Os bastidores acadêmicos no Grande ABC estão fervendo desde que, no domingo, o <CF52>Diário</CF> revelou o avanço da Universidade Nove de Julho sobre a Universidade Municipal de São Caetano na disputa por espaço no programa de estágios de medicina em equipamentos públicos são-caetanenses. O protagonismo exercido no episódio pelo médico José Auricchio Júnior (PSDB), ex-prefeito mantenedor da USCS e atual funcionário da Uninove, turbinou a polêmica. Enquanto a maioria da população enxergou no fato uma traição do tucano à cidade que ele governou por três mandatos, o vereador Américo Scucuglia (PTB) viu tráfico de influência – o que transforma o caso em crime.

Tráfico de influência está tipificado no Código Penal. Lê-se, no artigo 332, que é praticado por quem “solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função”. A tese de Scucuglia é a de que Auricchio teria se aproveitado da proximidade que mantém com o interino Tite Campanella (Cidadania), a quem o tucano fez prefeito em uma de suas mais recentes – e famosas – ingerências nas prerrogativas do Legislativo, para driblar a legislação são-caetanense e colocar na disputa pelas vagas de estágio nas unidades de saúde municipais a universidade privada que lhe paga o salário.

É triste saber que apenas um vereador levanta a voz em defesa dos interesses da USCS, uma universidade municipal com caráter regional na prestação de serviços à comunidade. Pior ainda é ver o líder do governo na Câmara, Gilberto Costa (Avante), discursar contra a instituição da própria cidade, citando um “monopólio” que só existe em sua cabeça de bajulador de políticos com quem vivia às turras até bem pouco tempo atrás. O que querem os políticos – e até mesmo dirigentes e professores da escola – de São Caetano com o silêncio? Que grandes organizações educacionais, sem nenhum compromisso com a qualidade, devastem um dos principais orgulhos do Grande ABC? Lamentável.