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Novo diretor da Abin quer divulgar documentos ultra-secretos
10/09/2004 | 00:29
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Há apenas 55 dias no cargo, o novo diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), delegado Mauro Marcelo Lima e Silva, abriu nesta quinta-feira à imprensa, em atitude inédita, parte das instalações que herdou do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações).

O delegado quer prosseguir nesse rumo e está negociando no governo a desclassificação dos documentos secretos e ultra-secretos que já ultrapassaram o prazo de permanecerem guardados e, teoricamente, poderiam ser divulgados. O problema, na avaliação dele, é mais político do que legal. Para demonstrar a sua intenção, Mauro Marcelo apresentou aos jornalistas cópias de documentos da época da repressão, relatando atividades de movimentos de esquerda e guerrilheiros, como VAR-Palmares, Partido Comunista Brasileiro, Operação Pajuçara, entre outros.

Mauro Marcelo revelou também que um número ainda incalculável de documentos foi retirado dos arquivos da Abin. O desfalque pode ser notado nas cerca de 220 mil fichas de microfilmagens, com até 92 páginas cada, que estão em um dos prédios da Abin. A agência fica numa área de 50 hectares, no setor policial sul, em Brasília.

Segundo Mauro Marcelo, não há como saber quando essas fichas foram retiradas ou se foram destruídas. Apesar da sua disposição de abrir os arquivos, ele ressalva que há papéis que terão de permanecer sob proteção do Estado, porque a revelação de seu conteúdo poderia "causar sérios prejuízos à atividade econômica ou política do país e problemas de fronteira".

Mauro Marcelo tentou ser cuidadoso com as informações que fornecia e várias vezes consultou auxiliares, que, por serem funcionários de décadas da Inteligência, às vezes se assustavam com as posições do novo diretor. Até um helicóptero foi franqueado aos jornalistas para que pudessem conhecer, de cima, as dependências da Abin.

Escutas - O novo diretor voltou a dizer que quer mudanças na legislação para permitir que os agentes do órgão possam fazer escutas em ambientes, e-mails e em telefones. "Quero ter o poder de pedir ao Judiciário a possibilidade de fazer escuta", comentou Mauro Marcel.

No café da manhã, que emendou com uma excursão de ônibus pelas dependências da agência, seguido do passeio de helicóptero, Mauro Marcelo disse que vai diariamente ao Planalto e se reúne com o general Jorge Armando Félix. Afirmou, porém, que não se reúne com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o indicou para o cargo.

Segundo ele, 40% das informações da Abin vão diretamente para Lula - a filtragem é feita pelo general Félix. "Nem tudo precisa mesmo chegar ao presidente", disse ele, justificando que a seleção feita feito pelo Gabinete de Segurança Institucional não significa censura.

Segundo o delegado, há quem ache que o despacho do chefe da Abin deveria ser direto com o presidente, outros acham que o anteparo é extremamente necessário porque, se houver uma crise na Abin, ela atingiria o presidente. "Seria o ideal despachar diretamente, mas o anteparo também é importante." Hoje, de acordo com Mauro Marcelo, de 70% a 80% dos cargos de direção já foram trocados. "Tenho carta branca e fiz tudo por minha conta e ninguém reclamou nada", declarou ele, ao reiterar que quer prestigiar o pessoal da casa.

Todos os novos diretores trabalharam no extinto SNI e seria impossível substituir todos. "Teria problemas técnicos se quisesse tirar todo mundo", argumentou o delegado, ao lembrar que o primeiro concurso para a Abin foi feito há nove anos. Ele comentou que há quem discorde da decisão de fazer concursos para agentes de Inteligência, acrescentando que esse método de admissão, ao que saiba, só existe no Brasil e em Portugal.




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