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Matarazzo: químicos criticam juíza
Por Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
30/03/2005 | 15:02
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A decisão da Justiça de provisoriamente desinterditar o complexo viário construído pela Prefeitura de São Caetano parcialmente sobre a área contaminada da desativada Indústria Química Matarazzo, no bairro Fundação, foi criticada pelo Sindicato dos Trabalhadores Químicos do ABC. Na década de 1980, a entidade travou luta pelo reconhecimento da contaminação por resíduos de BHC, benzeno e mercúrio, produto e substâncias tóxicas e cancerígenas, nos trabalhadores do setor químico da Matarazzo, desativada em 1985. A determinação foi dada segunda-feira pela juíza substituta da 5ª Vara Cível de São Caetano, Érika Ricci.

“Foi uma irresponsabilidade a juíza ter liberado uma área comprovadamente contaminada, principalmente por admitir não possuir conhecimento técnico. A própria Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) não liberou o terreno até hoje”, afirma Marco Antonio Guilherme dos Santos, secretário de Saúde, Trabalho e Meio Ambiente do Sindicato dos Químicos. Santos ressalta que vários laudos apresentados pela Cetesb apontaram altos níveis de contaminação no solo. “É uma tolice acreditar que foram removidos ou dissipados com o tempo. A situação que já era grave pode ter se agravado quando a área foi remexida. A articulação política da administração (municipal) funcionou.”

Segundo Guilherme dos Santos, o nível de concentração das substâncias no terreno da Matarazzo é hoje ignorado pelo Sindicato e pela própria Cetesb. Ele diz que a realização de um novo estudo da área é imprescindível, o que deve ser feito pela Prefeitura até o fim de junho. Porém, o técnico explica que o mercúrio (único metal líquido) é altamente persistente. “No organismo, os estragos vão desde problemas de fertilidade até neurológicos”, afirma. Quanto ao BHC, o químico diz que o produto tem traços de benzeno, substância liberada no meio do processo de produção do antigo inseticida. “As conseqüências podem alterar todo o funcionamento do sistema nervoso, causar lesão no fígado e leucemia”, explica.

Até o fim da tarde de terça-feira, a Prefeitura não havia retomado as obras do complexo viário. O tráfego só será liberado após a administração construir muro no entorno de todo o viário para impedir o acesso de pessoas ao terreno poluído; concluir a iluminação pública e sinalizar com placas de advertência sobre os riscos, exigências feitas pela juíza Érika Ricci para liberar a área. O químico Guilherme dos Santos questiona: “Será que um muro é suficiente?”.

Trabalhadores – Para o sindicalista, outra preocupação fica por conta dos operários que trabalharam na obra. “Eles ficaram expostos, inalaram o BHC quando removeram o solo.” Guilherme dos Santos afirma que não existem níveis seguros de exposição, pois depende do organismo de cada um. “Uma pessoa pode ficar 20 anos exposta ao benzeno e no 21º apresentar problemas. Outra pode ficar por três horas exposta e se contaminar. E quem mora no entorno também está exposto.”

Terça-feira, todos os requerimentos apresentados pelo vereador Edgar Nóbrega (PT) sobre o assunto foram rejeitados na Câmara pela bancada de sustentação do prefeito José Auricchio Júnior (PTB), inclusive o que aponta a necessidade de realizar exames nos operários da obra. “Vou à Promotoria do Meio Ambiente falar sobre a situação dos trabalhadores e de quem será o ônus financeiro da descontaminação da área”, diz. Nóbrega considerou “descabida” a desinterdição da obra. “A saúde da população está acima de uma inauguração”, ressalta. A Prefeitura pretendia inaugurar a obra nesta quinta-feira, o que foi descartado.

O Tribunal de Justiça informa que “a decisão de qualquer magistrado é passível de recurso” pelas partes envolvidas no processo. Quem não está envolvido pode entrar com representação junto ao Ministério Público.



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