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Sentimentos na parede

Grafiteiro da região cria mural de 30 metros que tem como inspiração expressões de índios

Por Karine Manchini
19/11/2017 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 O dom veio desde cedo, enquanto rabiscava em seu caderno e na lousa da escola. Desde aquela época Edson Jesus da Silva, 47 anos, de Diadema, já sabia o que queria. Mais conhecido como Edinho, o artista plástico e muralista começou na carreira reproduzindo desenhos que passavam na televisão e copiando logos de suas bandas de rock favoritas dos anos 1980. Em 1989, entrou para o mundo do grafite e, desde então, sua profissão é fazer exposições, intervenções e decorações de espaços corporativos e particulares.

Recentemente criou o desenho Brasilidades, que tem tamanho de 30 metros de comprimento e quatro de altura, em que retrata índios, em muro na Rua Bilac, em Diadema. “Neste mural quis abordar o massacre e a discriminação. O interessante de pintar neste local é que antes havia letreiro de propaganda publicitária que, por motivos de leis municipais, foi apagado. Em seguida fui convidado pelo anunciante para fazer intervenção naquele espaço. Fiquei grato e aceitei.”

Antes de começar nesta arte, Edinho fazia pichações, mas não guarda boas lembranças da época. “Fiquei dois anos na pichação, fiquei e nunca ninguém me pegou, mas tive que correr muito de tiros e já fui roubado. Isso fez com que eu sentisse vontade de parar”. Partindo para o grafite, escolheu técnica específica para trabalhar em seus desenhos, gosta de pintar rostos e animais, como cachorros e gatos. Usa a stencil art, que consiste em colocar nos muros ilustração ou símbolo por meio de aplicação de tinta, corte ou perfuração em papel.

Os traços de Edinho estão espalhados pelo Brasil e pelo mundo. É possível encontrar sua arte em muros da Capital, Minas Gerais, Espírito Santo, Sergipe, Pernambuco e Rio de Janeiro. Além dos que estão expostos na Argentina, Itália, Estados Unidos e Espanha. “Atualmente estou usando muito preto de fundo, pois simboliza luto, revolta, ódio e vazio. Fico de luto quando índios e crianças são brutalmente assassinados. Mas uso cores, pois mesmo nessas situações surge esperança”, diz o artista, que completa: “Cada cor é uma pessoa representada. Mesmo no escuro, se quisermos nos unir, conseguimos. Não podemos ser individualistas, a união das cores é o amor ao próximo. Assim fazemos um mundo melhor”.

Segundo ele, ser artista no Brasil é difícil, principalmente nos últimos tempos em que grafites foram apagados em diversas cidades, principalmente na Capital, depois da ordem do prefeito João Doria (PSDB). Mesmo assim, considera a arte possível por aqui. “A tinta spray é muito cara, as importadas têm taxas abusivas. O poder público tirou grafites na Avenida 23 de Maio como se fossem uma coisa qualquer e sem nos consultar. Ali foi investido dinheiro do povo. Mas foi bom que ele (João Doria) voltou atrás depois da repercussão da mídia e protesto de alguns artistas”, explica.

Representando o Dia da Consciência Negra, Edinho está preparando mural na Av.São José, em Diadema. Para conferir trabalhos do artista, acesse o Instagram (@edinhostreet).




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