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Nívea Maria: mudança radical de papéis
Por Flávia Swerts
Da TV Press
26/06/2005 | 08:23
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Nívea Maria tinha uma boa razão para querer o papel da humilde Maria José, em América: ter acabado de interpretar a sofisticada Corina, de Celebridade. Como todo ator, queria uma personagem diferente daquela que ainda estava na memória do público. E é com essa variação que mantém a empolgação depois de 42 anos de carreira. A personagem também ajuda um bocado. Na trama, Mazé, como é conhecida, é mãe do peão Tião, de Murilo Benício, e do ambicioso Geninho, de Marcelo Novaes, por quem foi enganada para vender as terras onde vive. "Esse drama como mãe vai fazer de Mazé, até então frágil e tímida, uma mulher forte", adianta, com um largo sorriso.

Aos 58 anos, a atriz - que começou a carreira aos 16 - parece não se preocupar com o envelhecimento e com os reflexos disso no seu trabalho. "A idade está aí mesmo. A dramaturgia não vive apenas de mocinhas e mocinhos. Sempre vão ter as mães, avós...", argumenta. Nívea também lida bem com as mudanças do seu corpo e, no caso de Mazé, acredita que as formas arredondadas contribuíram para o visual da personagem. "Confesso que não percebi que tinha engordado. Mas isso faz da Mazé uma mãe mais aconchegante", diverte-se.

PERGUNTA: Seu último papel na TV foi a grã-fina Corina de Celebridade. Você se identifica mais com ela ou com a humilde Mazé?
NÍVEA MARIA: O universo da Mazé é muito mais próximo de mim. Sou uma pessoa de hábitos e vida simples. Vim de uma família de classe média, meu pai era advogado e minha mãe, uma dona de casa humilde, que passou a vida cuidando do lar e dos filhos.

PERGUNTA: O que mais chama atenção na personagem Mazé?
NÍVEA: O despojamento e a pureza de sentimentos. Ela é muito humana e verdadeira, e não sofre nenhuma influência da modernidade. Ainda hoje muitas pessoas vivem dessa forma, nessa espécie de redoma de proteção contra a dureza do mundo. Na verdade, acho que elas são mais felizes, pois são menos calculistas e seus problemas são menores.

PERGUNTA:Como você se preparou para viver a Mazé?
NÍVEA: Prefiro fazer laboratório in loco com os colegas e com o diretor a buscar elementos fora. Acho que o trabalho fica mais fresco. No caso da Mazé, gravamos as primeiras cenas da novela no Pantanal. Isso me ajudou a entrar na personagem, pois eu estava ali com os pés na água, na terra e em contato com os animais. São mais de 40 anos trabalhando dessa forma e sei que estou no caminho certo. Quando ando na rua, as pessoas se aproximam de mim com intimidade, como se me conhecessem. Essa é a conquista que quero obter com o meu trabalho. Não me interessa ficar em um pedestal e ser adorada. Isso dá solidão, tristeza...

PERGUNTA: Como está a repercussão da sua personagem nas ruas?
NÍVEA: As pessoas estão chocadas em ver como eu consegui ir da Corina para a Mazé.  E é engraçado que elas também me alertam sobre o comportamento do Geninho. Falam que ele está enveredando para um caminho ruim e que é para eu ter cuidado com as atitudes dele.

PERGUNTA: Para você é difícil deixar a vaidade de lado para interpretar a Mazé?
NÍVEA: As pessoas acham que as atrizes são muito vaidosas e que têm de estar sempre maquiadas e com o cabelo arrumado. Mas estou em um momento muito despojado da minha vida. Através dessa personagem estou aprendendo a valorizar as coisas simples da vida e a me relacionar com o tempo de uma forma mais contemplativa.

PERGUNTA: Você gostaria que a feminilidade da Mazé também fosse colocada em evidência dentro de um relacionamento amoroso?
NÍVEA: Eu adoraria que a Glória Perez explorasse esse lado. Seria mais um elemento para a personagem e uma forma de mostrar para as milhões de Mazés que existem por aí que, apesar delas serem mães e donas de casa, também podem ter um grande amor.

PERGUNTA: Na sua opinião, as novelas têm realmente uma função social?
NÍVEA: Claro que sim. Apesar de serem uma forma de lazer, as novelas conseguem se infiltrar na sociedade e contribuir, de alguma forma, para a sua melhora. Percebo que, a cada trabalho que faço, provoco algum tipo de interferência no cotidiano das pessoas e, assim, gero  reflexão. Essa é minha única vaidade. Não há nada mais gratificante do que, depois de anos, alguém chegar para você e dizer que lembra da atitude de determinada personagem, de algo que ela disse e contar como isso influenciou no seu dia-a-dia.




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