Política Titulo Emendas
Sem deputado, Santo André vê emendas à cidade minguarem

Município vira lanterna em ranking regional na lista de repasses depois de fim do mandato do último parlamentar andreense

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
07/03/2021 | 00:01
Compartilhar notícia
Pixabay


Santo André é a cidade com o pior desempenho na relação entre emendas parlamentares da Assembleia Legislativa e número de habitantes no Grande ABC nos últimos dois anos, justamente no período em que não possui deputados.

Levantamento feito pelo Diário junto aos orçamentos estaduais e à lista de emendas propostas pelos deputados estaduais mostra desidratação do volume de receitas destinadas a Santo André desde o fim do mandato de Luiz Turco (PT), último parlamentar andreense, em 2018.

No orçamento vigente, aprovado pela Assembleia Legislativa em dezembro, R$ 1,75 milhão foram enviados para Santo André por meio de emendas. Per capita, a quantia representa R$ 2,43 por morador – são 721.368 habitantes em Santo André, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O número é muito abaixo da média regional – R$ 7,31 – e também inferior ao montante per capita de Rio Grande da Serra, menor município da região, que obteve R$ 7,78.

Na eleição de 2018, Santo André não elegeu representantes na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa. A maioria dos votos dos andreenses foi depositada para forasteiros. Na corrida a Brasília, o campeão de votos foi Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que atingiu 34.678 votos. Entre os postulantes a deputado estadual, o melhor desempenho foi de Janaina Paschoal (PSL), uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT), lembrada por 51.455 andreenses. A região elegeu seis deputados estaduais, sendo quatro de São Bernardo, Carla Morando (PSDB), Coronel Nishikawa (PSL), Teonilio Barba (PT), Luiz Fernando Teixeira (PT); um por Diadema, Márcio da Farmácia (Podemos); e um por São Caetano, Thiago Auricchio (PL). Já para a Câmara foram eleitos por São Bernardo Alex Manente(Cidadania) e Vicentinho (PT). 

“Nos últimos anos, o eleitor da cidade, com algumas exceções, tem dificuldade de votar nos candidatos locais. É um cenário que independe de partido. O eleitorado opta por candidaturas de fora do município e prejudica muito as candidaturas regionais e as da cidade. Quem perde é Santo André, que deixa de ter investimentos e emendas”, lamentou Turco.

O petista classificou como “erro” do governo do prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), ter pulverizado o apoio a candidatos a deputado na eleição de 2018. À ocasião, a Prefeitura tinha como aliados nas urnas Almir Cicote (Avante) e Professor Jobert Minhoca (PSDB) a estaduais e Ailton Lima (PSB) e Edson Sardano (PSD) a federal. Nenhum deles se elegeu. 

“Quem tem a máquina sempre acaba ajudando na articulação política. E era o que a gente apostou em 2014, quando o (Carlos) Grana (PT, ex-prefeito) decidiu lançar nossa candidatura. Ele pensou em projetos para frente, com trabalho coletivo. Não sei o que o PSDB e o Paulinho pensam sobre isso, mas vejo que foi perdida uma boa oportunidade de Santo André ter um deputado diante da coligação que ele formou em torno de si.”

O empresário Duilio Pisaneschi foi deputado federal por Santo André nos anos 1990, quando a cidade chegou a emplacar quatro nomes ao mesmo tempo nas duas casas – Celso Daniel (PT-federal), Professor Luzinho (PT-estadual) e Israel Zekcer (PTB-estadual), em 1994. Hoje com 80 anos, ele lembra do peso que o município tinha nos amplos debates políticos e o quanto ter um mandato alinhado com o governo federal ajudou na captação de recursos. Duilio foi vice-líder do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na Câmara Federal.

“Eu praticamente trouxe os R$ 30 milhões para concluir o (Hospital Estadual) Mário Covas. Trouxe recursos para a construção do porto seco de Santo André, na Avenida dos Estados, dinheiro para urbanização no Jardim Santo André, em processo de saneamento básico. Impedimos o processo de importação de pneus usados, para não matar a Firestone e Pirelli (empresas de Santo André). É sempre muito importante ter um deputado da cidade. Infelizmente não temos e acho que o Grande ABC é sub-representado ainda por cima”, comentou Duilio.

Duilio e Turco pedem ação por voto para nomes locais

Tanto Duilio Pisaneschi, que foi deputado federal por dois mandatos (1994 e 1998) quanto Luiz Turco (PT), parlamentar estadual entre 2015 e 2018, pediram a construção de um debate mais amplo para fazer com que o morador de Santo André tenha noção da importância de eleger representantes da cidade para as duas casas legislativas.

“Em 1994, a Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) e o Diário do Grande ABC fizeram a campanha do vote em candidatos da região. Foi um sucesso. Elegemos quase dez deputados (estaduais). É preciso voltar a ter esse tipo de mobilização, das mais variadas entidades de classe. Porque é inegável que temos perdido investimentos com a falta de deputados”, comentou Duilio, aposentado da vida política depois de passagens por PTB e PSDB e também após concorrer à Prefeitura de Santo André.

Naquele ano, além de Duilio, foram eleitos mais quatro deputados federais: Celso Daniel (PT-Santo André), José Augusto da Silva Ramos (PT-Diadema), Ivan Valente (PT-São Caetano) e Jair Meneguelli (PT-São Caetano). O Grande ABC também emplacou oito estaduais: Clóvis Volpi (PSDB-Mauá), Daniel Marins (PTB-São Caetano), Professor Luizinho (PT-Santo André), Gilson Menezes (PMDB-Diadema), Djalma Bom (PT-São Bernardo), Wagner Lino (PT-São Bernardo), Waldir Cartola (PTB-São Bernardo) e Israel Zekcer (PTB-Santo André).

Turco, hoje dirigente estadual do PT, reconhece a dificuldade em torno de união para um movimento coletivo por deputados. “Estive lá na Assembleia Legislativa com a cabeça de que conseguiria articular um mandato juntamente com os demais do Grande ABC. Infelizmente a atuação lá é solo. Você se dedica aos temas que pretende defender e, quando vê, os quatro anos de mandato se passaram. Tudo muito rápido.”

O petista avaliou que a cidade precisa fazer um debate sobre a necessidade de ter representantes na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa – ele disse defender que o PT andreense tenha nomes próprios nas duas corridas políticas, inclusive. “Mas é uma discussão que precisa ser amplificada, com outros atores políticos da nossa cidade, com formadores de opinião. Não é algo fácil, mas precisamos fazer isso crescer.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;