Economia Titulo Mercado
Crise faz crescer economia informal

Número de autônomos, dentre os quais
os ambulantes, aumentou 4,9% neste ano

Por Marina Teodoro
Especial para o Diário
25/10/2015 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC:


Acordar cedo, separar os óculos dos relógios, os chaveiros dos colares, e esperar a clientela. Nos últimos 15 anos, todos os dias têm sido assim para o ambulante Silvio Magno de Oliveira, 50 anos, que vive na economia informal em São Bernardo.

Esse tipo de atividade vem crescendo no Brasil, principalmente em momentos de crise, quando a taxa de desemprego sobe. De acordo com a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) realizada pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em parceria com o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, em agosto a taxa de desemprego total na região ficou 20,3% acima da observada no mesmo período de 2014. Um dos efeitos dessa situação pode ser o aumento do número de autônomos que trabalham para o público (sendo parte no mercado informal, sem registro na prefeitura nem emissão de nota fiscal), que cresceu nos últimos 12 meses 4,9%, com 107 mil pessoas nesta situação.

Vendedor de bijuterias e outros acessórios, Oliveira é mais um dos vários camelôs que dividem espaço entre as calçadas da Marechal Deodoro, rua famosa pela diversidade de comércios em São Bernardo. Ele não reclama: “Chego a faturar de R$ 6.000 a R$ 8.000. Não pretendo sair daqui.” Cansado da vida de motorista de caminhão, ele quis se firmar em um lugar. “Comecei com uma bancada, em 2000. E há seis anos tenho minha própria barraca”, diz o comerciante, que sempre trabalhou com bijuteria.

“Como não pago aluguel e nem preciso de funcionários, pude criar minha família, comprar minha casa e vivemos sem muitos problemas”, conta ele, que mora com a esposa, dois filhos e dois cunhados.

Essa opinião nem sempre é unânime. Atuar como ambulante também tem suas desvantagens, conforme conta Djalma da Silva Santos, 32, que há oito anos trabalha com seu carrinho de milho nas ruas de São Bernardo. “Apesar de não ter patrão, também não temos como nos garantir caso aconteça algum problema, como doença, por exemplo. Se não trabalha, não ganha.”

Santos reveza o trabalho com a esposa. Os dois recolhem INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) como autônomos, mas pretendem um dia sair das vendas de rua. “Hoje dá para tirar R$ 2.000 por mês, conseguimos pagar o aluguel e sustentar nossos dois filhos, mas quero mesmo um dia poder sair desse ramo”, conta o ambulante, que trabalha de domingo a domingo. Vindo de Pernambuco, nunca exerceu outra atividade. Ele e a esposa alternam o conteúdo do carrinho. “Às vezes vendemos doce, às vezes milho. E coco quando faz calor.”

Quem também veio de outro Estado com a promessa de que em São Paulo seria melhor foi o ambulante Anderson Silva de Oliveira, o Bahia, 32, que mora em Mauá, mas ganha a vida nos semáforos de Santo André, desde que chegou de Salvador, há sete anos.

“Antes vivia de cultura, praticava capoeira. Quis ganhar a vida, e cheguei com a ilusão de que São Paulo seria a terra das oportunidades, mas percebi que não era bem assim”, conta Bahia. Hoje, mora de aluguel com a mulher e seis filhos. Com a renda de ambos, eles conseguem manter a família e não se sente envergonhado pelo trabalho que exerce. “Pelo menos é honesto. Eu poderia ter ido por caminhos errados, mas preferi trabalhar e ganhar meu dinheiro sem prejudicar ninguém”, desabafa.

Com o que ganha, ele também paga a pensão da filha que mora em Salvador. “Consigo me manter, mas queria mesmo era mudar de vida. Conseguir um emprego de carteira assinada. Mas está muito difícil, e enquanto não acontece, eu não posso ficar parado.”

Lei que regulamenta profissão de artesão é sancionada

Outra atividade que até então podia ser caracterizada como informal, dependendo da maneira como era exercida, é a do artesão, que ganhou apoio para ter mais espaço no mercado de trabalho. Na quinta-feira, foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff (PT) o projeto de lei que regulamenta a profissão. O projeto estabelece diretrizes para as políticas públicas de fomento, institui a carteira profissional para a categoria e autoriza o poder Executivo a dar apoio à classe. “A regulamentação é um avanço para um setor, com potencial para desenvolver a economia e preservar o patrimônio do País”, afirmou, por meio de nota, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves. 




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