Em tempos de desemprego, a renda extra obtida
pode se transformar na principal fonte de recursos
Quem nunca pensou em ter uma fonte de renda extra para complementar os rendimentos mensais? Em momentos de crise econômica, como o atual, que impulsionam o desemprego, ter uma segunda fonte de recursos – ou extrair da atividade seu único salário – pode ser a garantia para enfrentar eventuais surpresas desagradáveis.
A venda direta é alternativa que tem sido adotada por muita gente no Grande ABC. Com a comercialização geralmente feita por meio de catálogos pela própria pessoa, que vai até os clientes apresentar os produtos que está comercializando, muitos conseguiram driblar a falta de trabalho e tornar o que antes servia como complemento ao antigo emprego em principal ocupação.
É o caso do ex-carpinteiro de São Bernardo Angelo Augusto Peppe, 35 anos. Com o salário da antiga profissão ele conta que mal conseguia pagar a documentação da moto e a pensão da filha. “Comecei porque precisava melhorar de vida. E então passei a vender para amigos, colegas de trabalho e familiares, mas percebi que poderia ir além, e passei a bater de porta em porta, vendendo para desconhecidos também. Foi quando, em pouco tempo, vi minha renda dobrar.”
Há dois anos como consultor da Luxor Cosmetic, empresa on-line de cosméticos, com o aumento das vendas, Peppe evoluiu dentro da empresa e hoje tem sua própria equipe, com consultores espalhados por todo o País, que ajudam a impulsionar seus ganhos. “Minha renda hoje gira em torno de R$ 5.000. Tenho meu carro, minha moto e minha meta é que, nos próximos três anos, eu consiga comprar a casa própria”, revela.
A diretora comercial da Luxor Cosmetic, Jan de Oliveira Marques, reconhece que a venda direta é um estímulo para a economia atual. “Não precisa de um local (físico) de vendas, o que reduz a carga tributária e resulta diretamente no preço final do produto, o qual o consultor da Luxor tem direito a 50% do total”, afirma Jan. A empresa expandiu, só em vendas diretas, 13% neste ano.
FACILIDADE - A flexibilidade das condições do trabalho foi o principal motivo pelo qual a são-bernardense Vanessa Gaudino Balthazar, 28, iniciou-se na venda direta. Começou como consultora da Mary Kay, firma de cosméticos especializada na modalidade, porque queria ter o próprio negócio. “Sou maquiadora e percebi que com um investimento pequeno, de R$ 1.000, poderia conseguir gerar renda, já que recebo 40% dos valores das vendas.”
Vanessa passou a comercializar os produtos no banco onde trabalhava, mas, com o aumento das vendas, decidiu pedir demissão para se dedicar totalmente aos cosméticos. “Igualei meu salário como bancária, que girava em torno de R$ 2.500, e sei que dedicando todo o meu tempo para a Mary Kay posso crescer ainda mais.”
Poder delinear o próprio salário, ter facilidade para comercializar em ambientes de convívio social e ter flexibilidade de horário estão entre as principais vantagens para a prática da venda direta. Entretanto, as opções de renda vitalícia e hereditária foram o que chamaram a atenção da Camila de Paula Miranda, 32, de São Bernardo.
“Comecei como consultora porque sou consumidora do produto, e queria ter os descontos que vão de 25% a 50%, dependendo do estágio que você atinge como vendedora. Mas quando li o plano de marketing, percebi que poderia ser uma ótima oportunidade de garantir o que equivale a uma aposentadoria”, explica ela, referindo-se à renda que recebe mensalmente por conseguir um cargo como supervisora na venda de produtos Herbalife.
Trabalhando em uma empresa familiar que enfrenta dificuldades financeiras, Camila aproveitou o momento para dedicar-se exclusivamente à consultoria. “Hoje faço parcerias com academias e salões de beleza, e chego a faturar de R$ 2.000 a R$ 2.500.”
Empresas do segmento esperam crescer até 20% neste ano
De acordo com a Abevd (Associação Brasileira de Venda Direta), no primeiro semestre de 2015 a modalidade cresceu 5,9% no Brasil e movimentou mais de R$ 18 bilhões. Nesse mesmo período, o número de revendedores chegou a 4,33 milhões, o que gerou crescimento de 2,9%, em relação aos primeiros seis meses de 2014.
A empresa de produtos de beleza Lumi Cosméticos atesta esse crescimento e afirma que neste ano já aumentou em 20% as vendas. “Hoje contamos com cerca de 174 mil revendedores cadastrados e mais de 1.600 distribuidores em todo o Brasil”, afirma a sócia-proprietária da Lumi Cosméticos, Natalia Antunes.
Ela comenta também que, junto com a expansão, o perfil de vendedores mudou. Antes eram donas de casa, que para ajudar nos custos domiciliares se utilizavam da prática. “Hoje, são pessoas antenadas que fazem a venda e divulgação on-line e que se capacitam para ser verdadeiros empresários, cadastram outros revendedores, formam equipes e oferecem treinamentos.”
“O mercado de venda direta pode ser oportunidade de renda em momentos de crise, pois oferece a oportunidade de carreira independente”, declara a gerente de desenvolvimento de vendas da Mary Kay, Rafaela Kammüller d’Almeida.
Neste ano, o ritmo de crescimento esperado para 2015 está muito próximo do resultado obtido em 2014. De acordo com a empresa, no ano passado eram 300 mil consultoras de beleza independentes, e até o momento chegou em 430 mil.
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