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Lá vem torpedo; o que fazer agora?
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
28/01/2011 | 07:00
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Nário Barbosa/DGABC


O cadastro para receber torpedos do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), do governo do Estado, avisando sobre chuva forte veio tarde para a professora Aparecida Avelaneda Grande, 43 anos. Na terça-feira da semana passada, a mãe dela, Antonia Avelaneda Grande, 63, morreu afogada dentro de casa após a enchente do Córrego Corumbé, no Jardim Zaíra, em Mauá.

Depois de enterrar o corpo, Aparecida deu de cara com o técnico do Daee. De prancheta na mão, ele recolhia números de celulares dos moradores da Rua Francisco D'Aoglio para enviar mensagens em caso de temporal.

Aparecida fez questão de cadastrar o seu, mesmo depois da tragédia. "Se tivessem avisado, meus pais poderiam ter saído antes", afirmou.

Após a passagem do Daee, na semana passada, não voltou a chover forte no Zaíra. Os moradores, porém, aguardam a próxima enchente resignados. "Esse terminal de ônibus piorou tudo, porque o muro que foi erguido para separá-lo do rio empurra a água para dentro das casas, que estão mais baixas que o leito", disse Aparecida. Antes do terminal, o terreno na Avenida Castelo Branco era uma base do Corpo de Bombeiros, que poderia ter ajudado a salvar a vida de dona Antonia.

DÚVIDA
Outro morador que sofreu com a enchente foi o professor Cleilton Omena da Silva, 32. "Quando percebi que a água não ia baixar, quebrei as lanças do portão e sai nadando", relembrou. O técnico do Daee também levou o número do telefone dele. "Será que isso vai funcionar?", questionou.

A vizinha Aparecida Leal Villanova duvida. "Mesmo que eu receba a mensagem, não tenho para onde ir", lamentou.

O Daee monitora as chuvas em quatro córregos do Grande ABC: Corumbé, em Mauá; Oratório, em Santo André; Ribeirão dos Couros, em São Bernardo; e Ribeirão dos Meninos, em São Caetano. O objetivo é cadastrar todas as famílias do entorno para receber o alerta pelo celular. O problema é que não há abrigos temporários próximos, nem qualquer tipo de orientação para os moradores.

O cadastramento também será realizado nas encostas, portanto, deve passar pelo morro do Macuco. Ali, o aposentado Antonio Manuel da Silva, 73, quer receber o torpedo. Mas não sabe bem o que fazer depois dele. "Se a gente não tem para onde ir, a mensagem só vai servir de alerta para começar a rezar".

Abrigo provisório do Zaíra recebe primeiras famílias, finalmente

Quase um mês depois do primeiro deslizamento de terra no morro do Macuco, no Jardim Zaíra, em Mauá, o cadeado do abrigo provisório finalmente está aberto. A tenda branca foi erguida pela Prefeitura para abrigar moradores que tiveram de deixar as casas por risco de desabamentos.

Mesmo sem poder entrar no local, a equipe do Diário conseguiu contar ao menos duas famílias vivendo ali. Uma mulher lavava roupa no tanque do lado de fora da tenda. Outra cuidava de três ou quatro crianças, para quem a casa nova não passava de brincadeira.

O entorno está protegido por guardas-civis. Uma funcionária impediu a entrada da equipe do Diário, alegando que queria "preservar a privacidade das famílias". A Prefeitura foi procurada para dizer quantas pessoas estão no abrigo, mas não respondeu.




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