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O calor está ruim?
Poderia estar pior

Quem trabalha direto no sol, com roupas pesadas
ou material quente, sofre neste verão fora do comum

Cadu Proieti
Do Diário do Grande ABC
10/02/2014 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Temperaturas acima dos 34°C, diariamente, clima seco e abafado. Não está sendo fácil aguentar o verão neste início de 2014. Se a tarefa é árdua até para quem passa boa parte do tempo no ar-condicionado, imagine a situação enfrentada pelos profissionais que atuam expostos ao sol, utilizam roupas e equipamentos pesados ou com material quente. A equipe do Diário percorreu as ruas da região para acompanhar a rotina desses trabalhadores que sofrem ainda mais com este calor fora do comum. 

É o caso de Felipe Alecssandro Teixeira de Souza, 29 anos, que atua na manutenção de rede elétrica. Ele fica o dia todo na rua fazendo reparos em fios de alta-tensão. Para se proteger de possível descarga elétrica, é preciso estar paramentado com roupas especiais que cobrem todo o corpo, luva grossa e capacete. Quando tira o equipamento, chega a jorrar suor de dentro das vestimentas.

“A empresa obriga a gente trabalhar com essa roupa e, neste calor, é insuportável. Mas temos de passar por isso, porque é padrão. Temos de utilizá-la por questão de segurança. É sofrido. Nunca passei por tanto calor como neste verão, está quente demais”, comenta o profissional.

Para o operário César Augusto de Campos, 57, que faz reparos em asfalto, a situação é mais complicada. Além dos trajes robustos, ele manuseia material quente: o piche colocado nas vias de Santo André. “Está complicado não só por causa do calor, mas também pela caloria do material que a gente trabalha. Fico suando demais. Trabalho com isso há 23 anos e nunca peguei um clima tão insuportável como está agora. Não tem o que fazer, a gente sofre um pouco mais mesmo, mas pedimos força a Deus para aguentar.”

Ficar dentro de um buraco também não é tarefa fácil. Neste verão, é como estar num forno. Pois é exatamente esse o trabalho de Jacinto Antônio de Paula, 57, que atua na manutenção na rede de esgoto. “Essa é nossa batalha. Não é moleza, não. Mas é nosso ganha-pão, que leva comida para dentro de casa. Alguém tem de fazer o serviço, então, não tem como fugir”, afirma. Ele até brinca com a situação. “Com este calor, chego em casa bronzeado e minha mulher pergunta se fui à praia.”

SAÚDE

De acordo com o médico Marcelo Ferreira, diretor do AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Mauá, a exposição a períodos de calor intenso constitui agressão para o organismo, podendo conduzir ao agravamento de doenças crônicas, originar cãibras, desidratação ou até o esgotamento.

O especialista recomenda que sejam feitas refeições leves e mais frequentes, utilização de protetor solar e tomar bastante água.

 
 

Alta temperatura prossegue até início da próxima semana

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a onda de calor nas regiões Sul e Sudeste do País vai prosseguir até o início da próxima semana. “Deve continuar abafado de quinta-feira até domingo, mas, na semana que vem, voltaremos a ter chuva de verão nos fins de tarde, com pancadas na maior parte dos dias”, comenta o meteorologista do instituto Marcelo Schneider.

O especialista explica que o que vem provocando as altas temperaturas é um bloqueio atmosférico, que impede a umidade da Amazônia e a brisa do Atlântico Sul de chegar ao Sul e Sudeste. “Esse padrão até acontece no verão, mas neste ano está acima da normal”, disse Schneider.
 

Enquanto isso, funcionários de fábrica de sorvete se refrescam

Se para quem trabalha exposto ao sol ou com roupas e equipamentos quentes está ruim, para os funcionários de uma fábrica de sorvetes no Centreville, em Santo André, a situação é diferente. Com climatização de ambiente entre 10°C e 15°C para não comprometer a produção do produto, o contraste entre a temperatura interna e externa é imensa. “Neste calor não dá vontade de sair daqui para nada. Às vezes, precisamos buscar o almoço, mas evitamos ir para não enfrentar esse bafo quente lá fora. Está demais”, comentou o dono da empresa, Rogério Sabatini, 49 anos.

Atuando na área há cerca de 20 anos, o tempo quente incomoda o proprietário, já que convive constantemente com o frio. Uma prova disso é que, quando precisa entrar na câmara fria, onde os sorvetes são estocados e a temperatura fica em torno de 23° a 25° negativos, ele entra de camiseta regata sem problemas, enquanto os funcionários vestem jaqueta para adentrar o espaço. “Já estou acostumado, mas sei que isso não é bom, precisa ter proteção para entrar aqui.”

O forte calor tem feito Sabatini suar a camisa mesmo em ambiente frio. Ele relatou que tem trabalhado das 5h à 0h, sem parar. “Estamos produzindo além do nosso limite, as máquinas estão sobrecarregadas e quebrando. O calor veio forte demais e me complica. Não estamos dando conta de tanto serviço”, disse Sabatini. Durante os 40 minutos em que a equipe do Diário esteve na fábrica, dezenas de clientes passaram pelo estabelecimento em busca do produto para se refrescar. 




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