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Angolanos denunciam policiais
15/07/2006 | 08:38
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Um grupo de angolanos que vive no Rio foi ontem à Corregedoria Geral Unificada da Polícia denunciar policiais por assalto e espancamento. Na noite de anteontem, o angolano José Paixão Afonso, de 26 anos, foi abordado por dois supostos policiais que interceptaram um ônibus na Avenida Brasil na altura do Caju, quando voltava do Aeroporto Internacional Tom Jobim.

Ele contou que apanhou dos homens e teve de entregar US$ 6 mil – segundo ele enviados de Angola pela família por meio de um compatriota que desembarcara no Rio. O grupo reunido ontem denunciou que casos como esse tem ocorrido com freqüência, mas as vítimas não denunciam por causa das ameaças de retaliações.

Afonso estava num ônibus comum que foi interceptado por um Gol branco. Os dois ocupantes, à paisana e vestindo colete, apresentaram-se ao motorista como policiais, e só abordaram Afonso e outros quatro angolanos, que fugiram a pé. Afonso contou que foi espancado sob um viaduto. “Eles disseram: mostre o dólar ou matamos você aqui e agora. Eu repeti que não tinha dinheiro. Foi aí que eles me tiraram o tênis, começaram a me espancar e rasgaram a minha calça. Mesmo quando encontraram o dinheiro na minha sunga continuaram a bater até me deixar inconsciente”, contou. Ele ainda perdeu o celular, a camisa, os tênis e documentos, como o visto de permanência.

História parecida contaram vários outros angolanos. A maioria diz ter vindo ao Brasil estudar e trabalhar como comerciante autônomo. Enviam roupas brasileiras para serem vendidas em Angola até quatro vezes mais caras. O lucro é remetido ao Brasil por meio de amigos que vêm daquele país. Eles dizem que as quantias são declaradas à Receita Federal.

Os angolanos afirmam que policiais fardados também cometem assaltos e suspeitam que eles sejam do batalhão da Ilha do Governador porque sempre há blitze nas imediações do aeroporto às quintas e domingos, dias de chegada dos vôos de Luanda. O angolano Inácio Miguel, de 28 anos, disse ter sido levado para um terreno baldio na Ilha do Fundão por PMs, que teriam roubado dele US$ 400. “Ficar diante de um policial é mais perigoso do que de um bandido”, disse.

“Acho que alguém nos vigia no aeroporto quando vamos buscar as encomendas e avisam os policiais”, disse Afonso, cujo caso foi registrado na delegacia de São Cristóvão (17ªDP). A Corregedoria, que é subordinada à Secretaria de Direitos Humanos abriu um procedimento administrativo. O comandante da PM, coronel Hudson de Aguiar Miranda, também determinou apuração interna.

Afonso prestou depoimento ontem por mais de duas horas ao corregedor José Vercillo e chegou a ver algumas das fotos de policiais do batalhão da Ilha entregues pelo comandante da unidade, mas não reconheceu ninguém.

O angolano Augusto João Vieira, de 37 anos, também cobrou providências do consulado de Angola. “Existem muitos brasileiros em Angola e nunca houve nenhum registro de um deles sofrendo uma covardia como essa lá. Então por que somos tratados dessa forma aqui?”, queixou-se. A Secretaria de Segurança do Rio informou que a Polícia Federal investigará a remessa de dinheiro dos angolanos e se a permanência deles é legal no País. Investigações apontam angolanos como colaboradores de traficantes de drogas, mas a secretaria não soube informar estatísticas sobre o envolvimento deles com o crime.                      




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