O estado de saúde do aposentado Pelegrino Focher Riatto, 74 anos, uma das 21 vítimas do mutirão de cirurgias da catarata promovido pela Prefeitura de São Bernardo que adquiriram infecção ocular, piorou. Depois de sofrer AVC (Acidente Vascular Cerebral) no dia 6, o idoso foi diagnosticado com trombose (coagulação do sangue no interior das veias) e terá de amputar parte da perna esquerda.

A notícia “caiu como um balde de água fria” para a família do paciente, que segue internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital das Clínicas, na Capital. “Ele está lúcido, falando embolado, mas bem. Os médicos disseram que a cirurgia é de alto risco”, desabafou em sua página pessoal no Facebook a filha do aposentado, Sabrina Riatto.

Embora saiba da gravidade da situação, o aposentado já autorizou o procedimento, segundo a filha. “E pensar que tudo começou com uma simples cirurgia de catarata. Sem palavras para descrever tamanha dor”, completou Sabrina.

Conforme o cunhado do paciente, o empresário aposentado José Carlos Batani, 64, a equipe médica avalia, agora, quais os danos da perna e a melhor forma de realizar o procedimento. “Ainda não temos data para a operação e não se sabe quanto da perna terá de ser amputada. Mas já avisaram que será uma cirurgia traumática devido à idade”, lamenta.

Na segunda-feira, a família participará de encontro agendado com a secretária de Saúde da cidade, Odete Gialdi. Os parentes das vítimas foram divididos em quatro grupos para serem atendidos. “Vamos ouvir o que ela tem para dizer. Esperamos que seja esclarecedor e que ela não volte a dizer bobagens”, ressaltou o empresário aposentado, referindo-se ao discurso da secretária durante reunião com conselheiros municipais de Saúde na terça-feira. Na ocasião, Odete disse que nem todos os resultados de sindicância aberta pela administração poderão ser divulgados, tendo em vista a possibilidade de integrantes da administração municipal serem indiciados criminalmente.

HISTÓRICO

Os procedimentos cirúrgicos foram realizados em 27 pessoas no Hospital de Clínicas de São Bernardo, no dia 30 de janeiro, sendo que 21 delas foram infectadas pela bactéria Pseudomonas aeruginosa. Até o momento, ao menos 18 pacientes ficaram cegos e dez precisaram remover o globo ocular. A Prefeitura não forneceu informações sobre o estado de saúde dos demais dez pacientes que seguem internados por conta do problema.

A Prefeitura ainda desconhece a causa da contaminação e a expectativa é que o resultado da sindicância aberta seja conhecido até o início de março. Enquanto isso, a Secretaria de Saúde do município suspendeu o convênio com o Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, terceirizada contratada desde 2013 e responsável pelos procedimentos cirúrgicos.

O caso é alvo de investigação por parte do Ministério Público. O promotor de Justiça Marcelo Sciorilli analisa desde terça-feira as respostas apresentadas pessoalmente pela secretária de Saúde da cidade, a respeito dos questionamentos feitos à Prefeitura sobre os problemas ocorridos no mutirão.

O órgão público já havia advertido a administração do prefeito Luiz Marinho (PT) em março de 2011 para que mutirões cirúrgicos fossem realizados de maneira mais organizada e planejada. A recomendação foi assinada pela promotora Silvia Marques Gonçalves Pestana, em representação civil aberta após denúncia de morador.

O tema também motivou a abertura de inquérito por parte da Delegacia de Proteção ao Idoso de São Bernardo e de pedido de abertura de CPI na Câmara dos Vereadores.