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Os limites da tolerância

Dar emprego público para o namorado da neta é imoral, mas vá lá: que avô recusaria um pedido da netinha? Compactuar com atos secretos...

Por Carlos Brickmann
04/04/2010 | 00:00
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Dar emprego público para o namorado da neta é imoral, mas vá lá: que avô recusaria um pedido da netinha? Compactuar com atos secretos é inacreditável, ainda mais para alguém que tem formação em Direito, mas este País é assim mesmo, aceita bem o desrespeito à lei. Já receber R$ 52 mil por mês, quando a lei diz claramente que o limite de pagamento com dinheiro público é de R$ 26.723 mensais (aliás, um excelente salário para o trabalho que é feito), acumulando aposentadorias, aí é demais: não há tolerância que possa resistir a esse deboche. O presidente do Senado, José Sarney, cansou-se de citar "o ritual do cargo." Mas já não se trata de ritual do cargo: o que ele perdeu foi a compostura.

Sarney nunca foi lá essas coisas como conduta política. Nasceu apoiando o senador Vitorino Freire para depois traí-lo; foi o presidente da Arena, o partido da ditadura militar, e virou PMDB desde criancinha quando a ditadura caiu. Contribuiu, é certo, para consolidar as instituições democráticas; mas fez um governo desastroso, cheio de planos fracassados. Sua inflação chegou a 80% ao mês.

Mas, com todos os defeitos, com a vaidade exacerbada, tinha de zelar por sua imagem. Como disse o presidente Lula, ele não é um homem comum. Isso traz responsabilidades. Sarney, homem de farto patrimônio, dono de ilhas e mansões, de um império que inclui TVs, rádios e jornais, não tem justificativa para empapuçar-se de aposentadorias. Seus filhos estão criados, são ricos; ele nem tem onde gastar o tanto que recebe. É ganância, é olho grande. É falta de vergonha.

IMAGEM LIMPA

Roberto Freire, que foi presidente do Partido Comunista Brasileiro e dirige seu sucessor, o PPS, transferiu o título de eleitor para São Paulo. Freire foi candidato à Presidência da República, em 1989, teve vários mandatos de deputado federal e senador por Pernambuco, e sempre se manteve longe da bandidagem que tanto assola nossas casas legislativas. Agora, deve candidatar-se a deputado federal pelo PPS paulista, como o grande puxador de votos do partido. O PPS faz parte da coalizão que apoia José Serra.

O JOGO DA MORTE

Neste momento em que o Congresso debate a legalização dos bingos, vale contar que um radialista de São José dos Campos, SP, vive sob forte escolta policial pela campanha que move contra bingos e máquinas caça-níqueis. O DHPP, Departamento de Homicídios, interceptou conversas entre bandidos que se queixavam de que João Alckmin, que já sofreu dois atentados a bala, continuava na luta contra o jogo ilegal. A ordem captada nas interceptações foi matá-lo. As autoridades determinaram que ele seja escoltado o tempo todo por policiais pesadamente armados.

FALTA...

Sarney recebe R$ 16,5 mil mensais como senador (mais casa oficial, com empregados e todas as despesas pagas pelo Tesouro, carro oficial com motorista, seguranças 24 horas), e R$ 35 mil de aposentadorias por cargos que ocupou no Maranhão - governador e funcionário do Tribunal de Justiça. Mas nem deve perceber quando esse dinheiro entra na sua conta. É como se o caro leitor recebesse um crédito mensal de R$ 0,10 no banco. Como poderia dizer um importante político, para ele isso é dinheiro de pinga.

...DE VERGONHA

A assessoria de imprensa da presidência do Senado informa que o acúmulo de dinheiro recebido de esferas distintas de poder ou de governo "é aceitável".

COMO É O NOME DELES?

Esta coluna colocará na internet o nome de todos os parlamentares que votarem a favor da legalização dos jogos ilegais. É uma informação muito útil à véspera das eleições: quem for a favor, ou contra, saberá em quem votar ou não.

E A LÍNGUA, SENHORES DOUTORES?

O chanceler Celso Amorim, referindo-se à tragédia do Haiti, disse que, "com a contribuição adequada da comunidade internacional, o povo haitiano será capaz de refundar seu país." Na véspera, falando do PAC 2, o governador baiano Jaques Wagner disse que o presidente Lula "está refundando a nação brasileira." Suas Excelências provavelmente não sabem o que estão dizendo: nos dicionários Houaiss, Aurélio e Caldas Aulete, a palavra refundar significa tornar mais fundo; afundar, tornar mais profundo, profundar, aprofundar. Ambos devem ter ido buscar o significado errado da palavra no poeta e ex-ministro Tarso Genro, que falava em "refundação do PT." Tarso e seus aliados, no sentido correto da palavra, fizeram o que puderam para refundar seu partido.

BONS NEGÓCIOS

De acordo com os últimos cálculos, a corrida de Fórmula Indy rendeu algo como US$ 120 milhões a São Paulo. Gastando menos, sem precisar reformar parte da cidade, a 13ª Office Solution, feira de artigos para escritórios, hospitais, shopping centers e hotéis, deve gerar negócios de R$ 275 milhões. A exposição, de amanhã até o dia 9, no Pavilhão da Bienal, em São Paulo, tem entrada gratuita. Espera-se a visita de 50 mil pessoas.




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