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Déjà-vu do impeachment

Passado um ano da queda de Dilma Rousseff do comando do Brasil, PT vê em Lula sua única salvação eleitoral em 2018, mas volta a costurar aliança com lideranças que a sigla acusou de aplicar golpe na 1ª presidente mulher do País

Junior Carvalho
27/08/2017 | 07:00
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Roque de Sá/Agência Senado


 Um ano depois da efetivação da saída do PT após 13 anos ininterruptos no poder, o partido ainda patina quando o assunto é futuro. Desde o afastamento definitivo da primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff (PT), em 31 de agosto de 2016, a legenda crê no retorno do poder apostando em seu maior líder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto em 2018. Nesse período, o PT reduziu drasticamente seu poderio nas eleições municipais – perdeu significante número de prefeituras conquistadas no Estado e, pela primeira vez na história do partido, não venceu em sequer uma cidade do Grande ABC.

Indefinido juridicamente por conta da condenação e dos processos em que o ex-presidente é réu (entre eles, na Operação Lava Jato), eventual candidatura de Lula é apresentada pelo partido como solução às crises política e econômica do País. Mas, apesar de classificar a queda de Dilma como golpe, o PT começa a traçar alianças com lideranças dos partidos acusados pelo petismo de patrocinar a saída “injustificável” da então presidente. Um dos exemplos foi o comício feito por Lula em Penedo, nas Alagoas, em que o líder petista foi só elogios ao senador Renan Calheiros, um dos maiores expoentes do PMDB do presidente da República, Michel Temer – antes aliado e hoje algoz.

O cientista político Rudá Ricci avalia que o PT tem aproveitado o desgaste dos adversários, mas precisa discutir o futuro além das eleições de 2018. “O PT não tem programa claro. O partido não fala sobre alternativas. Quais são as propostas do PT a não ser a restituição do lulismo?”, questiona, ao emendar que, caso o petismo saia vitorioso na corrida eleitoral de daqui um ano, terá problemas para governar.“O partido pode até ganhar em cima do fracasso dos outros, mas não vai governar sobre esse revés”.

O ‘volta, Lula’, somado à mobilização do partido em torno da defesa jurídica do cacique petista nas ruas e nas redes sociais, porém, deixaram a atuação político-partidária da legenda no Grande ABC em segundo plano. Em Santo André, São Bernardo e em Mauá, por exemplo, onde tiveram de trocar o campo governista pelo da oposição, a atuação de parlamentares frente às gestões tucanas ou aliadas ao PSDB foi tímida no primeiro semestre das novas gestões.

Ex-prefeito andreense e atual coordenador regional do partido, Carlos Grana reconhece que o foco do partido atualmente é a eleição de Lula no ano que vem. “A esperança dos petistas, e acho que da maioria do povo brasileiro, é com o retorno de Lula. O povo foi levado pela aliança golpista de Temer, do PSDB e com a participação da grande mídia, mais particularmente da Rede Globo. Tiraram uma presidente legitimamente eleita e jogaram no lixo 54 milhões de votos.”

Deputado estadual com base em São Bernardo, Luiz Fernando Teixeira avalia que o impeachment de Dilma é uma “página que jamais será virada”. Seu discurso também está reduzido às críticas ao governo Temer e à volta do PT ao Planalto. “Em relação (à atuação do PT frente) aos governos municipais, várias lideranças adotaram a lógica de dar um tempo aos prefeitos. Esse negócio de fazer oposição por oposição e ficar só gritando não é a cara do PT atual. Tem de fazer oposição consciente.”

“Nós vamos recuperar as prefeituras em 2020. Escreva isso. Sofremos um forte ataque contínuo desde 2005 e chegou no fundo do poço em 2016. Estamos em franco processo de recuperação de imagem”, projeta Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo e atual presidente do PT paulista.

Promessas de Temer também empacam
Se por um lado o PT patina para projetar o futuro, por outro surfa nas dificuldades políticas do governo Michel Temer (PMDB) e no bombardeio causado pela Operação Lava Jato, que atingiu pessoalmente o peemedebista nos últimos meses.

Envolto no pior índice de aprovação que um presidente brasileiro já teve desde a redemocratização – segundo o Ibope, tem míseros 5% de ótimo ou bom –, Temer enfrenta cenário pior que o de Dilma Rousseff (PT) às vésperas do impeachment e ainda não conseguiu entregar o pacote de reformas, apresentado pelo presidente como solução para as contas públicas diante a crise.

De maio para cá, a conjuntura azedou ainda mais, quando a delação dos irmãos Joesley Batista e Wesley Batista, do grupo JBS, estremeceu o governo. Temer foi acusado pelos empresários de série de crimes, entre eles o de consentir com a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB).

Meses depois, o presidente foi denunciado formalmente pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pelo crime de corrupção passiva. A denúncia atrasou a agenda econômica do governo, que conseguiu emplacar mudanças nas leis trabalhistas, mas ainda não tirou do papel as alterações na Previdência.

Diferentemente de Dilma, que não reverteu o revés político no Congresso, Temer conquistou votos suficientes para derrubar a denúncia de Janot na Câmara. Ainda assim, sujeito a ser denunciado novamente pela PGR, o presidente ainda não abocanhou apoio suficiente para encaminhar a reforma previdenciária.

TUCANATO
Enquanto isso, o PSDB se divide sobre desembarcar ou não do governo Temer e assiste a disputa interna, a um ano da eleição, para definição do presidenciável da legenda: o governador Geraldo Alckmin ou o prefeito da Capital, João Doria. Derrotado em quatro eleições consecutivas (2002, 2006, 2010 e 2014), o tucanato é um dos principais partidos que têm patrocinado mudanças nas regras eleitorais a partir de 2018.




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