A Cia. de Danças de Diadema começa o ano com uma boa notícia: o MinC (Ministério da Cultura) aprovou a captaçao de R$ 190 mil, por meio da Lei Rouanet, para o projeto Arte raiz 500 anos. A aprovaçao, que chegou no fim de dezembro, durante as férias da companhia, pegou a diretora Ivonice Satie de surpresa. "Isto é fruto de um longo namoro que começou no início do ano passado, quando o projeto seguiu ao MinC pela primeira vez. No decorrer dos meses, nós o aprimoramos várias vezes, até que recebemos a aprovaçao. Os bailarinos retomam as atividades no dia 1º de fevereiro, e alguns deles ainda nem sabem da novidade", conta Ivonice, que nao esconde a alegria e a vontade de iniciar os trabalhos.

O projeto aprovado em Brasília prevê a realizaçao de um espetáculo baseado na arte e na cultura brasileiras, especialmente concebido em sintonia com a comemoraçao dos 500 anos do descobrimento do Brasil. "Vamos abordar, em especial, os períodos a partir da aboliçao e da arte moderna, quando nossa cultura passou a se manifestar mais fortemente", diz a diretora.

Todo o projeto de pesquisa terá como ponto de partida o livro História de nossos gestos (1977), de Luiz da Câmara Cascudo, folclorista, historiador e escritor do Rio Grande do Norte. A escolha, aliás, é uma homenagem ao centenário de nascimento de Cascudo (1898-1986), ocorrido no ano passado. Ele também se dedicou ao estudo da movimentaçao e dos gestos tipicamente brasileiros, bem como suas influências européias.

A criaçao das coreografias será feita pelos bailarinos da própria companhia, sob a direçao de Ivonice. "A concepçao de formaçao artística, que sempre foi uma característica da Cia. de Danças de Diadema, foi o que mais motivou a aprovaçao do projeto", diz.

Ivonice também acena com a possibilidade da participaçao de outros segmentos artísticos da regiao, em especial os da música. "A trilha sonora ainda nao está definida. Ela depende dos resultados da pesquisa corporal. Além de usar composiçoes brasileiras já existentes, pretendo arrebanhar talentos da regiao. Temos bons músicos, e acho que reuni-los poderia dar um bom resultado", diz.

Além da montagem, o projeto prevê uma turnê nacional, que iniciaria em Sao Paulo e seguiria para Belo Horizonte, Brasília, Teresina, Recife, Natal, Fortaleza e Maceió. Nestes locais, paralelamente às apresentaçoes, os bailarinos também ministrariam workshops.

Apesar do momento de crise que vive o país, Ivonice está otimista quanto à captaçao de recursos. De acordo com a Lei Rouanet, um investimento cultural correspondente a até 4% do imposto devido pode ser abatido integralmente do total do imposto de renda do empresário.

"Ou seja, ele coloca na Cia. de Danças o que estaria destinando ao pagamento do imposto. O valor é o mesmo, com a vantagem de que ele terá o nome de sua empresa viajando com a nossa turnê pelo país. Além disso, nós nos dispomos a apresentar o espetáculo, por exemplo, no pátio de uma montadora", afirma Ivonice.

A diretora lembra, também, a causa social. "De uma forma simples, o empresário estará ajudando a continuidade do trabalho de formaçao em dança que é desenvolvido pelos nossos bailarinos."

Quem também nao se intimida com o quadro dramático da economia brasileira é Marta de Betania Juliano, diretora de Cultura de Diadema. "O empresário só tem a ganhar, e eu acho que muitos querem investir em projetos de qualidade. A Cia. de Danças é uma boa oportunidade, pois está muito bem conceituada. Inicialmente, nós vamos priorizar os empresários da regiao, objetivando a articulaçao dos circuitos regionais, mas também estamos em entendimento com empresários de Sao Paulo", garante.

Ainda sob efeito da euforia trazida pela aprovaçao do MinC, Ivonice diz que pretende estrear o novo espetáculo em Diadema, em julho, antes de iniciar a turnê nacional. E, ao que parece, está disposta a fazer com que Arte raiz 500 anos dê continuidade e até supere os resultados do espetáculo Trêsmaisum, criado para a companhia no ano passado por Henrique Rodovalho - e que, de fato, foi um marco na carreira da Cia. de Danças de Diadema.