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Após despejo, sem-teto faz protesto hoje
Por Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
13/03/2006 | 07:51
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O processo de reintegração de posse que ocorre desde quarta-feira em um terreno do Jardim Paraíso, onde vivem 700 famílias, promete ser turbulento. Após derrubada de cerca de 40 barracos, nos quais moravam 176 pessoas, os moradores prometem uma manifestação nesta segunda-feira, a partir das 7h, até o Paço Municipal, na praça Samuel Sabatini.

Barracos foram queimados e os pertences dos moradores, segundo relatam, enviados a depósitos de localização desconhecida. Parte dos desalojados foi para um abrigo na capital, segundo informações da Pastoral da Criança, da Igreja Católica, que ajuda na organização da manifestação desta segunda-feira. A entidade tem enviado comida aos desabrigados.

O presidente da Associação de Moradores, José Oliveira da Silva, afirma que o terreno, desocupado há mais de 45 anos, é de propriedade de um homem chamado Luís Canamone. Ele não foi localizado pela reportagem. A ordem de reintegração de posse, no entanto, seria de uma advogada da região, acusada de grileira por Oliveira.


Neste domingo, muitos moradores ainda tentavam achar pertences no meio dos destroços dos barracos. O vendedor Janilton Galvão, 34 anos, conta com a ajuda de vizinhos para comer e dormir. Desde sexta-feira, ele, a mulher e os três filhos estão sem teto e sobrevivem às custas da solidariedade da vizinhança. A mulher, abalada, não falou com a reportagem. Ela teria sido atingida por uma tábua, durante a reintegração.

A ação contou com apoio das polícias Militar e Civil, segundo moradores. Nesta segunda-feira, deve começar nova etapa do processo de demolição, que só acabaria com a extinção da favela, habitada por pelo menos 3 mil pessoas. A invasão começou há três anos.

Vera Lúcia do Nascimento, coordenadora da Pastoral da Criança na área, afirma que a entidade reivindica moradia e saneamento básico para os moradores. “Eles estão vivendo em condições indignas. Apesar de sermos contra a invasão, eles têm direito a moradia e saneamentos decentes”, afirma.

Os moradores se queixam da perda de seus pertences e de todos investimentos nos barracos. A dona-de-casa Damiana Felix da Silva, 28 anos, afirma que saiu de casa um dia para visitar o marido no hospital e, quando voltou, não encontrou mais nada. “Cheguei e comecei a chorar. Tinha investido R$ 4 mil nas minhas coisas e perdi tudo”.

O choque de chegar e não encontrar mais a casa acabou levando muitos ao hospital. Óleo diesel foi jogado nos barracos e, por causa da fumaça, alguns passaram mal. Na ocasião, não havia nenhuma ambulância no local. A prática, utilizada para impedir que os moradores pudessem utilizar o mesmo material para reconstruir os barracos, foi interrompida na sexta-feira pelo corpo de bombeiros, segundo os moradores. A alegação da corporação seria de que a queimada é crime ambiental.

Abrigo – A primeira reivindicação é que seja providenciado um alojamento em local próximo para os desabrigados. Outra reclamação é a de que em nenhum momento foi apresentada qualquer espécie de documentação aos que viam suas casas ruírem. A única resposta que tinham dos funcionários contratados pelo ganhador da causa é que havia sido decretada a reintegração de posse.



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