Setecidades Titulo Mutirão da Catarata
São Bernardo pode esconder resultado de investigações

Secretária de Saúde, Odete Gialdi afirma que, após concluir processo de apuração, nem todo parecer final deve ser divulgado

Por Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
17/02/2016 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O descaso da Prefeitura de São Bernardo com pacientes afetados por mutirão da catarata realizado no dia 30 de janeiro, no Hospital de Clínicas, mais uma vez foi exposto por gestores do município. Isso porque o processo que apura as causas da contaminação de ao menos 21 pacientes pela bactéria Pseudomonas aeruginosa pode ter a divulgação do resultado postergado pela administração da cidade.

Durante reunião realizada na tarde de ontem com aproximadamente 30 conselheiros de Saúde, a secretária da Pasta, Odete Gialdi, afirmou que, após a conclusão da sindicância, nem todos os resultados poderão ser divulgados para a população. “O processo de investigação está em curso. A gente estabeleceu o prazo de 30 dias para ter retorno. Não recebemos ainda o resultado, mas, depois disso, nem tudo que estiver nesse relatório poderá ser divulgado”, afirmou.

Segundo a secretária, a justificativa para tal conduta seria a possibilidade de integrantes da administração municipal serem indiciados criminalmente. “Se divulgarmos, eu e a comissão vamos nos expor inclusive judicialmente e ser processados”, afirmou.

Para familiares de pacientes afetados pelo procedimento, o sentimento após a notícia é de revolta. “Dá raiva, pois precisamos saber o que aconteceu. A promessa deles (Prefeitura) era que seriam os primeiros a saber a causa para depois informar a nós”, relata a free-lancer Janete Oliveira, 56 anos, mulher do paciente Anísio Oliveira, 68, que foi um dos infectados pela bactéria e precisou retirar o globo ocular direito.

De acordo com Odete, após a conclusão do processo, prevista para março, a única conduta que a Prefeitura irá tomar é analisar tecnicamente os resultados e encaminhar o parecer para os órgãos competentes. “Quando concluído, vamos informar a imprensa que foi finalizada a apuração e que iremos encaminhar os resultados para o MP (Ministério Público) e Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).”

Para agravar a situação, falas da secretária apontam que a CPI da Catarata não deve ser levada adiante na Câmara. O Diário já havia adiantado ontem que o processo não era prioridade da Casa. “Conversei com todos os vereadores na quinta-feira e acredito que não deixei nenhuma pergunta em aberto. Acho que não vai dar em nada (a CPI).”

Ainda durante reunião com os conselheiros da Saúde, da qual a equipe de reportagem do Diário participou sem se identificar, Odete revelou que a Prefeitura já estava ciente da contaminação dos paciente dois dias após o mutirão. “Na segunda-feira de noite fui comunicada sobre a procura de alto número de pacientes no PS (Pronto-Socorro) Central. Na terça-feira mesmo instalamos comitê de crise para tratar do caso e procuramos os familiares de cada um.”

Um dos conselheiros presentes ao evento chegou a questionar a secretária sobre a informação. “A senhora disse que desde segunda estava em contato com pacientes, mas em nenhuma matéria familiares disseram isso”, relatou. Vale lembrar que somente na quinta-feira após o mutirão ser realizado a notícia dos problemas foi divulgada com exclusividade pelo Diário.

Após uma hora e meia de reunião, a equipe de reportagem foi identificada e expulsa pela secretária. Na ocasião, bastante irritada com a presença do Diário, Odete chegou a bater a porta do salão em que era realizado o encontro.

 

Familiares devem se reunir com líder da Pasta ainda nesta semana

 

Em busca de respostas, familiares de pacientes prejudicados pelo mutirão da catarata devem se reunir ainda nesta semana com a secretária de Saúde de São Bernardo, Odete Gialdi. O objetivo do encontro é ter mais detalhes das ações da Prefeitura no caso.

Segundo a secretária, as reuniões foram marcadas em grupo. “A única coisa que me recusei foi receber todas as famílias juntas, pois iria virar uma assembleia e não ia ter solução nenhuma. Mas, divididos em quatro grupos, vou atender todos os familiares”, relata.




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