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Mercosul fará esforço para integrar mapa da América
Do Diário do Grande ABC
27/08/2000 | 16:44
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O Mercosul apostará tudo na reuniao de cúpula de quinta e sexta-feira próximas em Brasília no sentido de integrar o mapa da América do Sul, embora sua própria geografia continue estremecida pelas desigualdades, crises econômicas e desconfianças mútuas.

A fraturada uniao aduaneira de Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, associada externamente ao Chile, se abraçará com ameaçadas democracias da Comunidade Andina das Naçoes (CAN), formada por Bolívia (também sócia externa do Mercosul), Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.

Cerca de 220 milhoes de latino-americanos (quase a metade do total) vivem na pobreza, com altos índices de desemprego ou empregos precários, segundo a Comissao Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). E

ste ano, contudo, a economia de toda a América Latina crescerá 4%, quebrando um período de estancamento ou de franca recessao, depois das crises asiática e russa e da desvalorizaçao do real brasileiro no ano passado, segundo as projeçoes do mesmo órgao.

Essas crises ameaçaram a unidade do bloco fundado em 1991 e posto em funcionamento em 1995, com disputas que vao do açúcar ao aço, passando pelos frangos e pelos automóveis.

Fontes diplomáticas lembraram que o Brasil esmurra a mesa para que a Argentina nao ponha mais barreiras a seus produtos, enquanto a Argentina pressiona para que desapareçam os subsídios produtivos brasileiros, que prejudicam suas mercadorias e investimentos.

Uruguai e Paraguai nao se conformam em ser convidados "de pedra". Os uruguaios estariam dispostos a firmar uma ampliaçao do mercado, mas sem criar mais burocracia, enquanto o Paraguai grita contra as restriçoes nao alfandegárias.

O que nenhum país parece pôr em pauta de julgamento é a necessidade de cerrar fileiras para aumentar o poder de negociaçao ante os Estados Unidos na Area de Livre Comércio das Américas (Alca) e ante a Uniao Européia (UE).

Assumidos como `Davis' ante os `Golias' da globalizaçao, argentinos, uruguaios e paraguaios nao se importam de ser companheiros de estrada dos orgulhosos brasileiros, embora a pergunta seja até onde estao dispostos a caminhar a seu lado.

O chanceler brasileiro Luiz Felipe Lampreia disse com todas as letras, durante a visita da secretária norte-americana de Estado, Madeleine Albright, que ``Brasil e Estados Unidos se firmam particularmente em manter uma atitude autônoma na hora de tomar suas decisoes em funçao de seus interesses nacionais'.

Semelhante declaraçao de princípios indica claramente que o Brasil nao entraria nas águas agitadas de uma intervençao estrangeira na Colômbia ou nos assuntos internos do Peru.

No terreno econômico, o Brasil - cujo PIB equivale a 46% do PIB de toda a América do Sul - também nao parece disposto a ajoelhar-se ante Washington, mas os sócios mais modestos que tem no Sul temem suas pretensoes hegemônicas.

O Brasil também costuma ser suspeito de zelar apenas por seus interesses, como quando em janeiro do ano passado desvalorizou sua moeda ou quando em julho passado firmou por conta própria um acordo de preferências alfandegárias com a CAN.

``Nossos interesses e os dos demais sócios do Mercosul se haviam distanciado muito nos últimos tempos e por isso decidimos negociar separadamente', explicou entao o subsecretário geral de Assuntos de Integraçao, Economia e Comércio Exterior do Brasil, José Alfredo Graça Lima.

Meses depois, a Argentina também firmou um acordo de reduçao de tarifas alfandegárias com os países da CAN. O presidente argentino, Fernando de La Rúa, irá ao encontro de Brasília com a meta de ``uma América Latina unida para uma açao de consenso', revelou o chanceler Adalberto Rodríguez Giavarini.




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