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Jovens da Fundação Casa testam
conhecimento na olimpíada de matemática

Em meio a equações, internos contam também dias para reconquistar a liberdade; inscrição é igual à de demais alunos de escolas públicas e privadas

Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
04/07/2021 | 00:36
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André Henriques/DGABC


Sessenta. Este é o número mais importante atualmente para Guilherme (nome fictício), 19 anos, que cumpre medida socioeducativa na unidade II da Fundação Casa, de Santo André, e que é um dos participantes da Obmep (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas). Apesar de apresentar facilidade com equações e frações, 60 é o número de dias que ele ainda precisa cumprir antes de sair da reclusão.

Junto de Guilherme, outros 51 jovens da unidade também se inscreveram para participar da disputa aritmética que está em meio à primeira etapa de provas e segue até o dia 3 de agosto. No Estado de São Paulo, 3.360 jovens, em 88 unidades, estudam para a olimpíada.

Foi lidando com os números que Guilherme percebeu que pode resgatar o tempo perdido, assim que der o primeiro passo fora da Fundação Casa. Por meio das aulas que recebe na unidade, o jovem consegue calcular futuro com a multiplicação de ações positivas.

“A primeira coisa que farei quando sair daqui é abraçar meus pais. Depois quero me inscrever em um curso de radiologia e voltar a jogar bola”, declarou o interno. Além de matemática, Guilherme diz que aprendeu uma coisa ainda mais valiosa e que utilizará no dia a dia. “Aqui eu também aprendi o que é empatia e eu vou exercitar isso diariamente”, disse o jovem, olhando para a janela, como se já buscasse a liberdade.

A olimpíada, destinada a estudantes de escolas públicas e particulares, possui duas fases. A prova é aplicada pelos professores das instituições de educação básica inscritas. Nos centros da Fundação Casa, serão os professores da rede pública estadual, via escolas vinculadoras, que aplicarão as provas. Ainda que estejam cumprindo medida socioeducativa, os jovens da unidade II estão matriculados na EE (Escola Estadual) Padre Agnaldo Sebastião Vieira, que fica próxima à instituição.

O jovem Felipe (nome fictício), 17, também demonstrou facilidade em lidar com números. Ansioso para receber a prova da olimpíada e colocar em prática tudo que aprendeu nos últimos meses, o adolescente, que já participou da disputa em anos anteriores, espera conseguir avançar à segunda fase, o que nunca foi possível. “Quando chegam aquelas contas que misturam muitas coisas, aí complica um pouco”, relatou. “Mas estou estudando para passar, acho que desta vez eu consigo.”

Com comportamento mais tímido, o jovem Cléber (nome fictício) é outro participante da olimpíada, mas, assim que dá início à sua fala, diz que prefere história e português. “Participei da olimpíada em outros anos e não fui muito bem, a intenção é sempre melhorar.” O jovem é mais um que entendeu que os estudos o ajudaram a se compreender melhor e que isso seja o maior aprendizado. “Percebi que passei a ter autocontrole e analisar melhor as situações”, disse. No entanto, o número que lhe traz mais ansiedade é 89, que são os dias que ainda lhe resta a cumprir.

Para o diretor da Fundação Casa de Santo André, André Luiz Martins Barboza, a chance de os jovens participarem da olimpíada é mais uma ferramenta oferecida aos internos para que eles tenham acesso a oportunidades que os façam ter vida melhor. “Aqui na unidade prezo para que os jovens tenham acesso a tudo que os alunos de uma escola estadual têm. É nosso dever entregá-los aos familiares muito melhores de quando chegaram aqui”, declarou.
 




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