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Livro fala da batalha conhecida como Revolução dos Boys
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
26/10/2009 | 07:00
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O regime militar agonizava, mas ainda dava sinais da conhecida truculência. No Grande ABC, metalúrgicos paravam as fábricas, sob a liderança de um torneiro mecânico que anos mais tarde seria alçado pelo voto direto à Presidência da República. Foi nesse contexto que, em 14 de setembro de 1979, cerca de 1.000 jovens enfrentaram a polícia na região central de São Paulo, em violento episódio narrado no livro Revolução dos Boys - A Face Oculta da Cidade, do jornalista e sociólogo Gilberto Lobato Vasconcelos, o Giba.

Os office-boys adolescentes, com idades entre 14 e 16 anos, prestaram solidariedade à greve promovida pelo Sindicato dos Bancários, que havia sofrido forte repressão policial no dia anterior. Por volta das 13h, saíram em passeata, xingando os militares e quem não tinha aderido à paralisação.

Munidos de paus, pedras e tudo o que encontrassem pela frente, depredaram fachadas de bancos, orelhões e luminárias. Conforme noticiaram os jornais na ocasião, o temido Dops (Departamento de Ordem e Política Social) realizou 164 detenções. Após terem sido registrados como subversivos, os menores foram liberados.

"É um fato histórico que ficou totalmente marginalizado. Os jornais na época não entenderam o que estava acontecendo. Alguns tentaram desmoralizar os office-boys, chamando-os de pivetes. A imprensa só deu voz aos poderosos, para quem os boys eram trombadinhas a serviço do comunismo internacional", afirma Giba.

Presente à batalha campal, o autor conta que moradores de prédios ajudaram os manifestantes arremessando cinzeiros, bobinas de máquinas de calcular e até cadeiras contra os policiais.

"Os boys tinham a vantagem de conhecerem bem as ruas. Aquela era a área deles", destaca o autor.

Discriminados pela direita, os garotos tampouco contaram com a compreensão de líderes políticos de esquerda. Nem a revista do Sindicato dos Bancários, que narra a história da categoria, fez qualquer referência aos meninos desde então, segundo Giba.

"Nos anos 1970 e 1980, só interessava ao pessoal que militava contra a ditadura quem fosse marxista, intelectual ou sindicalizado. Mas acredito que, mesmo de maneira inconsciente e com aquele ímpeto juvenil, os boys participaram da resistência."

TCC E CULTURA - O texto do livro foi extraído do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) que Giba apresentou como aluno da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 2003.

O confronto foi o ponto de partida para que ele pesquisasse sobre os hábitos dos office-boys, categoria em fase de extinção provocada pelas facilidades que a tecnologia oferece.

Qualquer pessoa conectada à web pode pagar as contas e resolver pendências administrativas apenas clicando o mouse, sem que precise enviar um boy à fila da agência bancária ou à repartição.

Mas a principal virtude do trabalho do autor é o resgate histórico que propõe, ao relembrar a iniciativa do publicitário (e ex-office boy) Carlito Maia, que organizava campeonatos de futebol para adolescentes no Centro de São Paulo. Os torneios ficaram conhecidos como Futeboys.

Além disso, Giba entrevistou o autor do hit Sou Boy, gravado pelo Magazine, banda do cantor, DJ e radialista Kid Vinil. Identificado apenas como Agnaldo, o compositor escreveu a letra em 1979, aos 17 anos. Trata-se de produção independente e o interessado pode comprar diretamente com o escritor (gilovas@uol.com.br) por R$ 30.




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