“A peça fala sobre o fracasso de um homem que se dedicou a outro, mitificando-o. Também retrata os problemas cotidianos de uma família sob a ótica do sofrimento daquele que não deu certo”, diz Vilela. O fracassado em questão é o amargo Vânia (Vilela), que administra a fazenda do professor Serebriakov (Rogério Fróes). Quando este volta da universidade, casado com a jovem e bela Helena (Débora), surgem os conflitos.
Na fazenda mora Sonia (Bel Kutner), filha de Serebriakov com a irmã falecida de Vânia. Maria (Suzana Faini), mãe de Vânia, a empregada Ba (Ida Gomes) e o agregado Teleguine (Alby Ramos) também vivem lá. A eles se junta o médico Astrov (Luciano Chirolli). Num ambiente no qual frutifica o egoísmo, Vânia e Astrov se sentem atraídos por Helena. Vânia, por sinal, descobre que Serebriakov não possui o brilhantismo que se imaginava.
Vilela confirma a atemporalidade e a proximidade do texto em relação ao Brasil: “Não conheço a Rússia, mas li autores russos. É incrível como o pensamento deles naquele tempo é parecido com o nosso. Há uma visão passional do sofrimento próxima da nossa e diferente, por exemplo, da norte-americana, anglo-saxã”.
O ator, porém, não encontra uma analogia no plano político-social – a Rússia se encontrava no período pré-revolucionário quando Tchecov escreveu. “Na peça vê-se uma burguesia decadente, mas Tio Vânia aborda mais o sentido da atitude humana, a mesquinhez e o amor. Tchecov mostra a vida na essência, como a condição humana leva ao conflito. Mostra o sofrimento com poesia, o que dá uma abrangência maior a ele. A peça é inquietante até para quem a faz”, diz.
A montagem estreou no Rio, no Parque Lage – a encenação utilizava o jardim e a piscina de uma mansão construída na virada para o século XX. “Com a mudança para o palco italiano (convencional), o espetáculo ganhou intimismo”, diz Vilela.
Tio Vânia – Teatro. De Anton Tchecov. Tradução de Millôr Fernandes. Direção de Aderbal Freire-Filho. Com Diogo Vilela, Débora Bloch, Luciano Chirolli, Bel Kutner, Suzana Faini, Alby Ramos, Rogério Fróes e Ida Gomes. Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 18h. No Teatro Faap – r. Alagoas, 903, São Paulo. Tel.: 3662-7233. Ingr.: R$ 40 a R$ 50. Até 5 de outubro.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.