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CUT adota 10% como reajuste salarial
Luciele Velluto
Do Diário do Grande ABC
12/08/2007 | 07:06
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Após anos batendo na mesma tecla da redução de jornada para 40 horas, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) resolveu mudar a estratégia de orientação da Campanha Salarial 2007 para seus sindicatos.

E não é só isso que a central quer mudar neste ano. O presidente da entidade no Estado de São Paulo, Edílson de Paula, já avisa que a briga por reajuste salarial vai ser grande, com índice de 10% para todas as categorias, mas a pauta econômica não pára por aí.

Para o dirigente, assim como as empresas organizam seus investimentos para os próximos anos, os trabalhadores também têm de planejar as reivindicações econômicas, com acordos que durem três anos.

Edílson de Paula também fala da PLR (Participação dos Lucros e Resultados) e as conseqüências que o abono traz para a vida dos trabalhadores, sobre a Previdência Social e reconhecimento de entidades sindicais.

E o sindicalista ainda cometa o alinhamento das centrais com o governo Lula, crítica constante ao movimento sindical atual.

DIÁRIO – Qual o caminho que CUT vai adotar para a Campanha Salarial 2007?

EDÍLSON DE PAULA – Estamos orientando as categorias, pois são 2 milhões de trabalhadores em campanha nesse segundo semestre só da CUT. Todos os seguimentos econômicos estão sorrindo até a orelha, com o balanço dos bancos e o ramo metalúrgico deitando e rolando de produzir e faturar. E os trabalhadores vão tirar proveito disso.

DIÁRIO – E como será isso?

EDÍLSON DE PAULA – Trabalhamos com um índice comum a todos, após um levantamento do Dieese. Achamos que com a alta da produção e as previsões para o PIB subindo, poderemos reivindicar a todos aumento de 10%. Seria 5% a 6% de aumento real, pois as expectativas são de a inflação fechar de 4% a 4,5% no ano.

DIÁRIO – Não é um índice muito alto? Não vai ser difícil conquistar um reajuste desse?

EDÍLSON DE PAULA – Difícil vai ser, mas não precisa ser todo negociado agora. Estamos trabalhando a idéia de acordos de longo prazo. Os metalúrgicos das montadoras já fazem isso há dois anos, mas queremos ampliar para três. Estamos orientando também para que não se tenha pressa em fechar acordo coletivo. Até porque, podemos buscar uma unificação das classes pela campanha salarial, que traz uma força maior para pressionar o setor patronal.

DIÁRIO – Seria um parcelamento do reajuste.

EDÍLSON DE PAULA – Se os empresários estão dizendo que esse crescimento é sustentável, que vai permanecer, por que não os trabalhadores não podem fazer uma pauta de médio a longo prazo? Por que só as empresas podem fazer os seus planejamentos de investimento e crescimento? Em um momento desse também vamos buscar acordos que leve estabilidade ao trabalhador por mais tempo.

DIÁRIO – Mas, na mesa de negociação, a situação econômica costuma mudar?

EDÍLSON DE PAULA – Parece que para o segmento empresarial, quando vai para a negociação de salário, esquece esse sorriso, esquece que está bem a economia. Fica enrolando. Só que não precisa haver afobação ou pressa dos sindicatos, pois se o setor patronal está muito frio, vamos deixar esquentar.

DIÁRIO – E quanto à jornada de trabalho, a CUT mantém a posição de redução para 40 horas semanais?

EDÍLSON DE PAULA – Perdemos um pouco o foco na discussão sobre jornada de trabalho. Se pegar a história, nós só conseguimos reduzir em 1988 porque várias categorias já tinham conseguido chegar às 44 horas, o que acabou virando lei. Só conseguimos uma jornada menor quando a economia estava aquecida. Nós achamos que essa discussão deve voltar, mas não falar mais de 40 horas semanais, porque as categorias que têm peso e que puxam movimento já estão nesse patamar ou próximo, como metalúrgicos, químicos e bancários. Não é mais uma luta de todos os trabalhadores.

DIÁRIO – E qual será o objetivo novo para a jornada?

EDÍLSON DE PAULA – Montamos a estratégia de adotar a redução de 10% em todas as jornadas como meta em todas as categorias. Quem faz 44 vai para 40, quem faz 40 vai para 36. É regulamentar a jornada existente, já que nem todo mundo faz 44 e nem todo mundo faz 40.

DIÁRIO – E as horas extras?

EDÍLSON DE PAULA – Se não tomar cuidado, corremos o risco de trabalhar e não gerar emprego. As empresas vão aumentar a jornada através da hora extra. Isso leva a discussão de limitá-las, estabelecer claramente a jornada. Não ultrapassar duas horas diárias de extra e também devemos elevar o valor do adicional para que custe tão caro quanto contratar um novo trabalhador.

DIÁRIO – Com os bons resultados das empresas, a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) também chegar ao máximo?

EDÍLSON DE PAULA – Sim, mas a participação dos resultados traz questões importantes. Temos poucas empresas que dividem realmente os lucros. E as empresas também viram que isso pode ser usado ao seu favor, que é colocar um ritmo de trabalho maior, aumento das metas e da produção. Por isso que precisa ser muito bem debatido, para que o trabalhador não seja levado a exaustão só para ter esse abono. Só que o setor empresarial não quer aceitar dividir o bolo.

DIÁRIO – A CUT é contra a reforma da Previdência Social?

EDÍLSON DE PAULA – Nós não somos contra a reforma, desde que não venha na linha de prejudicar o trabalhador. Só que não dá para o governo Lula e o ministro Luiz Marinho, ambos do movimento sindical, deixarem o fator previdenciário aí prejudicando o trabalhador. Quanto às medidas anunciadas essa semana, de acabar com as filas, isso já tinha sido prometido por outros ministros. Mas vamos apostar.

DIÁRIO – E qual a expectativa da CUT para o reconhecimento das centrais?

EDÍLSON DE PAULA – Eu acredito que isso não vai dar nenhum impacto para os trabalhadores. Vai resolver as contribuições das centrais. Mas no que diz respeito ao movimento sindical brasileiro é um grande avanço. O governo também está falando da convenção 158, que é garantir a organização sindical no local de trabalho. Se isso acontecer, será um avanço maior do que o reconhecimento, porque haverá democracia no local de trabalho. Prefiro a obrigação da organização dos trabalhadores nas fábricas do que o reconhecimento das centrais. Eu trocaria.

DIÁRIO – A CUT, assim como as centrais, não estão pouco críticas em relação ao governo Lula?

EDÍLSON DE PAULA – Teve muita gente que disse que com o Lula na presidência, a CUT iria acabar. Acho que a CUT lidou bem com isso. Poderia ser melhor, pois falha em algumas coisas, mas não compromete a autonomia.

DIÁRIO – Que tipo de falha?

EDÍLSON DE PAULA – Falha porque a CUT acredita que um ex-dirigente nosso que está no governo pode sancionar coisas nossas rápidas. E não é bem assim. Governo é governo, CUT é CUT. O movimento sindical diminuiu a mobilização porque agora é outro contexto do que o governo anterior. A economia teve outro caminho. Se fazíamos mais greves é porque tínhamos mais demandas. As demandas hoje são outras, não podemos continuar sendo a mesma dos anos 1980.



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