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Diário comemora 40 anos da conquista do Prêmio Esso
Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
17/12/2016 | 07:00
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DGABC


“Achavam que a gente estava exagerando quando observávamos o sofrimento da população e alertávamos sobre as questões do subemprego e da sub-habitação, fruto da falta de planejamento da industrialização. Hoje, vemos que a situação do Grande ABC só piorou e que outras regiões seguiram nosso péssimo exemplo”. A afirmação do jornalista e colunista do Diário Ademir Medici se refere ao tema que deu origem à série de reportagens intitulada A Metamorfose da Industrialização, assinada em parceria com Édison Motta (1953-2015), e vencedora do Prêmio Esso na categoria regional há exatos 40 anos.

O material, produzido em menos de um mês, foi publicado nos dias 29 e 31 de agosto de 1976. Quatro meses depois, a consagração: ‘Paparam’, como gostava de dizer Motta, o mais importante prêmio jornalístico do País, concorrendo com jornais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “A gente não esperava. A grande questão foi o tema. Mais do que reportagens bem escritas, o ineditismo foi fundamental. Tanto que esperávamos ganhar com a segunda série, o que não aconteceu e foi decepcionante”, lembra Medici. O Desencanto da Industrialização, continuação do trabalho publicada em agosto de 1979, estendeu o enfoque para outras regiões brasileiras. “Tecnicamente foi melhor e mais abrangente, mas não tinha mais a novidade”, complementa.

Em material publicado em maio de 2008 pela Revista Livre Mercado, em comemoração aos 50 anos do Diário, Motta destacou o significado da premiação. “O Esso Regional veio como espécie de consagração de um momento intenso e mágico onde, pela primeira vez, o chamado progresso, o eldorado industrial brasileiro foi questionado. Mostramos, na série de reportagens, o outro lado da moeda. A poluição, as favelas, a destruição do meio ambiente e a rotatividade da mão de obra que já se fazia acompanhar do desemprego.”

Apesar do alerta dos então jovens jornalistas, a falta de atenção acerca do tema e nenhuma ação no sentido de evitar os problemas previstos por parte dos gestores públicos ao longo dos anos foram determinantes para o cenário atual, considera Medici, eterno apaixonado pela profissão. Em comunhão com o parceiro de reportagens, Motta escreveu, em 2008, que “o mito do desenvolvimento econômico e a metamorfose da industrialização deixaram como herança a violência, a criminalidade, o caos da Saúde e do trânsito. A região segue a rota do caranguejo: caminha sem sentido, para os lados e para trás, enquanto, no restante do País, são reprisados os mesmos erros aqui cometidos há mais de três décadas.”

Quarenta anos depois, a frase de abertura da reportagem digna do Esso, do economista Celso Furtado (1920-2004) segue atual. “Temos a prova definitiva de que o desenvolvimento econômico – a ideia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas da vida dos atuais povos ricos – é simplesmente irrealizável.”

Para Medici, fica a sensação de dever cumprido, além das lembranças felizes de um ano recheado de boas notícias pessoais. “Foi o ano do nascimento do meu filho, do recebimento do prêmio”. O espírito de repórter destemido e disposto a concorrer a outro Esso também se mantém, embora tenha perdido o parceiro, bem como a indignação frente aos problemas sociais externada por Motta à publicação de 2008. “O que mais assombra é que o tema parece não incomodar a maioria das pessoas. Cada qual toca a vida em seu casulo, indiferente à metamorfose coletiva que, certamente, não vai gerar borboletas.”




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