Setecidades Titulo Grande ABC
Centenário de muitas histórias

Número de idosos com 100 anos ou mais
aumenta 14% na região, totalizando 155 moradores

Por Vanessa de Oliveira
do Diário do Grande ABC
27/06/2016 | 07:07
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


Um século. Esse é o tempo vivido por uma parcela de moradores do Grande ABC, que chegaram aos 100 anos de vida. Quando divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o Censo 2010 mostrava que os centenários da região eram 136 pessoas. Em 2015, levantamento do Inpes/USCS (Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano), com dados obtidos no IBGE, apontou que essa população cresceu 14%, com 155 moradores nas sete cidades.

E a tendência é que o público aumente ainda mais. “O Brasil é um dos cinco países que atingirá a marca de um milhão de centenários até 2100”, fala o médico geriatra e responsável pelo ambulatório de Super-Idosos da Divisão de Geriatria do HC-FMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), Paulo de Oliveira Duarte.

O especialista, que concluiu em dezembro do ano passado pesquisa para avaliar a qualidade de vida dos centenários ribeirão-pretanos, lista os fatores que têm contribuído para a longevidade. “O saneamento básico em grande parte dos locais; os cuidados de saúde, como a vacinação, que tem importante impacto; o desenvolvimento infantil está melhor; o combate a doenças infecto-contagiosas e há o maior controle das doenças crônicas degenerativas, como hipertensão, diabetes e colesterol.”

Com outro adendo, a população jovem de hoje tem maiores chances de chegar aos 100 anos, ressalta Duarte. “Muitas pessoas têm maior acesso à informação e, somando isso com hábitos de vida saudáveis, temos condições de nos prepararmos, porque nós seremos os idosos e, se tudo correr bem, os centenários do futuro”, afirma.

Não há informações concretas sobre quantos idosos com 100 anos ou mais vivem em cada cidade. Apenas a Prefeitura de São Bernardo possui levantamento (são 24 pessoas), e em São Caetano, são seis centenários cadastrados no Sistema Terceira Idade, da administração.

A mais idosa da cidade são-caetanense é Judit Tita Panagassi, que no dia 14 de maio completou 106 anos. Nascida em Dourado, no Interior paulista, as lembranças do passado estão vivas em cada detalhe. “Nasci em casa de tábua e me lembro que, com 5 anos, andava por toda a colônia. Na roça, eu trabalhava das 8h às 17h carregando cesta na cabeça com lenha e capim. Minha saúde é boa. Não tenho nada, só idade mesmo”, diz, aos risos. Ao falar como chegar aos 106 anos tão lúcida, ela se emociona. “O segredo é Deus”, diz ela, que não podendo ir à missa por dificuldade de locomoção, assiste diariamente às celebrações transmitidas pela TV.

Também no mês de maio, Alzira Pereira de Araújo, que mora em São Bernardo e nasceu em Pernambuco, fez 101 anos. Viúva há 42, ela recorda o que fez para ficar com o único amor que teve na vida. “Arrumei um namorado, mas meu pai não queria o relacionamento, então, fugi a cavalo com ele”. A fuga resultou em casamento, que originou 12 filhos, 21 netos, dez bisnetos e dois tataranetos.

Das coisas que mais gosta de fazer está trabalhar como costureira. “Faço algumas peças, conserto e vendo roupas”, conta ela, que é vaidosa e não sai de casa sem alguns adornos, como cachecol e anéis.

Nascida em São José do Rio Pardo, no Interior, e moradora de São Bernardo há quase seis décadas, Almerinda Pavan de Araújo, 102, orgulha-se em dizer que nunca tomou remédio. A vitalidade é comprovada quando ela ouve uma música e logo se põe a bailar. “Gosto muito de dançar, principalmente um forrozinho. Se me colocar no salão, danço a noite inteira.”

Como dizia a filosofa francesa Simone de Beauvoir: “Viver é envelhecer, nada mais”.

Maioria dos que conseguem chegar a essa idade é mulher

Chegar aos 100 anos tem sido mais comum às mulheres. Em São Bernardo, por exemplo, das 24 pessoas com 100 anos ou mais, 20 são do sexo feminino. Os cuidados com a saúde que elas têm são destacados pelo médico geriatra Paulo de Oliveira Duarte, para explicar a situação. “Ao longo da vida, são pessoas que tiveram menos vícios, alimentaram-se e cuidaram-se melhor. Os homens geralmente chegam menos aos 100 anos, mas o interessante é que, quando chegam, a capacidade funcional desses homens é melhor do que as mulheres”, ressalta.

“Talvez uma reserva musculoesquelética maior do que a mulher faz com que os homens sejam mais independentes, se ultrapassarem as barreiras das doenças associadas à mortalidade”, completa.

O são-bernardense João Gava é exemplo dessa autonomia. Aos “103 anos e quatro meses”, como ele diz ao responder sobre a idade, trabalha em sua própria casa todos os dias, produzindo brinquedos de madeira e artigos para as donas de casa, como bandejas e abajures. O serviço é feito por puro prazer, já que os itens não são comercializados. “Dou de presente. No caso das crianças, elas ficam muito alegres, porque é um brinquedo diferente dos que tem agora.”

Para ele, viver mais de 100 anos é simples. “É só não morrer antes”, revela cheio de vitalidade e bom humor.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;