festa de casamento de um primo. “Desde 1998 não toco em festas”, afirma.

Habilidade – Para quem pensa que DJ é aquele que simplesmente coloca uma música atrás da outra, presenciar uma performance de Tano é uma boa dica para entender melhor o trabalho. O DJ parte de músicas e bases instrumentais gravadas, mas funde uma na outra, na hora. Tem de ter habilidade, pensamento rápido e sentimento,

ouvido bom. Não é fácil, e se errar, tem de agüentar a reclamação do público.

Tano se apresenta com certa freqüência no Grande ABC, em eventos promovidos pela Casa do Hip Hop de Diadema, onde ele estudou discotecagem em 1999 e 2000 com o DJ Dri. Em 2001, já dava aulas voluntariamente no local.

Aos interessados em conhecer o trabalho do DJ, é bom não perder tempo. Assim como ocorre com jogador de futebol brasileiro bom, DJ competente em geral também

marca presença na Europa. Ainda não há nenhum compromisso nesse sentido, mas que ninguém estranhe se em breve ele partir para o exterior para mostrar seus scratches – termo que significa arranhar o disco de vinil; não riscar, mas sim movimentar para a frente e para trás no sentido dos sulcos, gerando novas sonoridades.



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