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O terceiro é a glória

Bruna Caram celebra presente e equaliza fúria e doçura
em seu novo disco, 'Seja Bem Vindo Qualquer Sorriso'

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
26/11/2012 | 07:12
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Realização. Uns conselhos para dentro do saco, alguns sonhos para fora dele. Um pouco de blues. A segurança do que se quer dizer. Entre tantos outros atributos, apenas realização. Esse é o caldo final de 'Será Bem Vindo Qualquer Sorriso' (Tratore, preço médio R$ 25), terceiro álbum de Bruna Caram.

Independente, feito sem chancela de gravadora alguma, com apoio da Lei Rouanet, o álbum saiu da maneira como ela quis. "Meu último disco e a turnê dele foram muito fortes, senti que a minha carreira se consolidou ali, mas demorei a me libertar, perceber que o ciclo tinha acabado e que eu ia começar a entrar na zona de conforto", conta Bruna.

Para não correr riscos, foi buscar em si mesma tudo que queria. "Deixei para trás minhas travas, inseguranças e até conselhos. Você pode imaginar o que é uma menina de 19 anos gravando o primeiro disco? Ouvi muito e demorei para ter a oportunidade de ir para a estrada e descobrir o que era para mim ou não."

O resultado, como se pode ouvir, não é ruptura. Logo depois dos primeiros acordes da contagiante 'Bem Vindo' (Paulo Novaes), a primeira faixa, vem a explicação. "Ter que voltar / ter que lamentar / mas deixar levar / me entender um pouco mais / me entregar / a cada sonho, cada esquina, cada olhar / quem sabe um dia a gente possa olhar para trás / e se orgulhar da marca que hoje eu trago...".

"É a primeira vez em que aposto, sem tirar nem pôr, tudo que está na minha alma para colocar no disco", diz a cantora, que descobriu que seu espírito tem um quê de jazz e blues assim que entrou em contato com o produtor Otavio de Moraes, que traduziu a inclinação em um trabalho cheio de apelo pop e repleto de deliciosas camadas de tons e sons. Um piano aqui, um baixo ali, o acordeon acolá, a bateria com personalidade, fazem um som composto que não é maçaroca, mas que valoriza as nuances da canção.

"Queria que soasse íntimo, como um convite para que se chegue perto para ouvir. Tem muito a ver com o jazz esse estar mais perto do público. E com o tipo de cantora, intérprete, que eu busco ser: porta-voz do sentimento das pessoas."

Isso sem esclarecer nada, sem se preocupar com o rótulo que o disco vai ganhar nas prateleiras e nem criar bulas de compreensão sobre o que se quer dizer. "Eu tinha vontade de me explicar. Teve um show em Fortaleza, era a primeira vez que íamos para lá, fiquei pensando ‘será que as pessoas me conhecem?'. Estava com vontade de explicar, mas senti na primeira música que não precisava falar nada. Desci do palco e me perguntei: ‘O que eu quero tanto justificar?'. Eles me entendem."

DOÇURA E FÚRIA
Sem desarranjo, Bruna passa da alegria à tristeza nas 11 faixas, em paz com suas fúrias e delicadezas. "Em 'Essa Menina' existia alegria, doçura. No 'Feriado Pessoal' havia mais vigor, fúria. Agora, nesse disco, tem um pouco dos dois. É preciso ter maturidade para falar sobre a dor e a tristeza e colocar de lado logo", completa ela, que sintetiza o espírito do disco na última frase.

Enquanto passeia pelos percalços do amor com composições como a visceral 'Flor do Medo' (Djavan), a contemporânea releitura de 'Segredo' (Herivelto Martins e Marino Pinto) e a suave 'Peito Aberto' (Dani Black), Bruna arma a cama para falar das alegrias da vida, do que verdadeiramente importa.

Dispensa as muletas no rock 'Não Perca o Final' (Zé Rodrix); flutua pelos sentimentos na delicada 'Esfera' (Paulo Novaes); recria 'Minha Teimosia, Uma Arma Pra te Conquistar' (Jorge Ben Jor - e acerta o alvo, em cheio; convoca em 'Pode se Animar' (Bruna Caram e Pedro Luis); e explode com os frevos 'Purinho' (Bruna Caram) e 'Vão Me Levando' (Dosinho).

"O terceiro disco é a glória", brinca ela, realizada tal como está explícito no nome da obra. Preparada para receber a bola, matar no peito e chutar para o gol. "Não existe terceira pessoa. Estou falando comigo ou com você. Quero que o público simplesmente sinta que pode chegar mais perto e que seja a felicidade a minha realidade e a dele."




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