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Líder empresarial argentino prega fim da paridade
Por Do Diário do Grande ABC
19/08/1999 | 18:06
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Em 1991, os argentinos somaram mais um dogma à sua vida cotidiana: aos já clássicos "as Malvinas sao argentinas", "Gardel canta cada vez melhor", acrescentou-se "o peso tem paridade um a um com o dólar". Este dogma foi referendado pelo Congresso, e eliminou da vida dos argentinos o fantasma da hiper-inflaçao. Economistas, empresários, governo e oposiçao haviam adotado a paridade como uma monolítica e indiscutível política de Estado. Somente alguns poucos outsiders haviam ousado macular o dogma da paridade, e haviam sido repelidos como hereges pela Santa Inquisiçao.

Mas isso terminou: pela primeira vez, um empresário de peso pregou o fim da paridade. É o insider Roberto Rocca, presidente do poderoso Grupo Techint, que categorizou: "a paridade um a um nao é para sempre".

A afirmaçao, realizada em Córdoba, durante o encontro anual da Uniao Industrial Argentina (UIA) causou o maior reboliço do ano dentro do setor econômico. Rocca está respaldado pelo faturamento de US$ 4,5 bilhoes de suas empresas que possuem 30 mil empregados.

Rocca afirmou que "desvalorizar é um problema psicológico", mas que "todos percebem que o tipo de câmbio fixo é um problema. A Argentina nao possui uma economia como a de Hong Kong, que faz intermediaçao de serviços financeiros e comerciais". No entanto, ressaltou que "este nao é o momento para mudar o tipo de câmbio". E sustentou que isso deverá ser feito pelo próximo governo, "assim que estiver consolidado", para só entao "anunciar um regime de flutuaçao cambial".

Rocca citou o Brasil como modelo de desvalorizaçao: "eles nao tiveram este problema psicológico da Argentina, que em algum momento será superado". Ele criticou os candidatos presidenciais, que afirma, agem com a máxima "quieta non movere" (em latim, "o que está quieto, melhor nao movê-lo").

Imediatamente às declaraçoes de Rocca, o candidato do governo à presidência do país, Eduardo Duhalde, afirmou que a desvalorizaçao seria trágica, já que "milhoes de pessoas estao endividadas em dólares". Segundo Duhalde, "existem setores que poderiam estar interessados em uma desvalorizaçao". Mais de 80% dos argentinos que possuem hipotecas, créditos e aluguéis, está endividada em dólares.

O vice-presidente da Uniao Industrial Argentina (UIA), Alberto Alvarez Gaiani, concordou com Duhalde: "é impossível sair da conversibilidade".

O presidente da FIAT argentina, Vicenzo Barello, também foi contra: "com a desvalorizaçao nao se ganha nada. As empresas e o Estado estao endividados em dólares e o prejuízo seria descomunal". Barello também citou o fator psicológico, presente nos argentinos pela lembrança da hiper-inflaçao: "uma desvalorizaçao teria um impacto imediato sobre os preços".

"Temos que abandonar a paridade" afirmou sozinho durante os últimos oito anos o economista Eduardo Curia. Chamado de louco ou visionário (seus rivais costumam aplicar o primeiro adjetivo) o ex-vice-ministro da Economia do primeiro ano do governo Menem defende a idéia de que a paridade foi um erro desde o começo. Até as declaraçoes de Rooca, era um solitário outsider, e o único economista de renome que ousava tocar no tema. Curia disse ao Estado que partilha plenamente de seu enfoque, mas discorda sobre os prazos: "o fim da paridade tem que ser agora.

Temos que deixar de fazer corpo mole, e devemos sem perder mais tempo, pegar o touro pelos chifres".

Segundo Curia, o próximo governo teria que começar com a paridade terminada. "Tem que haver uma saída ordenada antes que a conjuntura provoque uma saída descalabrada. Coitado do governo que vier, se nao terminar com a paridade, e ficar colocando remendos. Esses consertos improvisados serao uma salada indigesta".

O economista considera que o impacto do fim da paridade no Brasil "seria que a Argentina conseguiria de novo competitividade relativa. Mas pelo menos haveria uma sinceridade entre os dois países, para realizar uma convergência macroeconômica".




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