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24 horas no Parque Celso Daniel
Artur Rodrigues
Especial para o Diário do Grande ABC
09/01/2005 | 17:10
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Ar puro, paz e cerca de 70 mil m² de verde em plena área central de Santo André. É com esse cenário que se depara quem sai da movimentada avenida Dom Pedro II e entra no Parque Prefeito Celso Daniel, no bairro Jardim. Único parque aberto 24 horas na região, o Celso Daniel serve como refúgio para gente que quer se manter em forma ou simplesmente sentar em um dos 122 conjuntos de bancos disponíveis e pensar na vida. À noite, o local se transforma e vira agitação, muitas vezes regada a álcool e drogas.

O antigo Parque Duque de Caxias era a menina dos olhos do ex-prefeito Celso Daniel. Por esse motivo, quando o prefeito foi assassinado, a primeira ação de João Avamileno foi rebatizar o parque mais badalado da cidade com o nome do ex-companheiro. Foi nessa época, início de 2002, que a área verde ganhou ares de modernidade. Um novo modelo paisagístico eliminou pinheiros e eucaliptos mortos e introduziu espécies frutíferas para atrair mais pássaros. Pista de cooper, playground e quadras foram remodeladas e 33 praças de descanso, construídas. De dia ou de noite, há público para aproveitar as benfeitorias. Diariamente, 4,2 mil pessoas visitam o Celso Daniel. Nos fins de semana, o parque recebe até 16 mil pessoas.

O sol nasce e o parque já está movimentado. Por volta das 5h, é possível ver pessoas de todas as idades na pista de cooper. Há pelo menos 15 anos entre os corredores do parque está a personal trainner Josiane Prado, 36 anos. “Corro aqui em qualquer horário, até de madrugada”, conta, sem parar de correr. Desde que o hobby virou profissão, Josiane passou a levar sua clientela para se exercitar no parque.

Saúde. Essa parece ser a palavra de ordem dos freqüentadores matutinos do Celso Daniel. “Tenho diabetes, então o médico me aconselhou a caminhar, o que passei a fazer todos os dias”, diz a dona de casa Faustina Ferreira, 69 anos. Outro que trocou os consultórios médicos pela prática diária de exercícios é o motorista Jaime Torrecilho, 61. “Há dois anos que venho fazer exercícios aqui e já me sinto novo”, garante o motorista.

Chega a tarde e quem toma conta da paisagem são as crianças. Acompanhadas das mães, algumas se divertem no playground. Outros procuram brincadeiras politicamente menos corretas. Quem sofre com a criatividade da meninada são as tartarugas aquáticas, normalmente abandonadas no parque por donos não muito fiéis aos animaizinhos de estimação.

Em outro canto do parque o capoeirista Luiz Henrique Abreu, 15 anos, faz movimentos ágeis no gramado. Terreno perfeito para os facões, rabo-de-arraias e saltos mortais. “Treino aqui três vezes por semana até escurecer”, conta Abreu.

Escurece. O ambiente esquenta. Qualquer cantinho escuro pode esconder um casal de namorados. O estacionamento gratuito do parque vira drive-in e os vidros embaçados predominam entre os carros ali parados. O parque se transforma em palco para todo tipo de paixão, inclusive as proibidas. É o caso de uma adolescente de 14 anos, que preferiu não se identificar. Longe das reprimendas do pai, ela encontra nos bancos do parque o refúgio perfeito para ver o namorado. “Meu pai é muito ciumento e não me deixa namorar. Fala que sou muito nova, mas nós dois...”, explica, apontando para o namorado, “...já estamos juntos há dois anos.”

Duas da madrugada. Nas quadras de futebol, os peladeiros não se intimidam com o horário. Corredores insones aproveitam a madrugada para entrar em forma. No playground, dezenas de jovens e adolescentes revivem a infância. O parque é uma alternativa para encontrar a galera nos dias em que a balada está fraca.

Outro grupo de jovens, sentado em um canto escuro do parque, parece ter saído de um filme dos anos 70. Tocam violão, bebem vinho e tornam o pequeno espaço que ocupam o mais parecido possível com o do festival de Woodstock. Um deles imita Jim Morrison, dançando freneticamente, embalado pelos que tocam o ritmo psicodélico dos roqueiros do The Doors no violão. Mais adiante, alguns rapazes fumam maconha livremente e conversam em várias rodinhas.

A sujeirada sobra para o dia seguinte. Garrafas de bebidas, embalagens de alimentos e camisinhas usadas, nos banheiros e fraldários, certamente não passarão despercebidas pelos primeiros freqüentadores matutinos do Celso Daniel.




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