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'Eu, Tu, Eles' conquista público em Cannes
Do Diário do Grande ABC
15/05/2000 | 15:35
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Destinado a grandes platéias, "Eu, Tu, Eles", de Andrucha Waddington, que passou neste domingo para a imprensa, nao participa da competiçao em Cannes, mas foi bastante aplaudido pelo público, que se divertiu com a história da personagem interpretada por Regina Casé. Poderia chamar-se "Dona Darlene e Seus Três Maridos". É a história de uma mulher que vive com três maridos no alto sertao nordestino. O público riu nas horas certas e muitos jornalistas destacavam o inusitado da situaçao, na saída da projeçao do filme, que está na mostra paralela "Un Certain Regard".

Já houve um princípio de vaia, após a exibiçao oficial de "Estorvo", no domingo à tarde. Foi sufocado pelos aplausos do público presente à sessao no palais. Ruy Guerra gostou da recepçao. "É um filme difícil, imaginava que seria recebido de maneira mais fria", disse o diretor no domingo à noite, na festa realizada no Hotel Martinez. Estavam todos lá. Guerra, o produtor Bruno Stroppiana, Chico Buarque, autor do romance, e também o secretário do Audiovisual, José Alvaro Moisés, o diretor pernambucano Paulo Caldas (de Baile Perfumado e O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas) e muitos outros convidados.

Um dos entusiastas de "Estorvo" é o cineasta argentino Fernando Solanas. Ele concorda que Guerra nao fez um filme para grandes platéias, mas destaca o rigor da mise-en-scène, a beleza da fotografia. "É brilhante", resume.

Surpresas - O 53º Festival International du Film segue seu curso com algumas surpresas. Se estivesse em competiçao, "Lista de Espera" seria, com certeza, um dos melhores filmes da mostra principal. Mas o novo filme do cubano Juan Carlos Tabío participa da mostra "Un Certain Regard". Tabío co-dirigiu com Tomás Gutiérrez Alea dois dos maiores sucessos da história do cinema cubano - "Morango e Chocolate" e "Guantanamera". Acerta a mao em "Lista de Espera", que dirigiu sozinho. Jorge Perugorría e Vladimir Cruz (ambos de Morango e Chocolate) lideram o extenso elenco.

É a história de um monte de gente que tenta pegar um ônibus numa rodoviária do interior. O ônibus tarda, as pessoas começam a conhecer-se. Quando chega a notícia de que o ônibus está avariado, surge a proposta de consertá-lo. A princípio, as pessoas reagem dizendo que nao, mas logo se mobilizam para ajudar. É uma metáfora sobre a situaçao de Cuba, claro. O país enfrenta todo tipo de dificuldade, mas a solidariedade da populaçao é um antídoto contra a crise. Os cubanos têm fé na ilha. Essa mesma idéia transparece no documentário "Cuba Feliz", do francês Karim Dridi, que também passou fora de concurso, na "Quinzena dos Realizadores".

Dridi segue a trilha de Wim Wenders em "Buena Vista Social Club" e também faz um filme sobre a musicalidade dos cubanos. Ele quer mostrar que a música é fundamental no cotidiano desse país. Revela uma atitude diante da vida. Para isso conta a história de um músico de rua que atravessa o país, saindo de Havana para ir ao Oriente cubano, onde estao as fontes musicais de Cuba. O documentário é inferior ao de Wenders, mas o CD, desde hoje em todas as lojas da França, é pura festa para os ouvidos. Nota 10.

A maior surpresa desse festival, até agora, veio da Rússia. Quem viu "Táxi" só tem motivos para desconfiar do diretor franco-russo (russos de ascendência francesa) Pavel Longuine. "La Noce" (O Casamento) reabilita Longuine e revela um talento que se diria inexistente. É, como conta o título, a história de um casamento. Um rapaz ama uma garota, ela lhe propoe, na base do cara ou coroa, que se casem. Ele topa imediatamente.

Acontece todo o tipo de coisa durante os preparativos da festa. Durante ela, o noivo é preso, acusado de roubo. Entra em cena um novo-rico cercado de guarda-costas. Representa a máfia que hoje domina a Rússia. O filme é rico em metáforas sobre o país que se reconstrói. E apresenta o casal mais bonito desse festival. Marat Bacharov e Maria Mironova sao tao lindos que chegam a emocionar. Por meio deles, Longuine faz sua aposta no futuro da Rússia pós-comunista, um país em busca de identidade, que sonha com uma nova era de liberdade e prosperidade.

Depois dessa sensível liçao de cinema e vida que veio da Rússia, a expectativa, hoje, era o filme que seria apresentado à noite. "Taboo", que será distribuído no Brasil pela Pandora, é a bomba que o japonês Nagisa Oshima promete lançar sobre Cannes. Após o escândalo de "O Império dos Sentidos", nos anos 70, o cineasta volta com uma história que trata de homossexualismo entre samurais. As fotos do ator que faz o samurai jovem - um tipo completamente andrógino - estao estampadas em outdoors ao longo de toda a Croisette, mas o que importa é o protagonista, o samurai mais velho, interpretado por Takeshi Kitano.

Ele chegou a Cannes no sábado e, no domingo, um grupo de privilegiados pôde assistir a um trecho de cinco minutos do filme que ele roda nos Estados Unidos (Brother). Os cinco minutos prometem. Kitano, passada a viagem iniciática de "Verao Feliz", volta ao universo de violência e ternura de "Hani-Bi - Fogos de Artifício".




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