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Matrículas na rede estadual caíram 4,23% no Grande ABC

Em 2019, foram 6.349 estudantes a menos; modelo de ensino não atende aos jovens

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
16/02/2020 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


 As matrículas na rede estadual caíram 4,23% em 2019, passando de 149.843, em 2018, para 143.494 estudantes no Grande ABC. Maior redução foi observada no ensino médio, onde o número de pessoas em sala de aula foi de 79.211 para 70.488 (-11,01%). Especialista avaliam que os dados da Secretaria da Educação do Estado, obtidos via Lei de Acesso à Informação, refletem que o modelo de educação adotado não está adequado aos jovens.

No ensino fundamental 1 (do 1º ao 5º ano), as inscrições caíram de 21.299 para 20.275 (-4,8%) no período. Único ciclo com aumento na quantidade de alunos foi o ensino fundamental 2 (do 6º ao 9º ano), cuja procura saltou de 49.333 para 52.731 (6,88%). Os números indicam apenas as matrículas na modalidade regular e não considera a EJA (Educação de Jovens e Adultos).

“No ensino médio, há um distanciamento entre a cultura dos jovens e o que a escola propõe e isso faz com que eles iniciem no primeiro ano, reprovem e acabem abandonando os estudos”, observa Paulo Sérgio Garcia, coordenador do Observatório de Educação da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). Segundo ele, um aluno abandona a escola nesta fase a cada hora, em média.

O especialista destaca que não apenas a recente reforma do ensino médio contribui para melhorar o quadro, mas também é necessário investimento por parte do Estado em mudanças na proposta de ensino, infraestrutura adequada e formação de professores.

Com os adolescentes desestimulados, a EJA acaba sendo opção para concluir a educação básica. Antes chamada de supletivo, a modalidade é destinada a maiores de 18 anos e, embora tenha o mesmo certificado do ensino regular, possui grade diferenciada e a conclusão é possível em cerca de um ano e meio.

De acordo com estudo do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS), baseado em informações do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e publicado em setembro, as matrículas nas turmas da EJA oferecidas pelo Estado cresceram 58,01% – de 9.221 para 14.571 – entre 2015 e 2018 na região.

“Alguns adolescentes nem se matriculam no ensino médio e vão para EJA para, supostamente, economizar tempo”, explica Ítalo Curcio, coordenador do curso de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Há 15 anos, a modalidade era para adultos que não tinham sido alfabetizados ou concluído o ensino regular, mas, atualmente, raramente encontramos pessoas com mais de 20 anos em salas do ensino médio da EJA.”

OUTROS FATORES

Ainda que tímida, Curcio aponta que há mudança de alunos da rede pública estadual para a privada. “Principalmente no ensino fundamental 1, há migração para escolas com mensalidades mais próximas ao que a classe C pode pagar”, aponta. Último levantamento do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo) indica que as matrículas se mantiveram praticamente estáveis em 137 mil entre 2017 e 2018 na região.

“O governo (do Estado) tem fechado muitas salas de aula no período noturno, justamente o período que afeta diretamente os estudantes do ensino médio, pois muitos alunos trabalhadores precisam estudar a noite e, quando estas turmas fecham, acabam desistindo”, observa André Sapanos, coordenador da subsede de Mauá da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo).

Estado atribui queda à diminuição da população em faixa etária escolar

A Secretaria da Educação do Estado justificou que a redução de 4,23% nas matrículas foi em razão da queda da população em faixa etária escolar, que envolve crianças e jovens de 6 a 17 anos. Contudo, a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) indica que este público tem caído, em média, 1,3% ao ano desde 2008, portanto, a queda nas inscrições é quase quatro vezes maior.

“Ainda não é possível indicar se esta é ou não uma tendência, mas é fato que a população vem diminuindo nacionalmente nos últimos 20 anos”, avalia Ítalo Curcio, coordenador do curso de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Entre 2014 e 2018, a fecundidade caiu em toda região, chegando a 11,1% em Diadema, segundo dados da Fundação Seade, divulgados no início do mês.

O comunicado da administração de João Doria (PSDB) garante, ainda, que realiza trabalho de busca ativa para que estudantes que tenham interrompido os estudos no ano anterior voltem às salas de aula no ano vigente.




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