Política Titulo
Reforma tributária chega ao Senado
25/09/2003 | 22:15
Compartilhar notícia


A proposta de reforma tributária aprovada pelos deputados foi entregue nesta quinta-feira ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), com pompa, abraços e aplausos. "Missão cumprida. Agora a bola está com o Senado", resumiu o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Mas a despeito da satisfação de João Paulo e dos líderes da base governista que o acompanharam na entrega oficial da proposta, a principal inovação aprovada pela Câmara – a transição da cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercados e Serviços (ICMS) da origem para o destino, onde os produtos são consumidos – pode ser derrubada pelos senadores. "Aqui no Senado tudo corre o risco de ser mudado", avisou logo cedo o vice-presidente nacional do PFL, senador José Jorge (PE). "A insatisfação é grande demais", completou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI). Otimista, Sarney até previu o término da votação, em novembro.

Diante da enorme reação dos senadores e governadores das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, contra os ganhos que os Estados mais ricos do Sul e Sudeste obtiveram nas negociações da reforma na Câmara, líderes do governo e de partidos aliados já admitem que não será possível votar inteiramente a proposta. Para facilitar as negociações, a idéia é deixar para o ano que vem tudo o que envolve alíquotas interestaduais. "Nem tudo será votado em uma primeira etapa", diz o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).

Ele está convencido de que a única saída para destravar a reforma no Senado será fatiá-la, adiando a apreciação de algumas polêmicas, como a transição do local de cobrança do ICMS. Atualmente, a maior fatia do imposto é embolsada pelos Estados produtores, em sua maioria do Sul e Sudeste, e não pelos consumidores, localizados em geral nas três regiões menos desenvolvidas do país.

"Esta equação do ICMS é muito complicada e vai demandar mais tempo para envolver os partidos e os governadores na idéia da transição sem riscos. O problema é que muitos Estados concederam incentivos além do que podiam e agora estão apavorados com a cobrança da alíquota de transferência do ICMS", completa Calheiros.

Mas este é apenas um dos motivos da rebelião dos governadores do Norte Nordeste e Centro-Oeste, que já criaram o G-20, incluindo todos os Estados das três regiões. Eles querem estar unidos para defender seus interesses do lobby poderoso do G-7, que reúne os sete Estados mais ricos do Sul e Sudeste. É com este objetivo que os governadores do G-20 voltam a Brasília na próxima semana, para uma reunião com os líderes dos partidos do governo e da oposição. Mas antes, na terça-feira, todos os 27 governadores terão encontro com o presidente Lula na Granja do Torto.

O que interessa de fato ao governo é a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e da Desvinculação de Receitas da União (DRU), mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já avisou aos aliados que não quer patrocinar esta simplificação que pode soar como boicote à reforma.

O Senado terá muito trabalho antes de entrar na discussão do mérito da reforma tributária. Primeiro será preciso desatar o nó da relatoria da proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde PT, PMDB e PFL disputam o posto de relator.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;