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Abandono persiste no Hospital Nardini, em Mauá
William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
29/12/2008 | 07:03
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O Diário teve acesso com exclusividade ao interior do Hospital Doutor Radamés Nardini, em Mauá, e pôde constatar que ainda persiste a precariedade nas instalações apontada por Cremesp (Conselho Regional de Medicina) e Coren (Conselho Regional de Enfermagem), em relatório entregue ao Ministério Público em 2007. Graves problemas estruturais, falta de material médico-hospitalar e remédios, além da ausência de profissionais tornam crítica a situação. O local é um claro retrato de descaso administrativo.

O setor de clínica médica, no 6º andar, é para onde são encaminhados os pacientes que necessitam de internação, após passarem pela emergência. Improviso característico de acampamentos de guerra e descaso com a infra-estrutura são emblemáticos dos problemas que atingem o hospital. Mofo nas paredes, infiltração, janelas quebradas e cobertas com madeirite e ferrugem tomam conta dos aposentos.

Nos banheiros, um pouco de tudo aquilo que é verificado nos quartos, acrescido de graves problemas hidráulicos em vasos sanitários e torneiras. Na ausência de maçanetas, faixas de atadura são utilizadas no lugar. Elas também são usadas como suporte para papel higiênico.

O posto de enfermagem tem infiltração no teto, mofo nas proximidades das janelas e condições insalubres de trabalho. Agulhas e demais materiais infecto-contagiosos são depositados em caixa adaptada, sem cobertura alguma. Em outros pontos do hospital, galões de detergente vazios têm essa função.

Na ausência de sabonete líquido no posto de enfermagem, os profissionais são obrigados a carregar pedaços de sabão dentro de potes utilizados para a coleta de material. É a forma de manter a higiene pessoal, sem precisar dividir o mesmo pedaço com outros.

O único desfibrilador do andar está inoperante. Em caso de emergência, responsáveis pelo atendimento precisam recorrer a outras alas que tenham equipamento em condições de uso.

Falta até fralda para dar tratamento digno a pacientes adultos que passam pelo Nardini. No improviso, os profissionais da emergência são obrigados a adaptar sacos plásticos, recheados por pedaços de pano, para evitar o vazamento de urina e fezes de quem permanece no leito, sem condições de utilizar o banheiro.

Não há luvas no setor de clínica médica. Os médicos e enfermeiros têm de utilizar aquelas que trazem de fora do serviço, por conta própria. Mesmo assim, usam uma única para atender a vários pacientes, antes de descartá-la.

Parte do 6º andar está interditado há um ano e meio, por falta de condições de uso. A verba para a reforma dos quartos teria sido disponibilizada pelo governo federal, mas nada no local lembra uma obra. Baratas mortas no interior do banheiro da ala, que fica a poucos metros da UTI (Unidade de Terapia Intensiva), dão mostras do abandono.

No último fim de semana não havia profissionais para atender exclusivamente a clínica médica. Para não ter que se desdobrar entre o pavimento inferior e o 6º andar, o responsável manteve 16 pacientes no setor de emergência, nas suas proximidades. Para o alto, foram apenas aqueles que não inspirariam cuidados excessivos.

A chefia de enfermagem também esteve ausente do hospital nos últimos dez dias, segundo relatos de profissionais que trabalham no local.




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