Esportes Titulo Confidencial
Mudança de mentalidade
Por Felipe Simões
Do Diário do Grande ABC
03/03/2016 | 07:00
Compartilhar notícia


Semana passada tive a oportunidade de participar de evento no Museu do Futebol com integrantes da comissão técnica das categorias de base do Borussia Dortmund ao qual compareceram cerca de 60 técnicos de escolinhas que atendem crianças carentes na Capital e cidades próximas, incluindo Diadema, representada por um professor do CAD e outro do Água Santa. Da parte dos alemães, nada a reclamar – conhecimento técnico do trabalho com jovens explicado com detalhes das atividades realizadas de acordo com a idade do aluno. Já os brasileiros...

Em vez de questionarem os alemães sobre aspectos do trabalho, se referiam somente aos problemas enfrentados no dia a dia, como falta de assistência governamental e questões familiares. Entendo que a realidade social do Brasil é bem diferente daquela encontrada na Alemanha. Mas o Borussia Dortmund não tem absolutamente nada a ver com nossos problemas. Eles vieram com um propósito, de ensinar, e devolvemos reclamações. Pensei que fosse o único a ficar com essa impressão até ouvir de um professor: “O pessoal precisa parar de chorar. Dificuldades todos têm, mas temos que trabalhar e fazer o nosso melhor”. É isso.

Todos exigem mudanças no futebol brasileiro, mas a mentalidade continua a mesma, especialmente no trabalho de formação. Se não é possível fazer de um jeito, é preciso ter criatividade para fazer de outro. Não é porque uma equipe grande leva um jovem de projeto social para suas categorias de base – como foi dito por um dos professores – que o trabalho não valha a pena. Muito pelo contrário. Isso é sinal de que as coisas estão bem e que o professor fez seu papel, de dar bases técnicas e táticas para um futuro jogador de futebol. Não há nada que pague poder dizer, anos depois, que tal atleta começou na sua escola, sob sua supervisão. É natural que clubes maiores, com seu poderio financeiro, levem jogadores. Em qualquer país é assim. Durante o evento, até mesmo um representante alemão afirmou: “Se o Barcelona ou o Manchester United quiser contratar um jovem que está comigo, não há nada que o impeça. O que eu vou fazer? Meu trabalho é formar e orientar. Sobre isso não posso fazer nada”. É por aí.

Contra o poderio financeiro dos grandes clubes, pouco ou nada pode ser feito, já que para muitos é a saída de uma vida difícil e sofrida. É preciso ter grandeza para saber que seu trabalho não é um fim, e sim um meio para que os objetivos de outra pessoa se realizem. Os primeiros treinadores dos jogadores são tão importantes para o futebol quanto Guardiola, Mourinho ou qualquer outro técnico. Estes, aliás, só dão sequência na formação dos atletas, aperfeiçoando os conceitos já aprendidos na infância. E como costuma se dizer nas escolas, se a base não é benfeita, dificilmente o que se segue o será.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;