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Pesquisa revela que baixa renda consegue guardar dinheiro
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
16/11/2009 | 07:00
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A população de baixa renda, que ganha de um a quatro salários mínimos (R$ 465 e R$ 1.860), consegue organizar seus gastos mensais com aluguel, supermercado, contas de água e luz, deixar um pouco para seu próprio lazer. Um estudo realizado pelo Instituto Quorum com 410 trabalhadores da Região Metropolitana de São Paulo com registro em carteira, entre 25 e 50 anos, apontou que, em alguns casos, boa parte consegue guardar um dinheiro na poupança.

Cerca de 40% dos entrevistados que recebe entre um e dois salários (de R$ 465 a R$ R$ 930) consegue poupar quantias entre R$ 20 e R$ 30 por mês. Esse percentual chega a 50% entre quem ganha acima de dois mínimos (a partir de R$ 931). "Muitas vezes eles economizam durante o ano todo para, quando chegar em dezembro, comprar um novo eletrodoméstico ou concluir alguma obra", relata Cláudio Silveira, diretor do Instituto Quorum.

A balconista Regiane Maria da Silva, de 27 anos, que trabalha em uma padaria de Santo André, vai além: "Quando meus pais faleceram, eles deixaram um dinheiro para mim, que guardei na poupança. Desde então, deposito R$ 20 todos os meses. Meu objetivo é juntar dinheiro para dar de entrada em uma casa própria. E eu devo conseguir isso em alguns anos", revela.

Hoje ela divide uma casa em Mauá com marido, filho e dois irmãos. Dos R$ 800 mensais que ela recebe, gasta R$ 150 no supermercado, R$ 120 em remédios para tratar a rinite de seu filho, R$ 60 em um convênio médico para ele e R$ 70 na perua escolar - a escola é pública. "Se não fosse a renda do meu marido, que é confeiteiro, e ganha R$ 900, não conseguiria fazer tudo o que faço", conta. Ele arca com aluguel, conta de água, luz, telefone e gastos com o carro.

EMPRÉSTIMOS - De acordo com a pesquisa, quanto menor o rendimento é cada vez menos comum ter empréstimos em entidades financeiras. Quando eles precisam de dinheiro, costumam resolver entre amigos e familiares. "Um dos fatores que contribui para isso é o fato de muitos deles nem terem conta em banco", aponta Silveira.

É o caso do polidor de carros Edson Rodrigues, de 30 anos, que trabalha em um estacionamento em Santo André e ganha um salário mínimo por mês. "Meu salário é tão pequeno que não dá para abrir conta em banco, é besteira", comenta.

Dos R$ 465 mensais, ele paga R$ 75 em condução, gasta R$ 250 no supermercado e R$ 270 com o aluguel, mais água e luz. "O aluguel pesa demais. Se eu ganhasse uns R$ 800 daria para pagar as contas tranquilamente", diz Rodrigues, que tem dois filhos e conta com a ajuda da esposa, que é confeiteira. Juntos, eles somam renda familiar de R$ 900.

Lazer permite pizza e passeio no shopping

Uma das opções de lazer, segundo a pesquisa do Instituto Quorum, é alugar DVDs, ir a parques, fazer um churrasco e comer uma pizza, seja ela da pizzaria do bairro ou de massa pré-pronta comprada nos supermercados.

"Geralmente eles optam por assistir a um filme em casa do que pegar um ônibus e levar uma hora para chegar em um parque. Infelizmente, nas regiões periféricas não há essa opção de lazer grátis, então eles têm de estar com disposição para se deslocar e levar os filhos", diz Cláudio Silvestre, diretor da entidade.

Os dados apontam que 60% daqueles que recebem entre um e dois salários mínimos (R$ 465 e R$ 930) alugam DVDs para passar o tempo livre. O percentual cresce de acordo com a renda.

A proporção é, no entanto, semelhante à dos entrevistados que dizem ir a parques: 57% entre um e dois salários.

Jairo Brunetti, de 34 anos, manobrista de um estacionamento em Santo André, trabalha todos os fins de semana e folga quando seus três filhos estão na escola. Ele então aproveita os feriados para ir a um parque em São Bernardo, no qual, para chegar, leva 40 minutos.

"Quando posso, também levo as crianças no shopping, eles adoram o Playland, mas eu acabo gastando uns R$ 80", conta Brunetti, que em suas folgas faz ‘bicos' de R$ 40 para complementar a renda. Com o salário de sua mulher, que faz faxinas, somam um total de R$ 840.

O estudo afirma que dos que recebem até R$ 930 mensais, 74% freqüentam o shopping como opção de passeio.

Uma vez por mês, ainda, o manobrista, que adora ler revistas sobre caminhões e para quem o salário ideal seria de R$ 1.300, consegue pedir uma pizza na pizzaria de seu bairro ou comprar algo diferente no supermercado. "Nem que seja uma pipoca, isso já os faz feliz", diz, referindo-se aos seus filhos.

O levantamento indica, de fato, que 77% dos que ganham entre um e dois salários tem a pizza como atividade gastronômica. "Mesmo que não tenham dinheiro para comprar na pizzaria, compram no supermercado por R$ 5 e dão uma incrementada", conta Silvestre.

A balconista Regiane Silva revela que gasta cerca de R$ 300 com seu lazer e de seu filho. "Não adianta. Quando o levamos ao parque Celso Daniel ou ao shopping, sempre passamos no McDonald's ou no Habib's."




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