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Espionagem verde-amarela é tema de debate em S.Bernardo
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
13/07/2005 | 08:10
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O país acompanha uma série de denúncias de corrupção no governo a partir de escutas telefônicas reveladoras e vídeos feitos com câmera escondida que mostram a mão na cumbuca. Ações oficiais ou clandestinas? O debate esquenta nesta quarta-feira na Livraria Siciliano do Shopping Metrópole, em São Bernardo, no lançamento do livro Ministério do Silêncio (Record, 590 págs., R$ 55,90), às 19h30. A diretora de Redação do Diário, Paula Fontenelle, vai mediar o encontro entre o público e o autor do livro, Lucas Figueiredo, jornalista do Estado de Minas, que passou sete anos colhendo informações para contar a história dos 78 anos de existência do "Serviço" (oficialmente desde 1956) como ele diz ser chamado o órgão de inteligência entre seus agentes.

Imagem recorrente de serviço secreto é a disputa hollywoodiana entre espiões da CIA e da KGB, ou do paladino James Bond como salvaguarda do Ocidente. Quase nada se sabe sobre as aventuras do serviço brasileiro de inteligência, oficialmente civil e historicamente vinculado às Forças Armadas. Vigiar inimigos externos e controlar atividade de espionagem no Brasil não parece, segundo Figueiredo, função do "Serviço", chamado Abin (Agência Brasileira de Inteligência) desde 1999, mas que já foi SNI (Serviço Nacional de Informações, 1964-1990), DI (Departamento de Inteligência, de 1990-1992), SSI (Subsecretaria de Inteligência, 1992-1999) e Sfici (Serviço Federal de Informações e Contra-informação, 1956-1964).

Nomes diferentes como troca de disfarces, mas um único objetivo: fornecer ao presidente, civil ou militar, informações para a segurança do Estado e da governabilidade, colhidas de forma sigilosa. Investigar os inimigos do poder e coletar informações no seio da sociedade brasileira seriam atribuições obscuras do "Serviço" que o autor optou por escancarar.

Do presidente Lulu, apelido de Washington Luís (1926-1930), criador do embrião do "Serviço", o Conselho de Defesa Nacional em 1927 - junta de ministros que comentavam a situação nacional e internacional com o chefe de governo -, ao presidente Lula, o serviço secreto agiria sem controle do governo, embora subordinado à Presidência da República. Lula - revela Figueiredo - receberia informes sobre movimentos sociais, afirmação contestada pela Abin.

A pesquisa contou com informações publicadas em jornais, revistas e em relatórios e documentos do "Serviço" aos quais o autor teve acesso. Não há entrevistas com agentes "secretos", embora o autor afirme ter conversado com a velha e a jovem guarda do "Serviço". Falta à obra elementos de comparação - como funcionam os serviços secretos em outros países e algum material teórico sobre a história da informação.

Os maiores méritos do livro são a fluência do autor e seu caráter de registro histórico da ação do serviço brasileiro de inteligência. O sabor da leitura está em episódios da história recente, que tiveram direta ou indiretamente participação da inteligência - por exemplo, a Abin plantou uma "andorinha", agente encarregada de seduzir o procurador da República, Luiz Francisco de Souza, que investigava irregularidades no governo de Fernando Henrique Cardoso em 1999, para criar um escândalo.

Há ações mais para comédia do que 007. Em 1965, uma investigação do SNI sobre "infiltração comunista" a partir de uma nota no Diário de Notícias de Porto Alegre - show da cantora Nara Leão na boate Encouraçado Botekim, trocadilho com título do filme russo Encouraçado Potemkin (1925) - alertou para a "influência da esquerda dentro da imprensa sadia", e solicitou providências. Depois de passar por vários oficiais e chegar ao Ministério da Guerra, o destino foi o arquivo. A boate, porém, não agüentou viver com esse nome sob uma ditadura de direita.




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