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Fundação afasta
seguranças de PS

Imagens apontam descontrole dos dois vigias durante briga
no PS Central de São Bernardo; Prefeitura abre sindicância

Por Maíra Sanches
05/11/2011 | 07:00
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Dois seguranças envolvidos em agressões a pacientes no Pronto-Socorro Central de São Bernardo, na noite de quinta-feira, foram afastados das funções até a conclusão da sindicância aberta pela Prefeitura para apurar o caso. As imagens das câmeras de segurança do PS, vistas ontem pelo secretário de Saúde, Arthur Chioro, foram decisivas para dar início às providências. Três pessoas, sendo um homem e duas mulheres, sofreram agressões.

Diferentemente do que o secretário tinha informado anteontem à noite, os vigilantes que trabalham dentro do PS são funcionários da Fundação ABC, organização social de Saúde que administra hospitais na região. A Skill, empresa contratada pela Prefeitura, faz a segurança da unidade apenas do lado externo e não teve envolvimento no episódio.

A equipe do Diário teve acesso às imagens e constatou o uso descabido da força por dois seguranças. A discussão começou quando o estudante Lesle Guglielni, 35 anos, desrespeitou a regra do PS e insistiu em acompanhar a mulher até o consultório médico. Por questões estruturais, só é permitida a entrada de acompanhantes com pacientes menores de idade, gestantes ou idosos. Mesmo assim, ele permaneceu na companhia da mulher por cerca de oito minutos, quando foi abordado por um dos seguranças protagonistas da agressão.

O bate-boca se intensificou quando o estudante recusou-se a sair. Em seguida ele foi empurrado, imobilizado e retirado à força por dois homens até a sala de espera, que fica ao lado. A mulher interviu, na tentativa de defender o marido, e foi puxada violentamente pelo braço até separar-se de Lesle. A paciente Josenilda Rodrigues, 31, que tentou registrar a briga pelo celular, também foi agredida no braço quando o segundo vigia percebeu a ação. Ela foi a única que registrou boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher.

Ontem à tarde, as duas mulheres agredidas deram suas versões sobre a briga à Prefeitura. Na segunda-feira, o estudante será ouvido, assim como funcionários do PS e outros seguranças. A administração pretende finalizar a sindicância até quarta-feira.

MEDIDAS

Caso haja conclusão de que houve má conduta dos empregados, Chioro declarou que serão tomadas as providências cabíveis, que incluem a possibilidade de demissão por justa causa. "Se o paciente está nervoso, jamais o segurança poderá devolver na mesma moeda. Tem de conversar ou até abrir exceção. Trata-se de um ambiente de estresse e é preciso preparo para agir com cautela. Nossos funcionários perderam a razão e nada justifica o uso da força."

Por 36 horas semanais de trabalho, cada segurança recebe o salário de R$ 1.141, além de benefícios que chegam a R$ 391. Todos os dias, 12 seguranças circulam pelo interior do PS. Ao todo, a Fundação dispõe de 143 homens, que atuam no PS Central, no Hospital Municipal Universitário e no Hospital de Ensino Anchieta. Em quase três anos, foi o primeiro incidente envolvendo seguranças contratados pela OSS. Segundo Chioro, todos tiveram bom desempenho durante o processo de capacitação e treinamento, que deverá ser revisto após a conclusão da sindicância.

A paciente que foi agredida ao tentar registrar cenas da briga já contratou advogado e garantiu ontem que irá processar a entidade pelo ocorrido.

Técnicos defendem apoio psicológico

Para especialistas em Segurança pública e privada, o problema não é a falta de treinamento dos vigilantes patrimoniais no País. Mas sim a necessidade de controlar o estresse desses profissionais no ambiente de trabalho, principalmente nos locais de riscos iminentes à categoria, como bancos, hospitais e unidades de Saúde.

"Na maioria das vezes, o que não existe é o controle emocional", avalia o técnico Jorge Lordello, um dos mais respeitados especialistas na área de Segurança, além de pesquisador criminal. Nesse caso, as empresas de vigilância ou mesmo as contratantes dos serviços terceirizados deveriam investir na contratação, por exemplo, de psicólogos para aplicação dos testes antiestresses. "Afinal, são também seres humanos que lidam com o público", afirma Lordello.

O que é compartilhado por José Boaventura Santos, presidente da Confederação Nacional dos Vigilantes e Prestadores de Serviços, com sede em Brasília. "As empresas não fornecem o apoio psicológico tão importante para os que trabalham em ambientes de conflitos e de alta pressão, como são os casos de bancos e hospitais", diz.

E vai além Boaventura, como é mais conhecido. "O diálogo sempre deve existir entre aquele que compra o serviço e o que vende. Muitas vezes, o vigilante não recebe o preparo adequado para atuar nesses locais", reforça.

Lordello informa que hoje o número de vigilantes no Brasil é superior ao de policiais-civis e militares, além de guardas civis mucipiais e metropolitanos juntos. E defende os seguranças patrimoniais para o trabalho intramuro e de boa qualidade. "A categoria é por demais importante para esse serviço, o que libera a polícia para o patrulhamento das ruas", aponta.

A Confederação Nacional registra o número de 2,8 milhões de vigilantes formados e registrados na Polícia Federal. Desse total, atualmente 800 mil trabalham formalmente, dos quais 200 mil no Estado de São Paulo.

Na região, Santo André e São Bernardo possuem dois sindicatos da categoria. Até dezembro, um seminário está previsto para discutir os problemas enfrentados pelos seguranças patrimoniais. "O vigilante já é uma classe sofrida e discriminada pela população, além de constantemente criticada na mídia. Queremos reverter essa imagem negativa", afirma a ex-vigilante bancária Solange Aparecida da Silva, atual diretora financeira do Sindicato dos Vigilantes de São Bernardo.

O piso salarial é de R$ 964,43, mais adicional de risco de vida no valor de R$ 115. São Bernardo possui em torno de 3.000 profissionais, segundo Solange. (Elaine Granconato)

São Caetano utiliza GCM na segurança

Das sete cidades do Grande ABC, São Caetano utiliza guardas-civis munipais para fazer a segurança nas dez Unidades Básicas de Saúde, nos três hospitais e nos centros de especialidades médicas.

No total, são 15 profissionais fixos para atender 24 horas os hospitais, além das unidades de Saúde que trabalham até as 21h ou 23h. Segundo a administração, os guardas recebem aulas teóricas e treinamento de primeiros socorros no curso de formação, além de palestras de aperfeiçoamento continuado, sendo um deles na área de Saúde.

Em Diadema, o serviço nas unidades de Saúde é prestado por empresa terceirizada em Segurança - a escolha foi por processo de licitação. A Prefeitura informou que o contrato prevê o fornecimento de mão de obra especializada.

Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não responderam ao Diário. Informações de São Bernardo sobre o serviço estão na capa deste caderno. (Elaine Granconato)




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