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No Grande ABC, desmatamento se mantém estável

Segundo levantamento da SOS Mata Atlântica, cidades da região não registraram decremento superior a três hectares entre 2014 e 2015

Por Vanessa de Oliveira
05/12/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


O Atlas dos Remanescentes da Mata Atlântica, levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mostra que, no período entre 2014 e 2015, o Grande ABC não registrou variação considerável nos índices de desmatamento do bioma. Os resultados do estudo incluem apenas a vegetação nativa acima de três hectares.

O documento visa incentivar os governantes a conservarem a Mata Atlântica. Dois anos atrás, seis das sete cidades (exceto São Caetano, que não tem remanescente de Mata Atlântica) contavam com 28,9 mil hectares do bioma. Um hectare é o mesmo que 10 mil m² (metros quadrados). Em 2015, foram identificados 28,5 mil hectares, o equivalente a 28,5 mil campos de futebol (veja mais detalhes sobre a área de Mata Atlântica na região na arte abaixo).

O professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Metodista de São Paulo Carlos Henrique Andrade de Oliveira explica que a vegetação existente no Grande ABC está concentrada, em especial, nas áreas mais próximas à Represa Billings e à Serra do Mar.

“Estas áreas possuem relevo mais acidentado, situação que dificulta a ocupação humana. Outro fator que contribuiu para a manutenção destes índices foi a forma de atuação das prefeituras com maior território – São Bernardo e Santo André –, que investiram fortemente em estratégias de fiscalização, estruturando suas equipes e as respectivas guardas municipais”, fala o especialista, acrescentando um alerta. “Porém, há necessidade urgente de adotar políticas e ações voltadas à ampliação do índice de cobertura vegetal nas áreas urbanas das sete cidades, de forma a garantir melhores condições de vida e reduzir os impactos gerados pelas mudanças no clima.”
Na região, São Bernardo possui a maior cobertura de vegetação do bioma – 17.648 hectares de Mata Atlântica, área que equivale a 946 vezes o tamanho do Estádio do Maracanã (segundo cálculo da SOS Mata Atlântica) e representa 43,10% do total do município.

Rio Grande da Serra possui 1.472 hectares, o equivalente a 79 vezes o tamanho do estádio carioca (40,51% do total da cidade). Em Santo André, são 6.385 hectares de Mata Atlântica, aproximadamente 342 Maracanãs e 36,32% do total do município. Ribeirão Pires conta com 2.444 hectares (24,66%) ou 131 vezes o tamanho da praça esportiva.
Em seguida, vem Mauá, com 523 hectares (8,46%), o que equivale a 28 vezes o Maraca e, por fim, Diadema, que tem 63 hectares (2,03%), três vezes o tamanho do estádio.

O advogado especialista em Direito Ambiental e presidente do MDV (Movimento em Defesa da Vida do Grande ABC), Virgílio Alcides de Farias, pondera que vêm acontecendo desmatamentos em pequenas áreas que o satélite não enxerga e não contabiliza em Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Santo André, São Bernardo e Diadema. “Mesmo que estivesse estabilizado, não vem ocorrendo a devida recuperação dos remanescentes de Mata Atlântica e áreas de preservação permanente que ao longo de anos foram suprimidos. Para atender interesses imobiliários e eleitorais, os desmatamentos são entendidos como fato consumado.”

No Estado, Guarulhos foi a cidade que mais desmatou a Mata Atlântica entre 2014 e 2015, com a eliminação de 12 hectares.


Cidades destacam atos de preservação


Santo André e São Bernardo ressaltam ações de preservação da Mata Atlântica. Na primeira cidade, a fiscalização ambiental é feita parte pelo Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) e parte pela Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense.

A gestão de áreas protegidas, onde se concentra a maior biodiversidade e Mata Atlântica da cidade, se localizam nas UCs (Unidades de Conservação) do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba e do Parque Municipal Natural do Pedroso, ambos de classificados como UC de Proteção Integral, o que significa maior rigor de proteção. O Parque Natural Nascentes faz a conexão com o Parque Estadual da Serra do Mar.

“Para a fiscalização, o Semasa utiliza barco e helicóptero com saídas periódicas e também por terra. O objetivo é promover ações preventivas e corretivas para o combate à supressão irregular da vegetação, além de queima ou descarte de resíduos e caça de animais silvestres e pesca predatória”, fala a autarquia.

São Bernardo também ressalta a fiscalização como uma das principais ações de preservação. “A Secretaria de Gestão Ambiental conta com uma equipe exclusiva, que percorre constantemente as áreas de proteção ambiental, para inibir e controlar possíveis impactos”, afirmou. As demais cidades não responderam.

O professor doutor do Centro Universitário Fundação Santo André e coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Faeng (Faculdade de Engenharia Engenheiro Celso Daniel), Murilo Valle, salienta que é fundamental controlar as questões de uso e ocupação do solo, mas pontua que faltam profissionais para tanto. “De modo geral, não enxergo nenhuma ação programática dos entes públicos no sentido de formação continuada dos profissionais que atuam na área ambiental, o que permite uma efetiva ampliação do cabedal técnico e intelectual.” 




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