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Crachá de corredor vira praxe no PS de S.Bernardo
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
22/10/2005 | 07:33
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A falta de leitos para a internação voltou a ser a imagem mais emblemática do Pronto-Socorro Central de São Bernardo. Apesar da reforma, concluída há menos de um ano, pacientes lotam os corredores do prédio e chegam a passar dias recebendo atenção improvisada. O déficit de vagas já foi institucionalizado pela administração do PS: os acompanhantes ganham crachá com a identificação "corredor" e com o respectivo número da maca ocupada pelo doente.

A auxiliar de limpeza Rosângela Serpa da Costa, 34 anos, passou cinco dias com a filha Elisângela, 17, em observação no PS Central. Na sexta-feira, dia 14, pela manhã, a jovem chegou à emergência de ambulância, encaminhada pela unidade do Riacho Grande, com fortes dores no estômago. Os médicos diagnosticaram infecção no pâncreas, conta a mãe. Desde então, a estudante permaneceu deitada numa maca, ao lado de outros pacientes, ligada ao soro e a analgésicos. Foi liberada na tarde da última terça-feira. Só deixou o corredor porque recebeu alta.

"Ninguém me dava informação ou me explicava quanto tempo minha filha tinha que ficar ali. Só falaram que ela não ia para o quarto porque não tinha vaga. Passei todas as noites dormindo numa cadeira, para não deixar a menina sozinha", afirma Rosângela, que usou durante o período um crachá com a identificação "Acompanhante - Corredor - Maca 59".

Familiares de outros pacientes contam que pelo menos outras 15 pessoas estavam enfileiradas ao lado de Elisângela e enfrentavam a mesma situação. Uma senhora teria passado três dia numa maca esticada no chão. O marido que a acompanhava tinha de ficar ajoelhado para conversar com a mulher. Ela não tinha sequer travesseiro para acomodar confortavelmente a cabeça: a bolsa foi improvisada como apoio.

Reinaugurado em dezembro passado, o PS Central passou por reformas para ampliar a estrutura disponível, que já não era suficiente para atender a grande demanda. As obras custaram R$ 8 milhões e dobraram o número de leitos para internação, de 63 para 120. No dia em que cortou a fita das novas instalações, o prefeito e cardiologista William Dib (PSB) enfatizou que as cenas antes comuns - referindo-se aos pacientes amontoados nos corredores - seriam evitadas. Nas contas da Secretaria da Saúde, com a ampliação do PS seria possível atender, em média, 1,5 mil pessoas por dia.

Na semana passada, a Prefeitura afirmou que a demanda no PS Central cresce a cada dia. Daí a falta de vagas para internação, mesmo com o aumento da capacidade de atenção. Hoje, cerca de mil pacientes são atendidos diariamente no local, segundo a própria Prefeitura. O município diz que o fato de permanecerem em macas no corredor não caracteriza abandono dos pacientes.

A Prefeitura explica ainda que todos os acompanhantes são identificados com crachá para garantir mais segurança aos médicos e usuários.

Descaso - Além da falta de leitos para internação, Rosângela protesta contra o atendimento que a filha recebeu. "Ela passou uma tarde inteira com o soro seco, chorando de dor. A enfermeira se recusava a trocar. Tive que implorar para que me ajudassem." Cansada de esperar por uma satisfação da equipe, a mãe acionou o Conselho Tutelar e contou o caso ao Diário. Logo depois que a conselheira e a reportagem chegaram ao PS Central, na noite de segunda-feira, a mãe afirma que três médicos a procuraram para explicar a situação de Elisângela. Testemunhas relatam que imediatamente os pacientes foram retirados dos corredores e "espremidos" nos dos leitos. A estadia nos quartos, no entanto, durou poucas horas. Mal o dia amanheceu e eles retornaram à passagem.

O Diário procurou a conselheira tutelar que atendeu o chamado de Rosângela, mas ela não atendeu aos pedidos de entrevista. Mesmo com a alta médica, a mãe teme que Elisângela tenha sido liberada não por apresentar melhora no caso, mas pelas inúmeras reclamações contra o atendimento recebido no PS.

A Prefeitura diz que a paciente Elisângela Serpa da Costa foi devidamente tratada e medicada, apesar da permanência no corredor. Afirma também que tem dificuldade em "conscientizar" usuários que há outros prontos-socorros espalhados pela cidade em funcionamento 24 horas, nos bairros Baeta Neves, Rudge Ramos, Taboão e Riacho Grande.




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