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Vila Assunção tem farmácia e atendente tradicionais

Deives Scotti, 61 anos, trabalha no local há 50 e cuida de quatro gerações de moradores

Por Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
29/08/2015 | 07:07
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Ari Paleta/DGABC


A Vila Assunção, em Santo André, é um bairro que concentra construções tradicionais da cidade. A farmácia Santa Luzia, fundada em 1941 é uma delas. Atrás do balcão, é sempre possível encontrar Deives Scotti, 61 anos, que se dedica ao local há 50 e é conhecido por toda a área.

Scotti, que nasceu no bairro, tem família grande, com 11 irmãos. Após terminar o Ensino Fundamental, o pai queria que ele trabalhasse. “Ele (pai) dizia que não queria ver o filho na rua e que eu tinha de trabalhar cedo. Minha mãe foi até o dono da farmácia na época, seu Alberto Plenamente. Ele me ofereceu um emprego para que eu ficasse limpando os vidros dos medicamentos”, contou.

Foi assim que nasceu a paixão pelo ofício e por cuidar de outras pessoas. Além da limpeza das antigas embalagens dos remédios, Scotti também embalava em papéis substâncias como mercúrio, iodo e camomila.“Eu participei de toda a evolução da indústria farmacêutica e tenho muito orgulho disso. Depois de alguns anos, isso foi proibido. Depois vieram os grandes laboratórios e empresas do ramo”, disse.

Com tanta história e experiência, o oficial de farmácia também cativa os clientes pela educação e sensibilidade. Scotti cuidou de até quatro gerações de famílias do bairro e tem orgulho dos seus “clientes de ouro”, como chama.

Antigamente, Scotti fazia a aplicação de injeções em domicílio e destaca já ter ajudado a salvar muita gente. O oficial conta que até hoje muitas pessoas ligam para ele ou vão procurá-lo em casa antes de tomar uma decisão médica. “Abro as portas às 7h, mas quem vier me chamar em qualquer hora, eu atendo. Eu lembro que, há cerca de 40 anos, aplicava injeções em um menino bem de manhã e à noite todos os dias. Ele estava desenganado pelos médicos, que diziam que ele ia morrer em casa. Hoje, ele passa aqui direto me cumprimentando”, afirmou, emocionado.

São 50 anos em que Scotti faz o que ama. Há 11, ele se tornou um dos sócios-proprietários do local. Além da farmácia e dos clientes, o oficial se orgulha de ter trabalhado somente em um lugar.

Pai de dois filhos, sendo um de 34 anos e outro de 9, ele não pensa em deixar o negócio para ambos. Afirma que para ter uma farmácia é necessário vocação, algo que já nasce com cada um, o que os filhos não têm. “Que jovem hoje em dia vai querer trabalhar de domingo a domingo, abrindo aqui as 7h?”, questiona.

Para Scotti, o bairro está ficando cada vez mais moderno, o que não é negativo. Segundo ele, no terreno de uma casa, onde moravam três pessoas da mesma família, hoje é possível construir um apartamento que abriga mais de 600 pessoas, o que representa mais clientes. “Antigamente, as pessoas se preocupavam com tuberculose, hoje os problemas mais comuns são o estresse e a depressão. Mesmo com toda essa mudança, o que me move é ser reconhecido por todos aqui, desde os avós até os netinhos. Essa é a minha motivação”, disse.


Igreja Matriz se preocupa em acolher os imigrantes

A Igreja Matriz de Santo André foi fundada em dezembro de 1911. Conhecida por muitos como igreja rosa pela sua cor, o local merece destaque também pela preocupação em ajudar os imigrantes e também os necessitados.

O pároco, padre Danilo José Rovanillo, 74 anos, está na comunidade há cinco e meio. Natural do Rio Grande do Sul e de família italiana, ele passa pela Matriz pela segunda vez, tendo em vista que também foi pároco há 30 anos no local.

O padre é da ordem dos scalabrinianos, congregação que tem como lema Eu era estrangeiro e me acolhestes, que está em um versículo no livro de Mateus, na Bíblia. “Toda a minha formação foi em São Paulo, no Ipiranga, quando eu passei por aqui, há 30 anos, observei que o bairro foi fundado por imigrantes italianos e ainda há muitas famílias por aqui. Também temos latinos-americanos e agora os haitianos.”

Todo segundo domingo de cada mês é celebrado uma missa totalmente em espanhol. A Diocese de Santo André envia um representante argentino ou colombiano para o local.“É um grupo bem pequeno, mas fiel. Eles não faltam em nenhuma missa. Também já tentamos implantar um curso de português para os haitianos, mas como a maioria mora em Utinga fica meio longe aqui. Estamos sempre de braços abertos para receber e ajudar pessoas de outros lugares”, disse.

A igreja também tem um bazar que arrecada fundos para a compra de enxovais para crianças carentes. Por mês, são comprados dez e distribuídos aos necessitados. A Pastoral da Promoção Humana e Ação Social também faz a distribuição de mais de 100 cestas básicas mensais.

Histórica, a construção começará a ser restaurada no próximo ano. Trabalhos preventivos, como a drenagem do terreno e pequenos reparos, vão começar a ser realizados ainda neste ano.

Morador é cover do cantor Cazuza

A Vila Assunção também é berço de música. Morador do bairro, o cantor Fábio Sanchez, 32 anos, é cover do cantor Cazuza há quatro anos. Com o trabalho, já realizou em média 300 shows por todo o Brasil.

Conforme ele, a caracterização no cantor e compositor surgiu por acaso. Sanchez era vocalista de uma banda de pop rock e fazia alguns covers, entre eles sucessos do ídolo nacional, como Exagerado. “Um dia, o dono desse bar em que eu fazia shows me pediu para que eu fizesse uma apresentação como o Cazuza. Foi bem no susto, mas eu fiz e as pessoas acabaram gostando. Porém, só fui retomar isso alguns anos depois”, contou.

Como Sanchez só conhecia as músicas de maior sucesso de Cazuza, ele mergulhou no universo intenso do artista. Começou a ouvir todos os álbuns, além de buscar escutar o que o cantor escutava e ler o que ele lia, principalmente as obras de Clarice Linspector.

Hoje, Sanchez diz que o cantor lhe trouxe mais calma, já que ele costumava ser mais explosivo. “O Cazuza tinha uma personalidade muito forte e era uma pessoa marcante, dentro e fora dos palcos. Conforme fui estudando sobre ele, fui ficando mais calmo, tranquilo e focado na minha carreira. Ele me trouxe coisas boas”, disse.

No repertório de Sanchez estão presentes canções do cantor desde o tempo de Barão Vermelho, até clássicos como O Tempo Não Para e Ideologia. Ele disse que o que mais o impressiona é a força da música do poeta ainda nos dias de hoje. “Você pode interpretar qualquer música do Cazuza que as pessoas vão saber cantar. Ele é unanimidade. As pessoas se emocionam muito nos shows, principalmente em Codinome Beija-Flor. É gratificante.”

Sanchez afirma que gostaria de tocar mais em Santo André. “No momento é raro eu me apresentar aqui, até porque faltam lugares. Mas eu gostaria muito de fazer mais apresentações na cidade”, afirmou.  




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