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Terceirização avança na produção
Por Eric Fujita
Do Diário do Grande ABC
18/09/2005 | 08:29
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Antes restrito a setores como limpeza, segurança e logística, o processo de terceirização começa a se insinuar no chão de fábrica da indústria automobilística. Como meio de aumentar ainda mais a produtividade e reduzir custos ao máximo, as montadoras com sede no Grande ABC já tinham iniciado em unidades de outras regiões do país a tendência de substituir funcionários próprios por parcerias com fornecedores. Além de fabricar as peças, os terceirizados também assumem determinadas fases da montagem dos carros.

No Grande ABC, o processo ainda não conseguiu tomar forma, principalmente devido à forte resistência oferecida pelo movimento sindical. Mas, conforme noticiou neste sábado o Diário, a Ford poderá inaugurar a terceirização de parcelas da produção na fábrica de São Bernardo.

Para aprovar pela matriz a criação de um novo modelo da montadora na região, empresa e sindicato fecharam acordo que prevê a terceirização parcial do setor de logística e total da segurança patrimonial. Também estabelece a criação de um condomínio industrial do ramo de autopeças para fornecer insumos dentro da própria unidade. O objetivo é o mesmo: cortar custos para deixar o produto mais competitivo no mercado interno.

A filosofia de terceirização da indústria automobilística tem como base o sistema denominado consórcio modular. Pelo conceito, cada prestadora divide o espaço e assume o encargo de fabricar e instalar um determinado equipamento no veículo diretamente na linha de produção, sempre no mesmo condomínio industrial. Os custos operacionais são divididos entre os parceiros.

O processo é empregado pelas principais companhias do setor, como Volkswagen, General Motors e Ford, mas em fábricas fora do Estado de São Paulo. Nas unidades paulistas, os sindicatos normalmente tentam barrar a terceirização. Nas fábricas do Grande ABC, toda a produção é executada por funcionários próprios das montadoras.

“É uma forma de evitar que a categoria saia perdendo com esse tipo de medida, como redução do nível salarial. Por esse motivo, há uma cláusula na convenção coletiva proibindo a terceirização dentro da produção no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (ligado à CUT)”, destacou o secretário de Organização da CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT), Valter Sanchez.

O avanço da terceirização no chão de fábrica reflete uma tendência que começou com a expansão nos serviços de apoio à produção, como limpeza, segurança, alimentação e setor logístico. As montadoras transferiram essas atividades para outras empresas de menor porte, visando reduzir custos operacionais, e concentraram a atividade própria no desenvolvimento de novos projetos.

Esse cenário também incentivou o aumento das atividades das prestadoras já existentes na região e a criação de outras firmas especificamente para atender ao crescimento da demanda. Concluída em 2001 pela Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, a Pesquisa de Atividades do Setor de Serviços Empresariais aponta que 57,9% das prestadoras criadas desde os anos 90 no Grande ABC surgiram para conquistar essa fatia aberta pelas indústrias automotivas.

De acordo com a pesquisa, 40,9% das empresas terceirizadas existentes operam nas montadoras e autopeças. Até o final da década de 80, essas empresas não atuavam no setor. Até 2001, segundo a pesquisa, o segmento de prestação de serviço para a indústria automobilística na região reunia pelo menos 851 firmas. O estudo da Agência de Desenvolvimento ainda é a principal base de análise sobre o assunto para os economistas da região.

Nas montadoras – A Volkswagen optou por parcerias para produzir ônibus e caminhões na fábrica de Resende, no Rio de Janeiro. Lá, existem nove fornecedores que produzem e instalam componentes nos veículos dentro da própria unidade, inaugurada em 1996. O mesmo acontece na produção do Celta, na fábrica da General Motors em Gravataí, no Rio Grande do Sul, cujas atividades começaram em 2000.

Mas o exemplo mais recente é o da Ford de Camaçari, na Bahia. O espaço foi aberto em 2002 e conta hoje com 25 parceiras, também chamadas de sistemistas. Esses fornecedores mantêm 4.919 dos 8.518 trabalhadores do complexo industrial da montadora, responsáveis pela fabricação do novo Fiesta Hatch e Sedan, além do EcoSport.

A Ford informou que reduziu custos e aumentou o índice de produtividade porque também teve ganhos logísticos com esse sistema. No entanto, não dimensionou esses ganhos. Só no ano passado, a fábrica de Camaçari produziu 195,6 mil veículos e atualmente trabalha com a capacidade máxima – suficiente para fabricar 250 mil unidades por ano.




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