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Grande ABC ganha padre exorcista
Por Adriana Gomes
Do Diário do Grande ABC
23/10/2005 | 07:35
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Exorcismo, do latim exorcismu, é basicamente a oração ou cerimônia que livra pessoas de espíritos maus ou coisas nocivas. Mas o senso comum sempre relaciona a palavra a um culto que tem o objetivo principal de arrancar o diabo de dentro do corpo de infelizes que tiveram o azar de incorporar o coisa ruim. Ritual relativamente comum e admitido pela Igreja Católica na Idade Média, caiu em relativo esquecimento por algum tempo e agora parece voltar com significativa importância aos centros de discussão da cúpula do Vaticano, que deve promover o primeiro curso oficial sobre exorcismo em fevereiro do próximo ano.

No Grande ABC, o bispo Nelson Westrupp parece levar em conta a tendência, ao nomear o padre Vanderlei Nunes, 34 anos, da paróquia Nossa Senhora das Graças, em Santo André, exorcista oficial e único da região. Vale ressaltar que a palavra oficial cabe aqui, visto que muitos padres praticariam o ritual sem a chancela de um bispo, conforme previsto na lei da Igreja. Mas tanto o padre carismático como autoridades da Igreja torcem o nariz quando abordados sobre o tema. A maioria não se pronuncia, alegando temer "sensacionalismo" em torno de assunto, considerado delicadíssimo pelos mandatários católicos.

Questionado acerca da escolha do padre Vanderlei - seguidor da RCC (Renovação Carismática Católica) idolatrado pelos fiéis, que lotam a igreja da periferia de Santo André durante toda a semana - o bispo Nelson Westrupp pronunciou-se por meio de nota bem curta. "Essa licença é concedida pelo bispo local somente a presbítero que se distíngua pela prudência e bom senso." Westrupp complementa a nota mencionando que o critério que usou para nomear Vanderlei Nunes como "sacerdote exorcista da Diocese de Santo André" foi aquele que descreve o cânon 1.172 do Código de Direito Canônico: "Ninguém pode legitimamente fazer exorcismo em possessos a não ser que tenha obtido licença peculiar e expressa do bispo diocesano".

O padre Vanderlei não quis dar entrevista sobre o assunto. Não se sabe, por exemplo, se ele já teria praticado um legítimo ritual de exorcismo na região, embora muitos fiéis definam como uma espécie de exorcismo coletivo a missa de cura e libertação, acompanhada pela reportagem na última terça-feira, na paróquia Nossa Senhora das Graças. "Se eu falar, vão achar que quero fazer sensacionalismo", limita-se a dizer, desculpando-se.

Ritual revisado - Menos temeroso, o simpático Juarez Pedro de Castro, 39 anos, padre que exerce a função de secretário de Comunicação da Arquidiocese de São Paulo, com sede na capital, demonstra melhor jogo de cintura com os questionamentos da mídia. "Justamente porque a suposta existência da possessão diabólica é uma questão delicada é que a (Academia Pontifícia) Regina Apostolorum (no Vaticano) vai dar o curso. É preciso que as pessoas, inclusive leigas com formação teológica, saibam mais sobre o assunto. Além disso, a Igreja revisou o ritual do exorcismo. Acho até que o ideal seria que todas as dioceses mandassem representantes", afirma.

O padre Juarez Castro frisa, no entanto, que a Igreja não acredita que uma pessoa possa ser literalmente possuída pelo demônio. "O ser humano é propriedade de Deus, portanto, é impossível que seja tomado pelo diabo. O que pode haver é uma influência do mal, de diversas origens, não um domínio completo", raciocina. Embora deixando claro seu respeito a todas as crenças, ele acredita que os rituais das igrejas evangélicas deram "muita importância ao diabo", que "não é assim tão poderoso". O curso na sede mundial da Igreja Católica também teria o objetivo de esclarecer fundamentos como esse.

Menos receptivo, o secretário-geral da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), dom Odilo Pedro Scherer, atendeu a reportagem por telefone, a partir de seu gabinete em Brasília (DF), negando sequer saber do curso marcado para 2006 na Itália. "Essa questão está sendo mal colocada pela imprensa. Não há nada extraordinário ocorrendo; apenas o rito do exorcismo - que sempre existiu com a mesma força - foi reelaborado pela Igreja. A Igreja acompanha os fatos do mundo." Questionado sobre a possibilidade de esses "fatos" estarem ligados à escalada das igrejas evangélicas em países como o Brasil, dom Scherer respondeu, irritado: "nada a ver!". (Colaborou Fabiana Chiachiri)




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