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Bebê fica 68h com moeda entalada na garganta
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
08/03/2005 | 14:19
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Depois de esperar 68 horas por atendimento, Natally Vitória do Carmo Ramos, 1 ano, foi submetida segunda-feira à endoscopia que retirou a moeda de R$ 0,10 alojada em sua garganta desde sexta-feira. Durante quase três dias, a menina permaneceu internada no PS (Pronto-Socorro) Central de São Bernardo e não pôde ingerir qualquer alimento ou água, na espera por uma vaga em hospital público que realizasse o procedimento. Segundo a mãe, Sandra Regina do Carmo Ramos, a equipe médica garantiu a transferência de Natally para a extração do objeto no sábado de manhã. Mas só no início da tarde de segunda-feira a paciente foi encaminhada ao Hospital Estadual da Vila Alpina, na capital.

Prefeitura e Secretaria Estadual de Saúde não se entendem quanto à responsabilidade pela demora na solução do problema de Natally, que permanece internada no PS Central com infecção na garganta e se alimentando por meio de sonda, mesmo livre da moeda. “Ela passou tanto tempo com a moeda entalada que pegou uma infecção horrível. Ficou quase três dias inteiros com a moeda. E a endoscopia levou oito minutos para resolver. Ela es-tá tão fraquinha que mal consegue falar ‘mamãe’”, conta Sandra.

Não há no Grande ABC nenhum centro público de atendimento à saúde que realize a endoscopia infantil. Todos os casos são encaminhados a hospitais da capital, por intermédio do Plantão Controlador de Vagas, serviço do Estado que busca vagas em todos os postos da rede em casos de urgência e emergência incapazes de ser atendidas no município de origem. A Secretaria afirma que o PS só informou o plantão sobre o caso ao meio-dia de sábado. A chefe da divisão de Prontos-Socorros de São Bernardo, Monica Carneiro, rebate a informação, apesar de admitir que, formalmente, a Estado só foi avisado por volta das 11h30.

Segundo ela, Natally só conseguiu uma vaga na tarde de terça-feira no Hospital da Vila Alpina porque o endoscopista do PS Central trabalha também na capital e tem “bons contatos”. “Se fôssemos esperar pelo Plantão Controlador, a garota estaria até agora com a moeda parada na garganta. Tem sido muito difícil conseguir vagas por intermédio do Estado. Durante toda a manhã de sábado, fizemos contatos com cinco hospitais, e só conseguimos o do Vila Alpina hoje (segunda-feira).”

A chefe dos Prontos-Socorros sustenta que, assim que foi constatada a necessidade do procedimento, às 22h de sexta-feira, a equipe do PS Central iniciou a procura pela vaga na rede pública. Esta é a segunda vez em uma semana que uma criança de São Bernardo sofre com a espera por uma vaga na endoscopia para retirada de moeda. No final de semana passado, Yasmin Rolim, 2 anos e 6 meses, só conseguiu se livrar do objeto depois de 34 horas com o objeto metálico de R$ 0,25 parado em sua garganta, também num hospital da capital.

A Secretaria Estadual de Saúde informou, via assessoria de imprensa, que todos os pacientes infantis da região que carecem de endoscopia são encaminhados para o Hospital São Paulo, conveniado do SUS (Sistema Único de Saúde). O equipamento do centro, que é referência para o Grande ABC segundo a assessoria, está quebrado, por isso a demora em encontrar outra vaga disponível. O Hospital Estadual Mario Covas, em Santo André, só conta com o endoscópio próprio para realizar o procedimento em adultos. Para facilitar o acesso das crianças, o Estado, ainda segundo a assessoria, estuda a possibilidade de comprar um equipamento apropriado para a região, sem, no entanto, definir prazos.

Cuidado – A ingestão de objetos estranhos é muito comum entre crianças, segundo a pediatra Maria Aparecida Dix Chehab, docente da Faculdade de Medicina do ABC, que há 20 anos trabalha no atendimento emergencial de meno-res. Ela explica que todos os casos do tipo devem ser considerados urgentes para evitar complicações no quadro.

“O objeto deve ser removido o mais rápido possível. Se uma moeda fica parada no esôfago, pode gerar parada respiratória aguda e levar a criança à morte. Tudo vai depender do quanto o objeto estiver obstruindo a passagem do ar pelas vias. De qualquer forma, é um acidente e, como tal, pode e deve ser prevenido. Os pais tem de ficar bastante atentos”, completa.



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